No seguimento do brilhante texto do Blessing Lumueno “A ordem e o caos. O jogo pertence aos jogadores”, e de algumas discussões recentes pelas redes sociais, recordei a forma como tantos “tecnocratas” pretendem explicar um jogo de emoções apenas em palavras caras mas insípidas. Um jogo de qualidades humanas. E a propósito disso há que recordar as recentes palavras de Arsène Wenger:
“Hoje é tudo muito mais sofisticado. A preparação, a dieta, os videos, mas ao sábado tem tudo a ver com personalidade. Quanto o desejas? Quanto aguentas sobre pressão? Continua a ser igual…”
“não fales demasiado. Quando o fazes ninguém percebe o que dizes”
Serão os mesmos tecnocratas que idealizam formas de potenciar o desenvolvimento dos jogadores, mas que por um déficit grande de experiências vivenciadas no campo de jogo ignorarão sempre a importância do contexto no crescimento de cada atleta. Não há formulas certas e seguras de “criar” um futebolista de topo. E percebê-lo, e perceber o quão as vivências passadas são decisivas, sejam vivências dentro do campo do futebol, ou fora dele, será sempre um passo para que nos possamos aproximar de um bom ponto de partida.
Esqueçam a linguagem extremamente cuidada. E acima de tudo, desconfiem de que a usa, quando pretende explicar o jogo ou a formação dos nossos jovens.
O caminho, e já foi aqui referenciado em textos anteriores, está algures entre a desorganização de “ontem” e a tentativa de ordenar tudo de “hoje”.
Mais importante que esperar em qualquer fila para executar um gesto técnico, mais importante que qualquer palavra de qualquer treinador indicando caminho, será tudo o que do ponto de vista motor e social experienciam os miúdos. Recordar o “Gold mine effect” que nos refere a importância das “10 mil horas de prática” para chegares à mestria. E como em média os brasileiros as alcançam praticamente oito anos antes dos dinamarqueses, por exemplo, quando se fala de futebol. Não será seguramente apenas na prática formal que estaremos a “qualificar matéria prima”.
Textos ou palavras de conceitos floreados no jogo e a falar sobre o jogo servirão somente para se perceber quem tem personalidade para lá chegar. O primeiro que mandar o mister colocar tais discursos onde o Sol não brilha, estará dois passos à frente dos seus colegas de equipa.
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“No futebol não há espaço para palavras caras”
Caro Paolo Maldini
Ou seja, não há espaço para perder tempo com mariquices, sendo a maior mariquice as brincadeiras nas selecções que prejudicam os próprios jogadores e os clubes/sads.Há que tomar medidas urgentes e duras contra essa mariquice, desde as camadas jovens até aos profissionais seniores.Ser directo, objectivo e persuasivo é a melhor maneira para mais rápida obtenção de resultados desportivos e financeiros.
Super,
Valorizamos a tua assiduidade no site, bem como a frequencia de comentarios. Mostra interesse e vontade de participar, que no fundo.. eh um dos objectivos do projecto.
Ainda assim, uma e outra vez, os comentarios nada teem a ver com o tema do post, lembrando constantemente uma tal de “brincadeira” que pelos vistos te assombra.
Nao iremos aceitar mais comentarios desses, a menos que sejam pertinentes para a discussao.
Obrigado mais uma vez pela participacao,
Um abraco!
Percebo e concordo. Sou uma besta.
Só para colocar uma nota. A história das 10.000 horas de prática, com o próprio autor da ideia, K. Anders Ericsson, não é utilizável da forma como o passou a ser após a nomeação da mesma pelo Malcolm Gladwell no livro “Outliers”. Ou seja, nos estudos de Ericsson, as horas de prática são formais e aplicam-se a executantes especialistas. E também já se estudou as variações dessa regra consoante as áreas em que são aplicadas, desporto, música, etc.
Daí que acho complicado podermos inferir que é a regra das 10.000 que explica a qualidade de evolução técnica de jogadores em contextos diferentes.
Essa quote é da entrevista do Wenger que passou hoje na Sport tv, certo ?