Notas da goleada leonina em Alvalade

  • Foi um Sporting a crescer gradualmente com as incidências do jogo, aquele que levou de vencido o Marítimo em Alvalade. O primeiro golo na primeira oportunidade de golo digna de registo para o Sporting, levou a equipa de Jorge Jesus para um jogo em crescendo até terminar de forma categórica com uma goleada;
  • O regresso da fórmula William – Bruno Fernandes – Podence no corredor central. O Sporting torna-se uma equipa totalmente diferente quando Jorge Jesus opta por este trio no corredor central. William e Bruno acrescentam qualidade, criatividade e ligações da construção para com a criação, Podence em constantes trocas posicionais com Gélson e por vezes com Bryan, acrescenta qualidade e variabilidade de movimentos e define com muita qualidade quer seja em espaços curtos ou em espaços maiores, apesar de hoje nem ter sido o seu melhor jogo. Com esta fórmula, o Sporting pode ficar a perder no que aos momentos de transição defensiva diz respeito, apesar de hoje não se ter notado muito, mas ganha imenso na criatividade e qualidade de ligar construção com criação;
  • Muito interessante a dinâmica no corredor direito imprimida por Coates, Ristovski e Gélson. O veloz extremo leonino a arrastar sempre o lateral esquerdo do Marítimo consigo por dentro e a permitir as entradas velozes de Ristovki detrás para a frente a atacar a profundidade. O macedónio não é opção primordial para a lateral direita do Sporting, mas voltou a dar excelentes indicações e ofensivamente, juntamente com Gélson, deu muita dinâmica no corredor direito. É um jogador diferente de Piccini, que é um lateral muito forte nos momentos defensivos, Ristovski é um lateral mais capaz e mais criativo que o italiano no processo ofensivo. Com o Marítimo a não pressionar a primeira fase de construção do Sporting, foi sempre a abrir passada na direita com Coates a dar início à ligação pelo corredor direito;
  • Dificuldades do Sporting em criar pelo corredor esquerdo. A ausência de Mathieu retirou fluidez à construção leonina pelo corredor esquerdo e o Sporting pouco criou pelo corredor esquerdo. À excepção do terceiro golo, que é uma incursão individual de Fábio Coentrão de fora para dentro para posteriormente ligar em Bruno Fernandes, o Sporting foi quase inexistente no corredor esquerdo em organização ofensiva. André Pinto, até por ser um central destro a jogar do lado esquerdo, tem muitas dificuldades em corresponder ao que pede Jorge Jesus nos movimentos e nas ligações da primeira fase de construção e o Sporting perde muito em termos ofensivos sem o central francês em campo;
  • Aos 60 minutos, Jorge Jesus retira Bryan Ruiz e Podence e coloca Battaglia e Acuna em campo. Com 2-0 pensava-se que o Sporting iria baixar o bloco e dar a iniciativa de jogo ao Marítimo tentando controlar defensivamente (algo que já fez noutros jogos). Com a chegada do 3-0, o Marítimo perdeu muita agressividade posicional defensiva e isso levou o Sporting a ter mais espaços e a conseguir assim um resultado mais folgado;
  • Bas Dost é um jogador que beneficia imenso quando a qualidade colectiva do Sporting em organização ofensiva é elevada. É um avançado que ao contrário de outros avançados dos outros dois grandes, não é um criador de situações de finalização para o próprio, não define por si só e está sempre dependente daquilo que a equipa lhe pode oferecer. Se a equipa está bem e consegue criar, não é difícil para o avançado holandês fazer golos;
  • É tremenda a influência de Bruno Fernandes no jogar do Sporting. Quer seja mais baixo a ligar construção com criação, quer como segundo avançado mais próximo de Bas Dost e em zonas de criação e finalização, acumula criatividade, inteligência e um manancial de pormenores de encher o olho, para além da facilidade de remate que tem e que é claramente uma mais valia. Está intimamente ligado a quatro de cinco golos do Sporting no jogo de hoje. Faz as duas posições em que habitualmente joga com muita qualidade, no entanto, na minha opinião, jogando na posição de segundo avançado ou médio mais ofensivo como queiram, é mais capaz quando o jogo está mais aberto e os espaços aparecem com maior naturalidade, movendo-se a toda a largura e aparecendo detrás para a frente sempre com muita assertividade em zonas de decisão;
  • Jogo infeliz por parte do Marítimo. Não é uma equipa particularmente conhecida por ter qualidade com bola, é uma equipa conhecida pelo seu rigor defensivo, que sofre poucos golos e que costuma ser muito cínica e eficaz nas suas transições ofensivas para contra ataque ou ataque rápido. Hoje isso não aconteceu. Apresenta recursos interessantes nas bolas paradas ofensivas e hoje até causou alguns problemas ao Sporting num ou noutro lance. Defensivamente, teve muitas dificuldades em controlar o corredor direito do Sporting, com os arrastamentos que Gélson provocava (ver primeiro golo) e com as incursões de Ristovski detrás para a frente e após o 3-0, perdeu alguma agressividade posicional e de articulação da sua linha defensiva com a linha média e os espaços surgiram com mais naturalidade, com o Sporting a criar situações de finalização com maior facilidade e a construir um resultado mais volumoso.
Sobre José Carlos Monteiro 47 artigos
Treinador de Futebol, Uefa B, com percurso e experiência em campeonatos nacionais nos escalões de formação. Colaborador como observador e analista em equipas técnicas na Primeira Liga. Alia a paixão pelo treino e pelo jogo à analise de jogo.

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