Chega na presente temporada ao futebol profissional, um dos mais promissores treinadores portugueses. Uma ascensão meteórica, digna de um conto de fadas. Sempre a pulso, sempre à custa dos seus próprios excelentes resultados. Há quatro temporadas atrás garantia uma subida de divisão em escalões de futebol jovem no CD Belas. Há três épocas termina a época nos juvenis do Real, onde chega à fase final de apuramento de campeão, depois de terminar à frente do Sporting CP na segunda fase. Naquela que foi a única vez em que o Sporting não disputou uma fase de campeão numa fase final de Juvenis. Subida aos juniores do Real, onde mais um percurso a cumprir na íntegra objectivos o levaram ao escalão sénior. Na temporada finda vence o título de campeão nacional do CPP, sobe pela primeira vez o Real Sport Clube aos campeonatos nacionais profissionais, e somou um percurso incrível na Taça de Portugal, eliminando o Arouca de dois escalões acima e o Olhanense de um escalão acima. Terminando o sonho no Restelo, perante um mais forte SL Benfica, embora tenha mantido o empate ao longo de toda a primeira parte. Pelo caminho ainda valorizou vários jogadores. Três dos quais transferidos para o SL Benfica (Zidane, Thabo Cele e Matheus Leal).
Os mais atentos estarão agora ansiosos para perceber como continuará a decorrer a carreira de um treinador que vem somando feitos incríveis.
Mas, como trabalha Filipe Martins?
Sobre as suas ideias e como pensa o jogo é bastante claro.
Modelo de Jogo
O meu Modelo de Jogo foi sendo construído ao longo dos anos na minha cabeça, desde os tempos de Jogador, fui filtrando métodos e comportamentos e criei um conjunto de ideias que me guia na ideia generalizada daquilo que pretendo para as minhas equipas. Nunca é nem será um processo fechado, tenho o meu fio condutor bem definido mas há nuances que o próprio adversário com as dificuldades que nos vai criando nos obriga a alterar pormenores dentro do jogo e ás vezes quando dás conta estas a alterar comportamentos que alguns vão ficando. Por vezes tens jogadores que por si só trazem comportamentos individuais, o que te faz pensar…Os que acho que podem acrescentar algo adopto, os que não concordo tento erradicar da cabeça do Jogador.
Pela primeira vez enfrentará uma realidade que o poderá obrigar a passar mais tempo em organização defensiva.
As minhas ideias e mentalidade não se vão alterar um milímetro, não temos o dinheiro dos outros é certo, mas temos de compensar isso com outros argumentos que neste desporto fazem a diferença como sermos mais fortes colectivamente, lutar mais que os outros, cometer menos erros… Potenciar ao máximo as nossas faculdades e esconder os nossos defeitos. Apesar do objectivo ser obviamente a manutenção desengane-se quem pense que o Real vai andar a jogar para o pontinho, vamos lutar pelos 3 pontos em todos os campos por onde passarmos. Agora há que perceber que ao nível do jogo a 2 Liga tem características muito especiais e aqui e ali temos de nos adaptar a uma nova realidade que pode se traduzir em alterações metodológicas do treino pontualmente, mas a Filosofia de jogo não se vai alterar em nada.
Como trabalha um dos melhores na realidade nacional? Filipe partilha com o Lateral Esquerdo, também o seu:
Processo de Treino
Cuidados / preocupações na criação dos exercícios:
Essencialmente que o exercício tenha transfer para o jogo e para os comportamentos que quero que o jogador ou equipa apresente, num período pré- competitivo virado para o nosso modelo de jogo e a partir da 5ª feira de um microciclo normal já com muito foco no que podemos fazer estrategicamente para o Jogo. Tento que o jogador ao chegar ao jogo se sinta confortável pois faz no treino aquilo que provavelmente vai encontrar no jogo.
Exercício 1. defesa a ligar com, 6 e 2 médios mais alas a ligar com o avançado. Objectivo fechar a Bola e trabalhar as coberturas – não deixar jogar em frente. se conseguir ligar aproximar rápido para a cobertura ofensiva (Marcar nas 2 mini Balizas). Quando Ligam com o Ponta a seguir ele aproxima da baliza grande e finaliza através de cruzamento
Exercício 2. Por vagas, 1º jogador sai em drible e finaliza, faz combinação directa para um 2º jogador finalizar e o mesmo 1 jogador combina directo com um 3º jogador que vai cruzar, 1ºcruzamento entra 1 avançado e um defesa criando situação 3×1 e finaliza com um cruzamento do lado contrario onde já ataca o jogador que fez o 1 cruzamento mas agora com mais um defesa ou seja 4×2. Importante os jogadores em situação de cruzamento atacarem as zonas de Finalização
3. Jogo 7×3 + gr numa estrutura de 3 def 3 medios e 1 avançado + g.redes com oposição de 3 defesas que tentam recuperar a bola ou fazer com que a equipa em posse a perca, ao recuperar a bola podem fazer golo na baliza, passar aos colegas que ficam na zona neutra que podem chutar também ou simplesmente passar a bola para a equipa em espera do lado contrario. a equipa em posse pode usar o guarda redes com os pés uma vez apenas, num 2 período passa a 7×4
4. Equipa começa sempre em superioridade 5×4 tentando fazer golo em 2 balizas ( 1 jogador da equipa sem bola recolhe sempre entre as balizas, a equipa em inferioridade ao recuperar pode ir directamente para as balizas em frente(vale 2 pontos) ou buscar o homem em espera passando a jogar em superioridade. A Equipa que perde a bola pode pressionar rapidamente em superioridade ate o jogador em espera ser solicitado.
Enquanto falava com um seu ex jogador, que não teve as oportunidades que com certeza gostaria de ter tido, fiquei espantado com a sua afirmação categórica.
O Filipe foi o melhor treinador que já tive. É sempre justo e frontal.
Tiago Santos, ex Real
Espantado unicamente pelo facto de ser muito difícil ouvir-se de um jogador pouco ou nada utilizado uma frase tão forte e que poderá predizer de forma bastante clara competências em todas as áreas daquilo que hoje em dia é ser treinador!
A minha liderança rege-se por um chavão máxima liberdade, máxima responsabilidade. Defino as Regras, mostro ao grupo o caminho a seguir, baseio-me principalmente na Agregação do grupo em prol do colectivo ,tento ser um gestor de problemas, mas há uma coisa que não fujo, das minhas responsabilidades e quando tenho que intervir faço-o da forma que entendo ser a adequada para o momento, primando sempre por ser eu Naturalmente e nunca fugindo daquilo que penso.
Quando tenho de ser duro e disciplinador sou,de forma frontal e clara dizendo sempre a verdade na cara dos jogadores quer seja em grupo ou em particular. É a única forma de me sentir bem comigo mesmo e demorar 30 segundos a adormecer.
Perdendo ou ganhando tenho de ser eu mesmo!
Todas as citações de Filipe Martins foram feitas em exclusivo para o Lateral Esquerdo. Fica aqui um forte agradecimento por permitir-nos a todos aprender um pouco mais!
O exercício de pressing com as três equipas é óptimo. Apenas adaptava para campo mais reduzido com menos elementos e sem possibilidade de passe para o outro lado.
Cada equipa depois de recuperar a bola teria de passar o meio campo com a bola controlada e passaria a estar em posição ofensiva. A equipa que perde a bola fica do lado do campo “sem acção” e espera pela próxima equipa a passar o meio campo com a bola controlada. Havendo golo de uma das equipas, a equipa que faz golo ganha o direito a atacar para o outro lado sem oposição para passar novamente o meio campo.
Mais intensidade e melhor relação com bola para todos os elementos em jogo.
Posso estar a generalizar, mas segundo experiência pessoal, um dos principais problemas dos treinadores na formação passa pela falta de capacidade de incutir um pretexto ou explicar aos seus jogadores o porquê de estarem a fazer certo exercício.
Pegando no exercício do Pressing, quase todos os treinadores inserem esse exercício no treino, mas acabam por não educar os jogadores sobre o que devem fazer lá dentro, deixando-os andarem que nem baratas tontas.
A minha questão é se o objetivo é mesmo esse, ou seja, que os jogadores percebam sozinhos como ter sucesso no exercício. Ou se é mesmo um erro, como foi dito no início deste comentário.