Até ao último sopro

Foram muitas as dificuldades do Sporting em levar de vencido o bem organizado Moreirense de Petit. O golo surgiu nos instantes finais, tal como na semana anterior em Tondela, numa altura em que o Sporting estava em inferioridade numérica e com dificuldades em impôr o seu jogo de forma pensada e criteriosa.

Face às muitas alterações forçadas no onze, foi um Sporting com dificuldades em ser dinâmico e com algum desconforto na elaboração do seu ataque posicional, fruto das poucas rotinas de alguns jogadores com pouca utilização e de outros a servirem de adaptações, que apesar de terem cumprido bem as suas funções, nâo têm o mesmo à vontade que os seus habituais colegas de função. A juntar a isso, um Moreirense que nunca baixou em demasia o seu bloco. Posicionou-se em bloco médio e nunca abdicou de procurar criar desconforto na primeira fase de construção leonina, refém da qualidade individual e de decisão de Mathieu e William Carvalho.

Assim, foi um pouco confusa e pouco criteriosa por vezes, as ligações entra as fases ofensivas do Sporting. Da construção para a criação, e da criação para a finalização e quase sempre pelos corredores laterais. Como referi acima, as ausências de Mathieu e William pesaram muito, sobretudo nos caminhos escolhidos para se progredir. André Pinto substituiu o central francês, mas se defensivamente fez uma exibição bem conseguida, as suas limitações em termos ofensivos por ser destro e ter dificuldades em conseguir responder às dinâmicas pedidas por Jorge Jesus neste momento do jogo, limitaram muito a progressão leonina pelo corredor esquerdo, claramente mais capaz e assertivo quando bola já estava em zonas de segunda fase de construção. Petrovic foi o substituto de William. Com bola, é um jogador com um perfil de qualidade e interessante, tendo óbvias dificuldades nos momentos de transição defensiva. Ainda assim, explorou pouco o Sporting os movimentos de Petrovic nas costas da pressão do Moreirense. Com os interiores destes a saltar na pressão sobre os centrais, muitas vezes Petro ficava sozinho com possibilidade de receber de frente para o jogo e ligar a partir daí, mas as decisões dos centrais do Sporting neste capítulo não foram as melhores.

Também Doumbia foi titular na noite de ontem, substituindo o habitual Bas Dost. Ressentiu-se muito da ausência do holandês, o Sporting. Doumbia teve imensas dificuldades a definir quando baixava em apoio e quando encarava de frente para a linha defensiva, sobretudo devido a aspectos técnicos e mesmo em zonas de finalização, o avançado africano não é tão assertivo como o avançado holandês. Destaque positivo para a boa primeira parte de Bryan Ruiz, sempre com critério e a definir com qualidade e para Bruno Fernandes, que é um tipo de jogador que simplesmente não sabe jogar mal. Gélson acabou por ser o herói e o vilão ao mesmo tempo. Alia pormenores técnicos de excelência, com um poder de decisão no último terço que deixa claramente a desejar e que terá claramente que melhorar.

A expulsão de Petrovic trouxe um jogo menos pensado e mais partido. O Moreirense expôs-se um pouco mais na procura do golo da vitória e pelo facto de ter um elemento a mais, beneficiando algumas vezes de situações de ataque rápido, apenas com a linha defensiva leonina pela frente, cuja definição não foi a melhor. E foi prestes a terminar o encontro e no último sopro, que após uma recuperação, Acuna variou rapidamente o centro do jogo e Rafael Leão, que tinha entrado para o lugar de um Montero muito apagado e longe dos seus melhores momentos, beneficiou do espaço para correr que tanto gosta e do facto de o Moreirense se ter partido e ter menos elementos atrás da linha da bola e desequilibrou individualmente, oferecendo posteriormente a Gélson a possibilidade de finalizar.

O Sporting voltou a vencer de forma sofrida, num jogo em que apareceu descaracterizado sectorial e intersectorialmente devido às muitas ausências forçadas e isso influenciou a dinãmica da própria equipa em ataque posicional. Sexta feira no Dragão, será uma final para as hostes leoninas. Um resultado negativo ditará muito possivelmente o adeus ao título.

No vídeo, alguns cortes do Sporting em organização ofensiva.

 

Sobre José Carlos Monteiro 47 artigos
Treinador de Futebol, Uefa B, com percurso e experiência em campeonatos nacionais nos escalões de formação. Colaborador como observador e analista em equipas técnicas na Primeira Liga. Alia a paixão pelo treino e pelo jogo à analise de jogo.

8 Comentários

  1. Zé Carlos, excelente análise como de costume. Qual esperas que seja a abordagem ao jogo com o Porto sem Gelson? Bruno numa ala e Ruben Ribeiro a 2º avançado?

    • Muito obrigado.

      Tenho dúvidas sinceramente. Acho que BF numa ala, é tirar criatividade no corredor central ao Sporting e sobretudo poder de decisão quer em zonas de construção, mas sobretudo em zonas de criação. RR tem desiludido e não me parece que possa ser lançado neste jogo de início. Creio que JJ poderá estar a preparar alguma surpresa, mas colocaria sempre BF no corredor central. Creio que Batta poderá ser 6, William 8 e Bruno Fernandes perto do avançado. Na direita, as soluções não abundam.

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