O caos, a aleatoriedade e a “estupidez de não aproveitar o jogo como um todo”

Há não muito partilhava aqui no blog as fantásticas declarações de Tuchel, o treinador do Dortmund. “…o futebol é muito complexo… é muito dinâmico. A bola está sempre a mover-se, é difícil controlar o jogo, o número de golos é reduzido e demasiado acontece de forma aleatória. Por isso é errado olhar para o resultado”sobre a forma como se deve avaliar o processo.
Pensava nesta aleatoriedade enquanto recordava um facto que o espelha. Alemanha e Espanha, selecções que nas individualidades, no colectivo e no seu estilo de posse, sempre com as decisões correctas, demonstraram o quão superiores em ataque posicional / organização ofensiva são a todas as outras que já entraram em prova… não foram capazes de chegar ao golo no momento do jogo em que mais tempo conseguem passar. Sim, conseguem. Não basta querer. 
Alemanha chegou ao golo numa bola parada e num contra-ataque. Não sendo também de negligenciar o muito perigo que foi sempre capaz de criar sempre que decidiu sair rápido em transição. Espanha com comportamentos extraordinários em ataque posicional, com gente entre linhas, criatividade, movimentos de apoio do avançado a tocar de frente nos médios já dentro do bloco adversário, com um Iniesta extraterrestre a tomar as rédeas da criação de nuestros hermanos, ainda assim, sem ter chegado ao golo dessa forma. 
Tudo porque como refere Tuchel, quando avalias o processo, é preciso saber que demasiado acontece de forma aleatória. Quer Espanha quer Alemanha as melhores em organização ofensiva não almejaram (ainda) marcar em tal momento. Mas tudo se explica pela aleatoriedade? Naturalmente que não. Será obviamente mais difícil chegar à oportunidade quando o adversário parte com dez atrás da linha da bola, do que quando se recupera a bola e sobram somente dois ou três atrás. Por isso as melhores equipas do mundo jogam consoante a situação de jogo. Capazes de em organização ofensiva manter a paciência e ter um estilo acentuado de posse como forma de desposicionar o adversário, mas também capazes de identificar os momentos para sair em ataque rápido ou em contra-ataque. Por isso, em tempos José Mourinho referiu “quem não aproveita o contra ataque é estúpido”. O difícil, porém, é perceber quando se deve investir no contra-ataque e quando o parar e manter a posse. Alemanha fá-lo como ninguém. Porque tentar sair sempre em contra-ataque, independentemente do espaço e ralação numérica… é igualmente estúpido!
Importa também perceber que aproveitar o contra-ataque não se poderá nunca opor ao estilo de posse. E que quem o faz, não estará nunca a controlar o jogo, pelo simples facto de abdicar em demasia do mais importante. A bola. Tudo depende da situação de jogo. O espaço, a oposição e os colegas. É sempre a situação que determina a decisão. Há espaço e vantagem numérica impõe-se sair rápido. Perdeu-se a vantagem espacial e numérica, guarda, e troca à procura ou do desposicionamento adversário ou do chegar dos colegas aos espaços mais prometedores.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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