“Porque é que David Neres não é a solução que o Benfica precisa nesta fase da época?”

Roger Schmidt, tem na gestão da titularidade David Neres, um grande desafio transversal a todos os treinadores. Na perspectiva do “mapa” do jogo, ou seja, vendo o jogo à luz dos seus momentos, o treinador Alemão com certeza reconhecerá ao brasileiro tremendo potencial em Transição e Organização Ofensiva e lacunas em Transição, mas principalmente em Organização Defensiva. De facto Neres, apresenta nesta perspectiva, um grande desequilíbrio nas suas qualidades e parece-nos a principal razão para que Schmidt o esteja a manter fora do onze, procurando uma abordagem inicial aos jogos mais equilibrada.

Neres mostra inequivocamente qualidades invulgares em sub-momentos de criação e de contra-ataque, especificamente no 1×1, criatividade, no último passe, cruzamento, na condução diagonal interior, na combinação e na finalização. Porém, a sua reactividade na perda da bola não é constante, a recuperação defensiva lenta, o equilíbrio emocional em momento defensivo também não é o ideal e em momentos de pressão, fá-lo por vezes com insuficiente intensidade. Intensidade… fruto do deslocamento e agressividade, mas antes disso, do critério que se garante a essas acções.

Deste modo, estamos perante o dilema que retrata a decisão entre o “clássico” jogador “da rua”, com todas as suas raras qualidades e as suas debilidades, e um jogador mais equilibrado sob todos os pontos de vista, competente nos momentos defensivos, criterioso com bola para que a equipa não a perca com facilidade e “viaje junta”, não só de forma a permitir constantes múltiplos apoios ao portador da bola, mas também para que quando de facto a perca seja mais fácil a sua imediata recuperação, dada a densidade de jogadores que coloca nesses espaços. “Viajar juntos” tal qual Alejandro Sierra se referiu ao Sevilha de Sampaoli, mas podemos acrescentar o Barcelona de Guardiola, o Ajax de Louis van Gaal entre outros exemplos.

Daí que a decisão de Schmidt seja colocar jogadores originários ou igualmente com perfil de Médios-Centro na funções de Médios-Laterais. Por isso, e porque na realidade, em Organização Ofensiva, estes jogadores acabam por apresentar, na maioria do tempo, posicionamentos interiores, nos quais Neres também apresenta muita qualidade, porém, parece-nos que é pelos corredores laterais que o brasileiro apresenta maior potencial de criação, nomeadamente nas competições internas com equipas que se fecham muito e por vezes bem na maior parte dos jogos.

O desafio maior seria acrescentar as qualidades em falta a Neres, porém, perante o perfil que conseguimos identificar, será um objectivo extremamente ambicioso e que trará outros riscos. Por exemplo, Jorge Jesus tem neste domínio, no seu histórico, exemplos de sucesso, mas também acumula outros que acabaram por ditar a perda de inúmeros talentos de perfil idêntico nas suas equipas. Para ambos os casos, muito à custa de uma Liderança autoritária e autocrática, longe da que Roger Schmidt protagoniza. No fundo, independentemente de também dever ser o papel do treinador de Rendimento, formar e potenciar, o seu primeiro objectivo deverá ser fazer render e gerir os seus valiosos recursos. Ao invés do treinador de Futebol de Formação.

Schmidt tem optado por outro caminho sempre que dá a titularidade a Neres. Coloca-o como Avançado, o que implicará menos riscos nos momentos defensivos da equipa. Aliás, tal como fez com Rafa. Mas como Ramos e Rafa têm realizado as eventuais melhores épocas das suas carreiras, a vida de Neres no que toca à titularidade da equipa, não se apresenta fácil.

 

Opinião solicitada para o artigo “Porque é que David Neres não é a solução que o Benfica precisa nesta fase da época?” do site MaisFutebol. Artigo completo em:

https://maisfutebol.iol.pt/benfica/liga/porque-e-que-david-neres-nao-e-a-solucao-que-o-benfica-precisa-nesta-fase-da-epoca

Bibliografia

Sobre Ricardo Ferreira 47 artigos
Apaixonado pelo jogo desde a infância, foi o professor Francisco Silveira Ramos que lhe transmitiu o mesmo sentimento pelo treino. Como praticante marcaram-no as experiências no futebol de rua. No jogo formal, as passagens pelo Torreense no Futebol, e no Futsal pelo Ereira e Benfica e Paulenses. Teve experiências como treinador e coordenador na Academia de Futsal de Torres Vedras e Paulenses (Futsal), em simultâneo, durante três anos. No Torreense durante seis anos, depois uma época no CDA, duas no Sacavenense e outras duas na Academia Sporting de Torres Vedras. Foi também, durante seis anos, coordenador de zona no recrutamento do Futebol de Formação e Profissional do Sporting Clube de Portugal. Posteriormente trabalhou dois anos como Coordenador Técnico no Futebol de Formação do Sport Lisboa e Benfica. No seu último trabalho, de regresso ao Sport Clube União Torreense, acumulou a liderança dos Sub19 e funções técnicas na equipa senior, equipas nas quais se sagrou Campeão Nacional na primeira edição da Liga 3, acumulando, no mesmo ano, mais duas subidas de divisão, à Segunda Liga e à Primeira Divisão Nacional de Sub19, totalizando sete promoções ao longo de toda a carreira. Foi co-autor do livro "O Efeito Lage" e é fundador do projecto www.sabersobreosabertreinar.pt.

1 Comentário

  1. Humm, por acaso até acho que o Neres tem maior reação à perda que o Rafa. Um Rafa que tem estado muito mal nos últimos jogos. Aliás está mal já há bastante tempo.

    Percebo o texto, mas se tinha funcionado no início da temporada até ao mundial, porque não agora? Cero que não há Enzo para dar um outro equilíbrio, mas não poderia Aursnes fazer o papel de Enzo? Mas com características diferentes, principalmente a nível ofensivo em construção criatividade e passe longo

1 Trackback / Pingback

  1. Uma validação da proposta de análise qualitativa e o todo… sempre diferente da soma das partes. O exemplo do Benfica com Di María, Neres e… Rafa. | Lateral Esquerdo

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