AMORim para acabar com a Guerra

Sim, eu sei. Parece sempre um pouco larilas falar de amor. Mais ainda num desporto que fica marcado pelo desejo, pela conquista, pela ambição, pela dualidade superior/inferior. Não pode – está instituído – haver compaixão, amor pelo próximo, sob pena de podermos dar a outra face – que está, erradamente, conotado com dar a parte fraca. Não pode porque não se pode perder em futebol, ponto. Mas digam-me um clube, uma equipa, um jogador, um treinador que nunca tenha perdido! A não ser que tenha feito meia dúzia de joguitos – ou jogue fora das quatro linhas – nao acharão um que seja relevante. Isto porque o futebol está intimamente ligado às nossas reações, e é concebido para as monitorizarmos. Assim, de entre os melhores clubes, equipas, jogadores e treinadores contabilizaremos aqueles que têm a melhor reação à adversidade. Sim, lá dentro o futebol não brinca e tira, na maior parte das vezes, o pior de nós. Daí que a conversa da identidade valha pouco – a não ser que a nossa identidade seja o melhor de nós, o que, convenhamos, me parece muito pouco coerente.

Isto porque no todo da nossa identidade está também o pior de nós. Não perder a identidade é, sobretudo, uma falácia, até porque o futebol parece, na maior parte das vezes, desenhado para nos tirar do sério, para não conseguirmos avançar quando mais precisamos, para não conseguirmos ter bola quando mais a devemos ter, para não conseguirmos marcar quando mais necessitamos que a redonda toque o cordame. Quem conseguir ficar sempre cool, calm and collected que atire a primeira pedra. Quem conseguir, na vida, ser sempre a sua melhor versão que solte o primeiro assobio, que grite o primeiro insulto, que sacuda o primeiro lenço branco. Era um departamento tipo CSI na vida pessoal de cada um e, talvez, muito do desajustado comportamento interligado com futebol talvez acabasse. Mas, até porque a conversa já vai longa, que tem isto a ver com o Braga de Rúben Amorim?

Fortíssima reacçao à perda abriu via verda para Paulinho construir com Horta o primeiro golo do jogo. Galeno deu ainda outra opçao



Tem que ver, sobretudo, pela mudança de sentimento, pela mudança de reação à adversidade constantemente presente num jogo de futebol. Sim, a evolução táctica é notória para a anterior versao (a luz que deu a Salvador em Janeiro ter-se-ia apagado no Verao?) mas, carecendo de confirmação que os próximos jogos darão, a mais-valia táctica e estratégica (como com Abel) não se esgota em tentativas e reações mais baixas do que o amor de quem sabe que para ganhar jogos é, sim, preciso criar muito, cumprir muito, ter protagonismo na maior parte deles, arranjar um ponto de vantagem em relação aos adversários e, nao esquecer mesmo, marcar! Mas sobretudo manter o controle mental quando jogo parece querer arrancar o pior de nós à força

Poderá aí estar a diferença entre Abel e Amorim. Não querendo entrar por caminhos mais esotéricos, sei que a reação faz toda a diferença. Nao só a acçao e o plano – que a mente nao consegue escalpelizar na totalidade até a bola rolar – mas também a reação à adversidade e aleatoriedade que o jogo traz. Por isso uma reação equilibrada permitirá sempre que a superioridade no jogo e criação de chances se traduza mais vezes em vitória. E ao contrário dos Bragas de Peseiro, Fonseca e Abel que somaram n boas exibiçoes contra os grandes do futebol portugues, a diferença para Amorim é aquela coisa que muita gente quer esquecer na análise: a p#/@ agora entra!
Presença na área nos momentos finais determinante para o desfecho. E assistencia de Raúl, depois do cruzamento, saíria até para um sítio complicado para marcar: 2.º poste.


Tem havido desperdício, é certo. Ontem, contra o Sporting, no jogo que ditou o apuramente dos bracarenses para a Final da Taça da Liga, só Galeno poderia ter decidido o jogo sozinho. Veja-se o craque que viajou do Dragão para a Pedreira como exemplo. Muito cria, muito corre, muito brilha mas pouco acerta. Consiga fazer-se dele um gajo com golo e temos ali um daqueles rapazes que traduzidos em cifrões vao para uma brutalidade de oupa oupa! A sorte é que Ricardo Horta fez numa tentativa aquilo que um incansável – mas extremamente perdulário- Galeno não conseguiu em tantas – que invariavelmente decidiriam a partida muito antes do Sporting de Silas esboçar uma reação. Mas os comandados de Silas empataram e atiraram para o lixo do marcador aquilo que o Braga tinha criado, e impedido, até aí. Mas quem acredita em injustiças andará sempre mais longe do sucesso. Quem com bodes expiatórios se desculpa, não tem a estabilidade de se recompor (ou de nunca ser emocionalmente abanado) e ir para cima, fazer o seu jogo e marcar (por Paulinho que não só joga e cria como também marca!). Sim, o Sporting é uma sombra dele próprio e Silas dificilmente conseguirá fazer algo daquilo. Culpa da direção que teimou em vender-lhe tudo o que lhe daria um ponto de vantagem (resta Bruno que também se irá brevemente) e sobretudo pela incapacidade gritante de manter a bola no meio-campo ofensivo. Resta saber se por demasiada procura da verticalidade, se por ordem, se por incapacidade dos jogadores. Não consigo precisar. O que sei é que duas propostas que no papel seriam iguais, no campo andaram a anos-luz uma da outra. E a expulsão de Bolasie não explica tudo. Quando muito explica a maior dificuldade do SP. Braga para marcar o segundo.

Sp Braga-Sporting, 2-1 (Ricardo Horta 8 e Paulinho 90; Mathieu 44)

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