Red Red Wijnaldum (Stay close to Madrid)

O autor destas linhas cresceu e passou a sua adolescência longe de um aeroporto. E todos os fins-de-semana, quando o ócio e a boémia eram coloridos por algum vermelho tinto, a vontade de passar a ressaca em destinos mais remotos atacava o seu grupo de amigos. Infelizmente, ou não, por mais red red wine que enchesse copos, ou ecoasse pelas colunas do pub vindo da alma dos UB40, o aeroporto continuava longe. Tão longe quanto uma eliminatória perdida mentalmente em Camp Nou por desvantagem de três golos. Mas o Liverpool de Jurgen Klopp, depois de entrar a matar na 2.ª volta em Anfield e marcar bem cedo nas Origis do jogo, teve os seus dois copos de Red Red Wijnaldum e não mais abrandou em direcção a Madrid. Entre o querer e o ter, há quem pense que a emoção não entra na ecoação. Mas que outro veículo poderia trazer o sonho à realidade, se não a emotion (in motion!) que os rapazes de Klopp imprimiram contra um Barcelona que, como na 1.ª mão se revelou impotente para os travar? Sim, até na ida os reds demonstraram a sua superioridade. Só que aí foi um génio a inventar, praticamente sozinho, a vitória para a sua equipa. Esta terça-feira, em Anfield, tudo foi igual… se bem que diferente no capítulo mais importante do jogo: a finalização.



Teve o Liverpool oportunidades (o que a acontecer sem Salah e Firmino em campo, só revela que o seu melhor jogador são a ideia, a alma e o colectivo a desaguarem por um só exército), teve o Liverpool oportunidades, dizia, e teve o Barcelona oportunidades (mais ainda que há uma semana, na Cidade-Condal), e a diferença é que a inépcia finalizadora atacou, desta vez, os catalães – sim, com Messi incluído. Não andou o Messias arredado do jogo, e se algo o Barça fez para evitar o segundo inacreditável colapso na Champions em dois anos, foi pelos seus pés que passaram as chances de calar um dos únicos lugares do Mundo onde a derrocada blaugrana poderia acontecer. Ainda assim, não o bastante. E esse something missing para os culés vem faltando desde que o seu futebol, há já quase uma década, roçou a perfeição.


(Couldn’t) take the ball, (can’t) pass the ball

Sim falta Iniesta, falta Xavi, falta obviamente Guardiola e Henry, como até Luis Enrique e Neymar. Mas, analisando objectivamente, em Anfield (e em todos os jogos ao mais alto nível) falta ao Barça uma das partes que é constantemente omitida pelos seguidores de Pep. Sim, mais uma vez, olha-se para o relvado e muito dos intérpretes não estão lá. E isso mancha um pouco aquela intenção de pass the ball que com Guardiola era levada ao extremo. A redline dos 74% definia a monopolização de um jogo, onde o adversário, com 26% pouco ou nada poderia fazer para aquilo que o Pep-Team com 74% criava e defendia. Mas sem a primeira parte do título do documentário que nos mostra os bastidores do City que destruiu a Premier pouca bola se pode passar, circular e pouco se pode defender e criar. O take the ball é assim essencial para a monopolização do jogo e para evitar que coisas como a que se passou em Anfield, e em Roma há pouco mais de um ano, atirem os blaugrana para um jejum europeu que vai confirmando a pouca apetência de alguns dos seus líderes mais recentes para um trabalho muito peculiar.

Ao invés, Anfield é feito para Klopp. E Klopp é feito para Anfield. Com Heavy-Metal ou com o Revolver dos Beatles a delinear a pauta, o Liverpool do alemão mais querido da Kop merece tudo o que está a viver. E depois de em Camp Nou a sua equipa ter falhado naquilo que, por exemplo, já acertou duas vezes seguidas no Dragão (a absurda eficácia) preparar uma equipa para virar um 0-3 sem Salah e Firmino e deixá-la com alma suficiente para virar o resultado de forma inteligentemente emocional é, sem dúvida, uma das obras que tem de elevar este peculiar e bonacheirão Jurgen Klopp ao Olimpo do futebol. Já o tinha feito ao seu Borussia (castigando Tuchel com um jogo partido e incontrolável para o seu esquema) e fê-lo de novo, beneficiando da tal emoção que intensifica o jogo tornando-o desconfortável para qualquer equipa deste Mundo, como também da ineficácia pouco habitual do Messias culé, mas, mais ainda, de outro pormenor que em relação ao seu Liverpool não se fala muito.

Chegada e presença na área de Wijnaldum absolutamente decisivas na reviravolta da eliminatória



É o Liverpool da intensidade, da rotação e blá-blá-blá, do heavy-metal o sangue a ferver e do sacrifício de bodes adultos a Deus, no alto de uma montanha qualquer. Mas a sua posse-de-bola no meio-campo defensivo foi, ontem, tão importante como toda a treta que o generaliza constantemente. E sem o take the ball (que o trio da frente do Barça não consegue replicar) Coutinho (que acabou substituído por inépcia defensiva) pôde ver a sua ex-equipa destroçar toda e qualquer chance de o Barça monopolizar o jogo pela posesion 74 (se é que Valverde alguma vez teve alguma intenção de lá chegar), com o sector intermediário a controlar e a congelar o jogo, ditando os termos com que os reds haveriam de chegar à remontada. Sem a pressão inicial, a única solução culé foi baixar linhas e rezar para que o Liverpool sofresse da mesma maleita que em Camp-Nou. Não sofreu, mais ainda quando Wijnaldum (que acabou por ser a felicidade vinda de um infortúnio) deu a presença na área que faltava para materializar o sonho. Ou então, quando dois glimpses de luz assolaram Alexander-Arnold, na forma como ganhou o pontapé-de-canto e como rapidamente o bateu, fazendo o jogo voltar às suas Origis. Absolutely f***ing brilliant, boy!!!!

Liverpool-Barcelona, 4-0 (Origi 7′ e 79′, Wijnaldum 54′ e 56′)

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