Modelo Gyöcêntrico

A teoria geocêntrica reza que a Terra é o centro do Universo e que todos os corpos restantes giram à volta da mesma. Uma hipótese que, mesmo resistindo ao teste do tempo (como muitas das absurdidades que nos assolam ainda hoje), acabaria por findar pela evidência. Algo que serve de aviso a um Sporting que é hoje, claramente, Gyöcêntrico – visto que todo o seu futebol gira à volta do fantástico Viktor Gyökeres. E porque não, perguntará Rúben Amorim. Afinal de contas, as valências do sueco são tão variadas que fará sentido usá-las o mais possível. O fim da teoria estará lá mais para a frente, quando os adversários arranjarem antídoto, ou quando, inevitavelmente, Viktor for vendido por uma catrafada de milhões (se conseguir mostrar na Europa a imponência que tem mostrado na Liga). Pois bem, esse será um problema para o Amorim do futuro, porque o presente é o de um Sporting que procura, e bem, Gyökeres na profundidade, Gyökeres como referência para segurar ou esticar a equipa (para) mais perto da baliza do adversário e Gyökeres na área para finalizar. E se isto já seria muito, o viking dá ainda aquela força extra na pressão às saídas e na reação à perda – algo que foi fundamental para os leões ficarem com os três pontos no Alvalade XXI nesta recepção a um Gil Vicente bom de bola.

Bola parada muitíssimo bem trabalhada pelo Gil para afrontar a linha zonal sportinguista. Olhos de Gyökeres estão na bola, e a primeira aproximação de um gilista distrai o suficiente para a entrada de rompante de Rúben Fernandes, excelente a ganhar a frente e a finalizar. O viking do Sporting, aqui, a provar do próprio veneno – ele que haveria de vingar-se, mais à frente.

Uma partida que começou com um Sporting intenso mas não tão agressivo assim que não deixasse o Gil Vicente assentar o seu jogo e respirar. Não foi uma camisa-de-forças para prender um Galo que haveria de cantar (aos 34′, num livre que premiou o tempo com bola que ia conseguindo). Até lá o Sporting até colocou o 541 do Gil (com Félix Correia a fechar a ala direita na linha defensiva) em apuros, com as insistências pelo lado direito, onde Esgaio, inspiradíssimo, foi fugindo e cruzando. E em todas essas incidências estava lá também (obviamente) Viktor Gyökeres em múltiplas funções. Foi assim na jogada, aos 2′, que obrigou Félix Correia a corte esforçado, ou na desmarcação lesta demais que parecia ter aberto o activo, aos 9′ (o VAR interviu e adiu os festejos do sueco para mais tarde).

Sporting com entrada forte a beneficiar desse ritmo para criar oportunidades. Esgaio sempre muito activo na direita e Gyökeres a aproveitarem os momentos em que o Gil transitava do ataque para a defesa – sendo que o seu 541 precisava de um ala para completar a linha defensiva.

E a verdade é que o jogo desta segunda-feira mostra-nos também uma lição. Já referido foi o facto do Sporting entrar alto e pressionante. Contudo, e cada vez mais, na Liga Portuguesa é nas situações de contra-pressão que se criam as melhores oportunidades. Isto porque as equipas estão cada vez mais afinadas na organização defensiva mas não descuram a organização ofensiva. E o Gil é um dos bons exemplos da Liga. Ou seja, se a pressão não for realmente agressiva, eventualmente, o adversário solta-se e começa a circular à procura do seu golo. Algo que aconteceu. Não só o Gil se soltou e teve tempo de jogo ofensivo, como, ao aproveitar uma das incursões pelo meio-campo ofensivo, viu Félix Correia criar uma linha de passe que ninguém desviou (13′), como ganhou ainda o livre que haveria de dar hipótese ao experiente Rúben Fernandes de fugir a Gyökeres e abrir o marcador (31′). Um duelo deveras interessante mas que ninguém pensaria que, na 1.ª parte, penderia para o experiente central.

O lance integral do segundo golo do Sporting mostra as várias fases onde a equipa subiu um degrau na agressividade: na pressão e na reação, os leões foram intratáveis e provocaram um condicionamento que os gilistas só tinham experienciado na 1.ª parte a espaços. Um forcing leonino que se estendeu desde o apito inicial da etapa complementar e que teve o seu auge no primeiro golo de Viktor Gyökeres na partida e que aproximou muito mais o Gil do erro: o de Fujimoto ao início do lance e o de Félix ao fim, são exemplos disso. Destaque também para Hjulmand – determinante na contra-pressão e no cruzamento – que no geral personificou uma equipa toda ela muito mais preparada para o duelo e para partir o jogo neste início da 2.ª parte.



Uma desvantagem que o Sporting rectificou (43′) depois de um remate, de pé-direito, de Nuno Santos desviar em Pedro Tiba e trair o guardião do Gil. Contudo, o ataque à vitória só haveria de vir depois de Rúben espicaçar realmente os seus para prenderem, finalmente, o Gil à sua área. Depois, também, de fazer duas alterações: Esgaio, que estava a fazer uma das melhores exibições com a camisola leonina, e Inácio (não tão preponderante e fresco como de costume) deram lugar a St. Juste e Geny. Mas a verdadeira mudança foi a forma realmente agressiva como os leões procuraram os golos que, obviamente, não tardariam a acontecer. E aqui o tal gyöcêntrismo explicará que todos os que não só condicionaram, os que pressionaram (e contra-pressionaram) giraram à volta do avançado mais fiável e completo de há vários anos para cá na Liga. Sem surpresa, Viktor não só bisou, como fugiu, carregou, e prendeu a equipa onde ela deve estar: no meio-campo ofensivo a girar à volta das suas imponentes capacidades e excelente momento físico e mental.

Sporting-Gil Vicente, 3-1 (Pedro Tiba a.g. 43′ e Gyokeres 52′ e 56′)

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