As oportunidades de golo no site da Liga e a eficácia.

white corner field line on artificial green grass of soccer field
Minuto vinte e nove da primeira jornada. Estádio de Alvalade em Lisboa. Wilson Eduardo disputa a bola no ar com João Pereira. Ganha, recua uns metros, evita André Santos e bem cá de longe, algures entre o corredor lateral esquerdo e o corredor central, tem um momento de inspiração e faz um golo notável.
Site da Liga – Uma oportunidade de golo para o Olhanense.
Segunda parte, na Choupana, na terceira jornada da prova. Candeias evita Maxi, e precisamente no mesmo espaço de onde Wilson Eduardo foi feliz, remata forte. A bola sai pela linha lateral, e é lançamento para o Benfica.
Site da Liga – No pasa nada (E bem!).
Estádio da Luz. Época 2010/2011. SL Benfica x Beira Mar. Wilson Eduardo, ainda que um pouco mais próximo da grande área encarnada, do que de onde viria a chutar uns meses mais tarde em Alvalade, mas ainda assim numa zona próxima, remata e faz a bola embater no poste esquerdo da baliza de Júlio César.
Site da Liga – Oportunidade para o Beira Mar. Percentagem de eficácia de Eduardo nos lances de ocasião de golo no Estádio da Luz – Zero porcento.
De uma forma bem simplista, podemos portanto concluir. Temos um jogador cuja eficácia ainda não foi testada (Candeias), uma vez que ainda não desfrutou de qualquer oportunidade de golo. E temos outro que, ainda que tenha estado incrivelmente mais perto do golo, em situações idênticas às que consideramos que outro jogador que ainda não foi testado teve, é considerado perdulário. Não tem uma boa eficácia relativamente às oportunidades de golo que lhe são creditadas.
Por vezes, há lances que somente são oportunidade de golo, pela excelência imposta no remate.
Se Wilson Eduardo daquela zona, onde as probabilidades de ser feliz são diminutas, rematar trinta vezes ao poste, é um péssimo finalizador. Se Candeias, precisamente da mesma zona, rematar trinta vezes pela linha lateral, não teremos indícios que possam revelar a percentagem de eficácia do agora nacionalista. Parece-lhe justo?
Porque é que o Barcelona é provavelmente a equipa com melhor índice de eficácia, na relação oportunidade / golo. Já pensou? Será que se deve somente à excelência no momento de finalizar de todos eles, ou também porque não rematam quando as probabilidades de serem bem sucedidos não são extremamente elevadas? Provavelmente no site da Liga Portuguesa teremos equipas a criar, todos os jogos, mais oportunidades que os catalães. E a concretizar infinitamente menos. Será que há, realmente em Portugal quem crie mais possibilidades de ter sucesso que a equipa culé? Será um caso único de eficácia. Ou é mais fácil fazer golo quando só se tem o guarda redes entre a bola e a baliza?
Quando uma equipa perder pontos depois de desperdiçar dois, três lances no jogo, iguais aos de Capel em Aveiro, ou aos que levaram Nolito a chegar ao golo nas duas primeiras jornadas, saberemos que algo está mal no capitulo da finalização.
Quando as oportunidades perdidas, são lances em que o remate é feito fora da área, ainda para mais com oposição à frente, ou cabeceamentos desenquadrados com a baliza, sabemos que há que melhorar primeiro o processo de criação de oportunidades. O índice de finalização deverá ser averiguado quando criando lances cuja probabilidade de ser transformado em golo forem enormes, a bola teimar em não entrar.
Tome por exemplo o remate de pé direito de Cardozo na Madeira, que obrigou o guarda redes a uma defesa de elevado nível. Ou o golo do paraguaio, a um escasso metro da linha de golo na segunda jornada. Deve ser considerado ineficaz, ou mais eficaz pelo desfecho daqueles lances? Mas, alguém em dez lances iguais, deixaria de maioritariamente falhar um, e marcar o outro?!
Percebe quão falacioso pode ser o conceito de oportunidade de golo, quando tantas delas só o são, pela excelência imposta no remate por quem finaliza. É que ainda para mais, feitas as contas, ficarão com uma percentagem de eficácia diminuta.

P.S.- Esta não é uma discussão sobre Hélder Postiga. Mesmo que as oportunidades, ou a qualidade das oportunidades, se lhe soar melhor, que o Sporting lhe proporcionou não tenham sido em número suficiente ou razoável para ser feliz, o português não tem, de facto, excelência na arte de finalizar. Mas, também é difícil recordar alguma perdida sua, que nos pés / cabeça de Cardozo, tivesse maioritariamente ido parar ao fundo da baliza adversária.

P.S. II – Talvez seja mais razoável criticar a opção por proceder à finalização quando a probabilidade de êxito não é elevada, do que propriamente criticar um mau índice de aproveitamento de lances de difícil resolução.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*