As notícias sobre a morte de Mourinho são manifestamente exageradas.

Assumir a liderança de um gigante adormecido, ou de um clube de menor dimensão mas que se pretenda projectar para patamares mais elevados, não é nunca uma tarefa fácil e de previsível sucesso para uma primeira temporada. A menos que a quantidade de talento seja tão elevada que o torne possível. Muito raramente esse é o caso, porém. Se não, dificilmente estaria “adormecido” ou ainda fora de tais patamares.

Há dois factores para se conduzir o clube até ao sucesso. O planeamento a médio prazo, e um maior entendimento do que há ao dispor, para que se possa ir modelando e fazendo crescer não só uma ideia, como a individualidade, em função dos recursos ao dispor.

Sobre o planeamento, quando em privado questionado sobre a soma astronómica paga por Pogba, quando havia ainda tantas carências que poderiam ser suprimidas com tal valor, Mourinho fez perceber que o projecto era fazer voltar o United a tempos de outrora no médio prazo, e não no imediato. Mais do que construir uma equipa para 2016 2017, estaria a construir paulatinamente um grupo que anos depois possa ser dominante. Em suma, perceber-se-ia o porquê de Pogba, tempos mais tarde, quando ao médio francês se juntassem outros, e quando o potencial que havia dentro de casa se começasse a expressar.

Sobre perceber com maior rigor o que se pode extrair de cada individualidade, é importante entender que nunca se conhece verdadeiramente um jogador até que se tenha trabalhado com ele. Por mais perto que possamos adivinhar-lhe o potencial de fora. Daí também, o surgir de um melhor modelo de ano para ano, quando aumenta o conhecimento.

Él me entiende y yo le entiendo. Hemos aprendido el uno del otro. La segunda parte de la pasada temporada ya aportó mucho y en la actual rendirá aún más”

Mourinho sobre Mkhitaryan

Estar de fora na poltrona, a comentar sobre o que não se sabe, é demasiado fácil, e faz-nos sentir muitas vezes sabedores. E tantas vezes também se faz igual por cá. Quando há oportunidade de perceber os porquês, porque o processo, as ideias e as decisões são explicadas, é como um novo mundo que se abre.

O treinador português está longe de apresentar o futebol mais excitante em organização ofensiva. O seu ataque posicional parece descurado, e a aposta no recrutamento é até num perfil de jogadores mais capazes de provocar estragos com espaço do que criatividade para os criar. É na Premier League, como foi em Madrid, um treinador que potencia ao máximo as características dos jogadores que tem ao seu dispor, promovendo um jogo mais rápido. Não se pense, contudo, que por exemplo, dirigindo o Barcelona, o modelo seria o mesmo. Mourinho é pós Inter, um camaleão táctico. Observa, percebe, e molda sempre para vencer. Sempre em função das características dos jogadores, da competição e até da cultura do clube. Não há nada mais do que a vitória para o Special One. Se pretendes vencer, sem preocupações quanto a estilo, ou forma de jogar, Mourinho é o tal.

A poesia é uma óptima forma de estar mais perto de vencer. Mas, sobretudo na Premier League, não é a única, e não o entender é não perceber este jogo. Porque preferências pessoais todos temos, mas entender porquês e contextos é outra coisa.

 

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

16 Comentários

  1. “Sempre em função das características dos jogadores, da competição e até da cultura do clube.”

    No Real Madrid também? Lamento, mas se houve altura em que o Mourinho não conseguiu ler contextos nem preparar caminhos viáveis a curto ou a médio prazo foi esse. O que o RM ganhou com uma ideia de jogo muito mais positiva através do Ancelotti e do Zidane comprova-o até à exastão.

    • O Real Madrid de Ancelotti e Zidane nunca teria sido possivel sem a passagem do Mourinho pelo clube da capital espanhola, posto isto, sobre a passagem em questão:

      ” É na Premier League, como foi em Madrid, um treinador que potencia ao máximo as características dos jogadores que tem ao seu dispor, promovendo um jogo mais rápido”

      Recomendo este video – https://www.youtube.com/watch?v=Uf0tVCs2xFQ&t= – e lembro que o Real Madrid de Mourinho ainda hoje mantém o recorde de pontos e golos numa edição da liga espanhola.

      • Desculpas pela ‘postagem’ repetida.

        Caro João lamento, mas isso são tretas. Existe um célebre livro escrito pelo Diego Torres que desmitifica completamente essa ideia do Mourinho que se adapta aos contextos e jogadores. O livro, apesar de tendencioso, tem um nível de detalhe brutal porque tem como base depoimentos do balneário do RM; o Torres era o megafone das célebres toupeiras de que o Mourinho tanto falava nas conferências de imprensa.

        São paginas e paginas de depoimentos dos jogadores em conflito com o Mourinho porque passavam pré-épocas a treinar organização defensiva e nada de ataque posicional, e depois sentiam na pele a incapacidade de desbloquear as defesas adversarias quando obrigados a jogar em org. ofensiva.
        Lamento, mas é ir ler, e lembrar-mo-nos também de como as vitorias dele no RM foram conseguidas: literalmente à margem das regras de jogo, e com uma agressividade fora do comum (para ser simpático) por parte de certos defesas centrais convertidos a trinco e quejandos…

        • Eu conheço esse livro tendencioso composto pelos depoimentos dos ‘Iker Casillas’ e ‘Sergio Ramos’ desta vida e sem conter o dos ‘Xabi Alonsos’, ‘Ozils’ ou ‘Arbeloas’ por exemplo.
          Margem das regras de jogo? Por favor, essa agressividade de que fala, ainda hoje existe. O Pepe já conseguiu ser expulso na Turquia e o Sergio Ramos já bateu o recorde de cartões vermelhos, já eram agressivos antes do Mourinho e continuam a ser depois dele.
          Nem vale a pena recordar o incidente que deixou o Pepe de fora 10 meses pois não?
          Essa incapacidade de desbloquear defesas resultou em 102 (1.º da liga), 121 (recorde) e 103 (Barça meteu 115) golos, logo esse argumento cai por terra muito rapidamente olhando para os números.
          O super Barça do Guardiola, considerado uma das melhores equipas de sempre, nos dois anos em que competiu contra o Real de Mourinho teve um ataque pior…imagine se tivessem conseguido desbloquear defesas!

          • Caro João,

            Respire fundo, e deixe de atirar pseudo-factos à discussão.
            O modelo de jogo do RM do Mourinho foi tão sustentável e querido pelos jogadores, e conseguia desbloquear tantas defesas que em 12/13 acabaram a quinze pontos de um Barça que por motivos muito tristes esteve uma época inteira praticamente sem treinador.
            E sim, esse Real era desmesuradamente agressivo e anti-desportivo. Ganharam em 11/12 tal como o Atlético do Simeone ou o Leicester do Ranieri ganharam: porque tiveram sorte e porque os adversários tiveram más épocas, não porque tivessem um modelo de jogo competente em todos os momentos.

            Já agora, o Mourinho na segunda passagem pelo Chelsea mostrou perceber o contexto do clube e os jogadores? E mesmo agora, a ideia de jogo do Mourinho vai de encontro à identidade do Man Utd? É que dos clubes ingleses sempre foi aquele que, mal ou bem, sempre procurou encher o campo e dominar o jogo. Basta ler com atenção os melhores jornalistas ingleses, que são poucos mas existem.

            Quanto ao livro do Torres, o tom poderá ser tendencioso, mas nenhum dos factos por ele narrados foi alguma vez desmentido por qualquer dos intervenientes, nem nunca lhe foi colocado nenhum processo por difamação. O que só por si demonstra que no geral, é verosímil.
            Já agora, imagino que o Xabi Alonso adorou passar pré-épocas a trabalhar org.defensiva, deve ter sido por isso que ele foi aprender alemão com o Guardiola.

    • Realmente dizer que o Real de 2011/2012 é uma equipa como o Atlético é de rir. Comentário tendencioso é estar a ser simpático. O Barça vinha de campeonatos e Champions q era só passeios. Mourinho partiu a porta. Agora que tb partiu o plantel toda a gente já o sabe. Mas foi Mou q acabou com a hegemonia do Barça.

      • Mas o Mourinho tem de vir desmentir um livro de ficção do senhor Torres agora? Ele já disse mais do que uma vez que não irá ‘lavar a roupa suja’ dos tempos de Madrid, se você acha que ele tem de vir comentar livros escritos por jornalistas espanhois baseados nas palavras das ’toupeiras’ do balneário então não sei bem qual acha ser o trabalho de um treinador de futebol.

        O Xabi Alonso saiu do Real depois de passar uma época com o Ancelotti, logo se foi aprender alemão não foi por causa dos 3 anos com o Mourinho.

        A equipa marcou mais de 300 golos na Liga em 3 temporadas, os pseudo-factos encontra você nesse livro que parece seguir como o papa segue a biblia…

        E gosto como usa o último ano como exemplo. Ficou a 15 pontos da equipa do Tite que estava doente, mas ignora completamente o ano anterior em que acabou com a hegemonia do Guardiola, obrigou o catalão a tirar um ano de sabática e, no meio disto tudo, com o seu modelo pouco sustentável ainda bateu o recorde de pontos e golos numa edição da Liga Espanhol, recorde esse que ainda hoje está de pé.

        Quando começa a comparar o Real ao Atlético de Simeone ou ao Leicester de Ranieri não há muito a fazer/dizer na realidade, pois parece que estamos a falar de equipas completamente diferentes, pergunto até se foi o senhor Torres que fez essa comparação recentemente…

        Os problemas que o Mourinho encontrou na 2.a passagem pelo chelsea estão agora a ser encontrados pelo Conte. Felizmente o italiano começou a fazer barulho e a ameaçar sair e a direcção do chelsea começou a tentar resolvê-los antes que fosse tarde demais.

        Mas você acha que o Mourinho, um dos treinadores mais titulados de sempre, uma pessoa que está dentro destes balneários não percebe o contexto do clube e dos jogadores onde está. Percebeu tão bem que notou o declinio do casillas antes de todos os demais e identificou o Varane como um jogador superior ao pepe, devia ter se feito de estupido, pois claramente a unica coisa que sentar uma ‘vaca sagrada’ no real madrid dá direito é à publicação de um livro tendencioso.

  2. “Sempre em função das características dos jogadores, da competição e até da cultura do clube.”

    No Real Madrid também? Lamento, mas se houve altura em que o Mourinho não conseguiu ler contextos nem preparar caminhos viáveis a curto ou a médio prazo foi esse. O que o RM ganhou com uma ideia de jogo muito mais positiva através do Ancelotti e do Zidane comprova-o até à exaustão.

  3. Guilherme, nem vou dar opinião sobre o Mourinho… vou só dizer q arranjo 10 pessoas q n gostem de si e peço-lhes depoimentos. Por outro lado, nem procuro quem gosta! Portanto, isso faz de si má pessoa. Este é o problema da literatura atual, e qdo falo em literatura, abrange tb a académica, em q se tiram conclusões completamente erradas, pelo simples facto de uma má recolha de dados. O autor é tão agarrado a uma ideia e acredita tanto naquilo, q cega a sua capacidade de ser imparcial.

  4. Meus caros, aprendam a ler antes de comentar e pensem naquilo que estão a ler…

    O livro do Torres é interessante porque demonstra que a ideia de jogo actual do Mourinho, por se focar demasiado em momentos e transições defesa-ataque, gera no curto prazo reacções negativas e exaustão mental dos jogadores – sobretudo em equipas e jogadores que pelo estatuto que têm precisam de estar habilitados a dominar em org. ofensiva, mesmo que nem sempre. Por isso as reacções negativas no RM e no Chelsea. Vamos ver como corre no Man Utd – ainda a procissão vai no adro.

    Ninguém aqui disse que o livro do Torres é uma bíblia (e até referi no meu primeiro comentário que o tom é, de facto, tendencioso): o que eu escrevi é que é verosímil o suficiente para que o Mourinho nem ninguém do clube procurou impedir a publicação. É preciso ser-se muito naive, incrivelmente naive para achar que se o Mourinho ou o RM tivessem bases legais para tal não o teriam feito.

    Quanto aos pseudo-factos: o João está no blogue errado. O RM até poderia ter feito 1000 golos. Era uma equipa com competência em apenas dois momentos do jogo, como se comprovou na irregularidade do campeonato em 12/13, e por ter ganho em 11/12 à conta de uma agressividade sem par (eu pergunto-me se o João viu os jogos do RM na altura…). Mesmo numa competição a eliminar como a Champions não teve sucesso. E na Copa del Rey teve e da forma que todos sabemos: a jogar no limiar das regras.

    Achar que o Guardiola esteve um ano de sabática por causa do Mourinho dá vontade de rir. É favor ir ler os livros do Ballague ou do Perarnau (talvez os ache tendenciosos, nesse caso o Correio da Manhã é-lhe mais apropriado): o Guardiola prefere trabalhar em ciclos de 3 anos, e só assinou para 11/12 a contragosto.
    Quanto ao Xabi: a questão de porque é que ele preferiu ir aprender alemão é sobre qual o treinador com quem ele aprendeu mais caro João. Eu imagino a resposta, mas o João diria que o Xabi é um tendencioso.

    Até à próxima (ou não)!

    • Dizer que o livro é tendencioso é um eufemismo, o livro tem claramente uma agenda e vendeu-a bem, é bastante faccioso e essa facção é claramente a anti-Mourinho.

      Não percebo esse argumento do tentar impedir a publicação que continua a usar, o livro é baseado na opinião (facciosa) de alguns elementos que faziam parte do balneário do real madrid naquela altura, não vejo onde está a base legal para impedir a publicação do mesmo. Eu sei que não sei ler, como tão gentilmente apontou, mas por acaso formei-me em direito.

      Os golos marcados são um facto, não um pseudo-facto. Um pseudo-facto é essa ideia de que o real madrid só era competente em 2 momentos do jogo e jogava com a agressividade do canelas porque o senhor torres escreveu na página 100 a 115 do seu manifesto anti-Mourinho.

      Só para chatear, sou capaz de ter visto os jogos todos (ou quase todos) do Real Madrid durante os 3 anos de Mourinho no clube. Mas olhe, mais um pseudo-facto para si, o real madrid no ano em que foi campeão foi a 17.ª equipa que mais cartões viu na liga, em 20, logo deviam ser mesmo muita bons a jogar no limiar das regras.

      Passemos então ao insucesso na champions. Antes do Mourinho chegar a madrid o real madrid tinha sido eliminado 3x em 4 anos pelo lyon nos oitavos de final da competição. Com Mourinho à frente do clube alcançaram 3 meias finais, na primeira delas foi o que se viu contra o barcelona, na segunda perderam em penaltis contra o bayern (com ronaldo, ramos e kaká a falharem) e na terceira perderam 4-3 no conjunto das duas mão com o dortmund. Claramente houve uma melhoria significativa em relação aos anos anteriores, mas se defende que uma época de sucesso para o real madrid na champions só pode acabar com a vitória final, então nesse caso sim, concordamos, houve insucesso.

      Em 3 anos ganhou 1 copa do rey e chegou a outra final, o real não ganhava uma copa há quase 20 anos mas lá esmurraram e pontapearam o caminho até à vitória final eu sei.

      O guardiola admitiu que estava esgotado e precisava de se afastar do futebol. Pois bem, enquanto ‘destruía’ a competição e não tinha rival ele era só sorrisos, quando finalmente alguém lhe fez frente ele quase que teve um esgotamento. Claramente devido ao facto de já ter ultrapassado o seu ciclo no clube, claro. Achei que apreciaria o meu salto lógico tal como apreciou os que o senhor torres fez no livro dele…já vi que não.

      Dispenso a leitura de livros de perarnau e principalmente de ballague, este último consegue ser mais faccioso que o senhor torres. Dá para perceber pelas leituras que faz onde vai buscar essas suas ‘teorias’ que depois regurgita aqui, pelo menos essa parte ficou esclarecida. Sugiro-lhe que pouse os livros e tente formular uma opinião que seja sua, veja os jogos, pense pela sua cabeça, vai ver que não custa nada.

      Está a falar do mesmo Xabi que disse que o Mourinho e o Guardiola são mais parecidos em termos de personalidade e de ‘estilo de treinar’ do que as pessoas pensam? Esse Xabi? Do mesmo Xabi que disse que o Mourinho tem ‘algo diferente’ de todos os treinadores? O mesmo Xabi que até hoje só tem palavras elogiosas para o Mourinho? Do mesmo Xabi que nunca quis sair do Real Madrid até o empurrarem para fora do clube? Pois, se calhar esse ‘desejo’ de ‘ir aprender alemão’ não batia assim tão forte como você pensa…

      Até à próxima diego..desculpe, Guilherme!

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