Liverpool. Os melhores 45 minutos da Premier.

Dez vitórias consecutivas na Premier, o corolário do trabalho de duas épocas com a hipótese de lutar pelo campeonato até ao fim. Sendo que, tendo vencido o Manchester City fica com o título nas suas mãos, o maior desafio está ainda por chegar. O Chelsea, de Mourinho, é a equipa mais competente do campeonato inglês, em organização defensiva. Pelo que será difícil parar um Chelsea que se preparou durante toda à época para este tipo de jogos. Os jogos dos detalhes, da estratégia, e onde quem defende melhor (com e/ou sem bola) costuma vencer.
As semelhanças:
Carências ao nível da organização da linha defensiva e da linha média. City e Liverpool precisam de melhorar muito a sua organização defensiva, para que no futuro possam competir por títulos europeus. Competições essas que estão talhadas para o detalhe, sendo que a organização defensiva é um “detalhe” muitíssimo importante nessas provas.

Ao nível da organização ofensiva, são duas equipas que procuram construir para criar no corredor central. Como aqui defendemos, a predilecção pelo corredor central é a melhor forma de criar situações de golo por ter mais e melhores opções. Não quer isto dizer que as duas equipas não tenham optado por jogar pelos corredores laterais. Quer apenas dizer, que na maior parte do tempo, na criação, a bola entrava/saia do corredor central.

Em transição defensiva, a intenção das duas equipas é tentar recuperar a bola na zona onde ela foi perdida. Mais o Liverpool que o City. Talvez por uma melhor apreensão por parte dos seus jogadores daquilo que o treinador pretende, por estar no seu segundo ano no clube.
Duas equipas com criatividade, e construídas de forma a que os mais criativos se possam expressar da melhor forma.
As diferenças:
Sobretudo a transição ofensiva. O Liverpool procura/ou sempre explorar as transições de uma forma muito vertical. Acelerou invariavelmente para a baliza contrária assim que recuperava a bola. Ainda que fossem lances de bola parada, Mignolet procurava lançar sempre o contra-ataque assim que agarrasse a bola.
Ao nível da organização ofensiva, o Liverpool procura jogar em ataque rápido. Troca bem a bola, procura o corredor central, mas na maior parte do tempo em “explosão”.
O Manchester City, mais calmo ao nível da transição ofensiva, com um bom critério entre saídas para contra-ataque, ou para organização ofensiva. Mais paciente na forma como organiza o ataque, procurando empurrar o adversário para os últimos metros, e depois decidir o melhor rumo para o ataque seguir.

O Jogo:
O Liverpool tem os melhores 45 minutos da Premier League. Entra sempre muito pressionante, no campo todo, com transições fortes (ofensivas e defensivas), e com critério na forma como constrói os seus ataques em organização. Não é de estranhar o elevado número de golos que consegue marcar, consecutivamente, antes do intervalo. É no entanto impossível manter os índices de agressividade por mais tempo do que isso, sem que a equipa se revele competente na gestão do jogo, com bola. O Liverpool não o sabe fazer. Sai sempre em contra-ataque, ou em ataque-rápido, pelo que os jogadores estão constantemente em grande esforço físico, e mental.
Assim, emerge o City na segunda parte, com uma entrada mais calma do Liverpool em jogo. Com menos pressão, com linhas mais baixas, o City, com a qualidade individual que tem, e com os bons princípios ofensivos ao nível da construção e criação, tomou conta do jogo.
Individualmente podem elogiar-se, no Liverpool, Mignolet, Glen Johnson, Suarez, Gerrard e Sterling. Coutinho e Sturridge estiveram longe do nível que têm demonstrado, sobretudo ao nível das decisões nas zonas de criação. As suas más decisões poderiam facilmente ter custado a vitória à equipa. Por outro lado Suarez mostra-se cada vez mais competente na relação com os colegas, e não se poupa a esforços para os servir. Sterling mostra muita qualidade técnica, e física. Procura espaços interiores, assim como o corredor lateral, mas sempre com a cabeça levantada na procura dos colegas. Gerrard enorme com e sem bola. Fundamental em zonas recuadas de construção, e nos ajustes quando a equipa perde a bola. No City pode falar-se de Kompany, Silva e Nasri. Todos ao seu nível habitual.

Resta-me desejar sorte a quem, com muito menos recursos, consegue desafiar as probabilidades e operar um verdadeiro milagre, ao nível da qualidade de jogo e dos resultados.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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