Pepe Ilegal

Ponto prévio: esta não é uma página que visa promover e aproveitar-se da subjectividade que se criou em relação à arbitragem de jogos de futebol. Um exercício que pode ser encontrado em milhentos fóruns e em intermináveis opiniões e comentários que, na maioria das vezes, mais não são do que a tentativa de validar agendas pessoais e clubísticas em lances que, muitas vezes, nem sequer são dúbios. Contudo, o lance em que Pepe é expulso, nesta segunda-feira, no Sporting-Porto que terminou com a vitória dos leões, salta para título porque não há grande discussão a ter-se. O lance é de facto determinante, e a intempestiva reação de Pepe que lhe valeu a expulsão, determinou que a melhor equipa na 1.ª parte pudesse aproveitar o facto de, na segunda metade, os ataques portistas terem muito menos potencial para criar situações próprias do que situações para… o Sporting. Por tudo isso, este é um lance determinante para o resultado final, mas que não invalida, nem relega para segundo plano, uma prestação leonina que, no cômputo geral, foi superior à dos dragões.

Como forma de encaixar no sistema leonino, o FC Porto apresentava (a espaços) uma linha de cinco (com Galeno a fechar a esquerda). Na jogada que criou o primeiro golo do Sporting, essa linha é desenhada mas a desmarcação de Gyökeres, pelo meio dos centrais, confunde a linha e cria o desnorte para Pepe não ter dobra depois de ser batido pelo sueco.

Quando Gyo bate Pepe tem duas possibilidades. A primeira, e aquela que todos vimos, é partir para o golo. Mas também a fuga de Edwards – mais rápido que Zaidu (sendo que Galeno desapareceu da jogada) – podia dar opção de golo ao sueco. Um melhor posicionamento de Zé Pedro poderia condicionar extremamente as duas opções de Viktor. De se notar é também a alguma estupefação criada quando o avançado bate Pepe no lance – que fica evidente na falta de reação de Diogo Costa e Zé Pedro.

Foi, sem dúvida, um Sporting bem preparado que viu, por isso mesmo, correr a primeira parte a seu favor. Desde logo pelo encaixe – que criou imensas dificuldades à organização ofensiva do FC Porto – como também pela imponência nos duelos. Algo que se pôde observar nos embates entre Matheus Reis e João Mário, como se denotou desde logo pela imponência de Hjulmand no miolo (ganhando imensas bolas para transição ofensiva) mas também entre Galeno e… Eduardo Quaresma. De facto, olhando para o onze do Sporting, foi a inclusão de Quaresma no lado direito da linha de três centrais que mais surpresa causou. Isto porque, até esta segunda-feira, as ações do jovem central nunca tinham causado grande espanto quando envergou o símbolo do Sporting CP ao peito. Mas vendo a forma como foi abordando os duelos com o jogador mais explosivo dos adversários, denota-se desde logo o trabalho e a intenção que terá havido durante a semana para esses momentos do jogo. Em teoria (pelo que nos tinha dado a conhecer) Eduardo Quaresma seria a peça mais permeável nesse aspecto. Mas em todo o decorrer da primeira-parte, o central tornou-se impermeável: rápido, decidido e intenso, participando também por um par-de-vezes no ataque (criando, por exemplo, a situação de golo que o VAR haveria de anular posteriormente).

Lance do golo anulado ao Sporting, na primeira-parte, espelha a toada desses 45 minutos iniciais. FC Porto com poucas linhas de passe, algo engolido pela organização leonina, e Sporting a aproveitar as transições. De referir também o modo enérgico e a mentalidade que se notaram em Eduardo Quaresma, condições que foram importantes para o Sporting ganhar a maior parte dos duelos e retirar aproveitamento ofensivo disso enquanto confundia a defensiva portista.

Um Sporting que roubou assim espaço ofensivo ao FC Porto e que via do outro lado do campo o seu habitual porto seguro. Viktor Gyökeres, mais uma vez, foi determinante e, praticamente sozinho, confundiu todo o eixo defensivo dos dragões. Intratável e impossível de abordar sem que a bola lhe vá parar aos pés depois dos ressaltos, as suas correrias e deambulações tornaram-se impossíveis de travar, sendo que já causa cada vez menos surpresa a forma como inaugurou o marcador, como pouco espanto causará também a forma como finalizou para o tal golo anulado que Eduardo Quaresma criou pela lateral-esquerda. Um lance que motiva as tais discussões de que falávamos acima, e para o qual encontrará os pontos-de-vista que quiser encontra nos milhentos fóruns que vivem do assunto. No entanto, o comentário que realmente interessará, e que fez história no jogo, é que o Sporting não levou uma vantagem de dois golos para o balneário, mas levou a vantagem de ter bloqueado o FC Porto a uma só ocasião de golo (em ângulo difícil para Galeno) e a clara vantagem de estar por cima em vários aspectos do jogo.

A inferioridade numérica criou dilemas que o FC Porto dificilmente poderia resolver. A cada perda de bola, e a cada duelo perdido, abria-se a possibilidade de uma via para o golo do adversário. Aqui, depois de bater Taremi e com a bola descoberta, Geny Catamo vê uma linha defensiva em inferioridade e três opções para criar situação (escolheu Gyökeres, naquela que foi a jogada em que o Sporting encontrou o segundo golo)

Ao FC Porto restava a reação que a expulsão de Pepe acabaria por castrar. Com menos um elemento veio ao de cima o habitual brio portista de nunca dar nenhum jogo por perdido, mas o aproveitamento da, também habitual, quebra leonina (que chegou a acontecer) não teve aproveitamento visto que a cada ataque portista (alguns que chegaram até ao último terço, mas que falharam por pormenores) a preocupação sobre o que poderia vir a seguir condicionou demasiado. A linha defensiva era agora algo descaracterizada e a forma como se expunha depois de algumas perdas de bola permitiu saídas que prometiam um resultado mais dilatado para o Sporting – enquanto que o orgulho próprio do FC Porto empancava no último passe, na finalização e, sobretudo, na exposição obrigatória de uma linha defensiva que ficou obviamente descaracterizada e permeável depois dos ajustes que a inferioridade numérica provocou.

Quem acompanha o Sporting sabe das quebras recorrentes em cada jogo, havendo sempre uma fase do mesmo onde os leões parecem perder a concentração que os levou aos bons períodos. E mesmo com as situações perto da baliza do FC Porto a sucederem-se, essa irregularidade voltou a notar-se no Sporting, com o FC Porto a aparecer em várias situações que poderiam ter tido outro desfecho (sendo que a de Fran Navarro não está documentada no vídeo). Um FC Porto ao qual a inferioridade numérica não permitiu, porventura, ter aproveitado melhor essa quebra, e ter estancado melhor as investidas de um Sporting que também poderia ter marcado mais golos.



Sporting-FC Porto, 2-0 (Gyökeres 11′ e Pote 60′)

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