Um passo atrás para (tentar) dar dois em frente

Num regresso aos contornos altamente estratégicos, o FC Porto de Sérgio Conceição encontrou aquele equilíbrio tão próprio de Champions e secou de sobremaneira um Braga que não resistiu a uma teia portista que criou e aproveitou os erros da saída de bola arsenalista. E se por aqui temos dito que baixar as linhas de pressão pode ser (uma) solução para este FC Porto, esta recepção aos bracarenses comprova-o, visto que, dando oxigénio às saídas do adversário, os dragões passaram uma batata-quente a uma estratégia que, quando planeada por Artur Jorge, certamente não contemplava ver a sua organização ofensiva ficar presa à metade defensiva do campo por tanto tempo na primeira parte.

Linha média do FC Porto deixou os centrais do Braga construírem e juntou Evanilson a Pepê, Nico e Varela. Um conjunto reforçado que fez cerco a Vítor Carvalho e João Moutinho. Galeno e Francisco sobravam para uma possível compensação no miolo e para activarem a pressão quando a bola chegava aos laterais. Tudo ao mesmo tempo que se impediam linhas de passe para trás da linha de pressão.


Repetindo o mesmo onze que venceu, e convenceu, na Amoreira, Sérgio Conceição montou, como já referimos, uma teia mais baixa no campo, mas que, quando recupera a bola, estica com mestria e rapidez. E, mesmo que o primeiro golo dos portistas tenha surgido de uma bola parada (Fábio Cardoso, 12′), foi esse mesmo pressing mais baixo que foi dando aos da casa um controle quase absoluto do jogo e que durou, sem contestação, até perto da meia-hora de jogo. Uma estratégia que visava, como todas em teoria, potenciar os pontos fortes da própria equipa e minimizar (ou pulverizar neste caso) os pontos fortes do adversário, não esquecendo o aproveitamento dos pontos fracos desse mesmo oponente. E o SC Braga, já sabemos, é um caso sério de eficácia quando, com bola, no meio-campo ofensivo. Mas, para mal dos de Artur Jorge, apresenta também várias lacunas na 1.ª fase de construção. E ao dar liberdade aos centrais para iniciar a saída, Sérgio armou a teia aos laterais e centro-campistas, com um pressing que recuperou várias bolas altas e, lá está (e não menos importante), bloqueou as chegadas dos arsenalistas ao meio-campo ofensivo (que é onde realmente o poderio deste Braga pode fazer mossa).

Com Evanilson, Pepê, Francisco e Galeno, o FC Porto ganha ordem para acelerar no momento de transição ofensiva. Mesmo em bolas ganhas no meio-campo defensivo, a condução e entendimento em velocidade são armas a não descurar. Uma estratégia que a espaços pode ser extremamente útil e não só em ‘etapas de montanha’ (sublinhe-se a espaços para não descaracterizar um FC Porto que gosta de prender os adversários ao último terço, mas que pode agora desorganizá-los de outra forma, oferecendo a espaços a bola).


O tal poderio do Braga mostrou-se, a espaços, mais à frente, provando que a estratégia do FC Porto era a acertada. Um Porto a jogar à Champions e sem intenções de ganhar concursos de estética, altamente objectivo e que entrou em campo, claramente, para não ver Benfica e Sporting cavarem ainda mais distância, desta feita para números que poderiam ser incomportáveis – o FC Porto entrou para este jogo com Benfica a sete pontos de distância e com o Sporting a oito. Ganhar fosse como fosse era então a palavra de ordem, ainda mais contra um Braga que, quando a intensidade portista baixou e o pressing perdeu alguma eficácia, mostrou o que pode fazer. Valeu Diogo Costa (32′), dando o mote para uma segunda metade que começou com nova vaga de pressão e contrapressão exigida, ao intervalo, por Sérgio, num desiderato que criou – após Borja ceder a essa intensidade – o segundo golo (Evanilson de grande penalidade, 49′). Uma vantagem que dobrou mas que não fez esquecer o lance de Ricardo Horta na primeira parte (o tal que Diogo Costa travou aos 32′). O FC Porto passou então a fazer o que, muitas vezes faz na Champions (já o dissemos?), e baixou os alas para ajudar a linha defensiva. Algo que impediu as tais saídas que Pepê, Francisco, Galeno e Evanilson proporcionam (Porto acabou com Borges, Martínez e Jaime) e que travou com eficácia a tal perigosa, e goleadora, organização ofensiva de Artur Jorge – que a partir daí se exibia já no meio-campo ofensivo. Uma exibição controladora, camaleónica e altamente realista (por ter tido o condão de travar o adversário em diferentes fases e com o mesmo sucesso), uma exibição, dizia, que deixa o mote para momentos de jogos em que o adversário se amontoa no último terço. Pode o FC Porto com este tipo de onze, dar um passo atrás no campo, passar a batata-quente, forçar e esperar erros do adversário para o apanhar desorganizado, ao invés de estar constantemente a bater em muros altamente intensos e desenhados para engarrafar e desacelerar os dragões. Algo que lembraria certamente um FC Porto que até foi tricampeão com uma estratégia que, a espaços, fazia algo semelhante pela mão (e mente) do Mestre da Transição Ofensiva: o Professor Jesualdo Ferreira.

Início da segunda metade trouxe um FC Porto a querer resolver cedo. A intensidade que tinha baixado depois da meia-hora voltou para forçar erros no Braga e partir a sua 1.ª fase de construção em 2. Médios e laterais bracarenses sem muitas hipóteses de fugir à teia, e Evanilson a guiar centrais para fora. E se na primeira saída o Braga não arriscou, à segunda o erro de Borja foi suficiente para Evanilson disparar.

Por toda a segunda parte foi mais notório o baixar dos alas do FC Porto. Ora para posições mais baixas no meio-campo, ora para junto da linha defensiva (individualmente ou em conjunto, Galeno e Borges faziam linha defensiva de cinco ou de seis conforme a possibilidade de a bola entrar no corredor ou de a bola ser cruzada). Uma opção que tirou aquele fulgor na transição ofensiva mas que deu primazia a um controle mais sem bola visto a vantagem ser de dois golos por toda a segunda metade.

FC Porto-SC Braga, 2-0 (Fábio Cardoso 12′ e Evanilson 49′ g.p.)

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