Sporting – há sair e sair, jogar e dificuldades em progredir

Nos jogos frente ao Benfica e Braga foi notória a prioridade que o Sporting deu à construção curta e apoiada desde trás. Exceptuando a 2ª parte contra os encarnados, onde conseguiu sair várias vezes com sucesso, fica claro que há questões posicionais e decisões com bola a rever. Se o objectivo passa por ultrapassar adversários consecutivamente (deixá-los atrás da linha da bola) para chegar ao último terço em melhores condições para finalizar, o Sporting foi inconsistente nesse propósito. Como abordaram os leões a 1ª fase de construção?

vs Benfica

– Em 4x2x3x1 com Doumbia e Wendell no duplo pivô a fazer frente ao 4x4x2 adversário que inicialmente apresentou uma pressão alta. Quando ambos estavam nas costas da 1ª linha de pressão   encarnada (Vinicius + Chiquinho) permaneceram demasiado juntos, à largura e profundidade, o que facilitava a marcação adversária. Weigl e sobretudo Gabriel saíram facilmente a pressionar,  quase sempre com a ajuda dos alas.

– Quanto maior a dificuldade em avançar no campo e ganhar metros, maior é a tendência de Bruno Fernandes para se juntar, como na imagem. Pese embora a sua qualidade, a circulação raramente melhora nestas circunstâncias, pelo aglomerado de jogadores que se juntam num espaço muito pequeno, facilitando assim a tarefa a quem defende.

– A ideia de Silas parece ser que um dos extremos, ou até os dois, se desloquem para o espaço entre linhas, deixando os laterais a dar não só largura máxima como profundidade (na imagem acima é visível Ristovski junto à linha defensiva encarnada e Camacho por dentro). Mas dado o posicionamento do duplo pivô e a forma compacta como o Benfica defendeu, o Sporting raramente conseguiu progredir desta forma, sendo que mesmo quando a bola entrava entre linhas faltava apoio a quem recebia.

– Houve momentos em que o Sporting procurou construir com uma linha de 3. Doumbia, ou em alternativa Wendel, juntou-se assim aos centrais na 1ª fase de construção. A estratégia do Benfica na 1ª parte passou  por “empurrar” a circulação para o corredor lateral (Vinicius e Chiquinho fechavam o meio e “convidavam a jogar por fora). Mesmo quando o Sporting conseguia progredir, a maioria das vezes por Mathieu, deixando Chiquinho e Vinicius atrás da linha da bola, os avançados do Benfica acompanhavam e dificultavam mudança de corredor. Mais atrás à direita, mais solicitada, ala-médio-lateral (Pizzi-Weigl-André Almeida) juntavam-se e quase sempre recuperaram a bola: AA sempre preocupado com a referência à largura, normalmente o lateral, enquanto Pizzi e Weigl com o corte de linhas de passe, nomeadamente para o meio. Ajudou a condução de Mathieu estar condicionada e ser efectuada muito próxima da linha lateral.

– Um aspecto que condicionou a progressão do Sporting, nomeadamente a condução dos centrais, foi não atrair adversários ao portador da bola, fazendo com que quem recebesse o passe ficasse mais tempo livre. Vinicius e Chiquinho, apesar de estarem em inferioridade numérica, conseguiram sempre impedir a mudança de corredor quando a bola entrava no central do seu lado. Este “solução” não é muito utilizada pelos jogadores do Sporting, que parecem mais preocupados em fazer a bola chegar a quem está em zonas mais exteriores rapidamente.  A questão prende-se no facto de que sem o engano e criação de dúvida, promovidos pela condução e posicionamentos, a tarefa de quem defende fica mais facilitada porque não vê os jogadores da frente da pressão serem ultrapassados, acabando, por ajudar a defender (por outro lado, o primeiro toque na recepção de Wendell e Doumbia nem sempre foi o melhor, condicionando também a sua acção. Foi um momento aproveitado pelo Benfica para pressionar como mostrado 

vs Braga

– As dificuldades na saída continuaram em Braga, no jogo da taça da Liga. Battaglia entrou para jogar à frente da defesa, com Doumbia e Wendel a completarem o meio-campo. Bruno Fernandes passou para a esquerda. Pelas características dos jogadores esta distribuição acabou por exponenciar os problemas vistos na 1ª parte com o Benfica. Com Doumbia e Wendel sempre próximos de Battaglia, e entre si, e dadas as dificuldades colectivas, como quase sempre nestas circunstâncias, também Bruno Fernandes baixou mais que Bolasie na partida anterior

– O Braga apresentou um 3x4x1x2 que causou dificuldades ao Sporting. Os dois médios ofensivos, Horta e Galeno, juntaram-se a Paulinho na frente. Assim, Coates e Mathieu estiveram quase sempre pressionados, com atenção especial ao francês, sendo visível, a preocupação de Horta em cortar linha de passe para fora, direcionando a circulação para que Fransérgio saísse na pressão ao médio do Sporting. Novamente, a falta de capacidade do Sporting atrair adversário para jogar nas costas da pressão foi evidente.

Em ambos os jogos, os problemas do Sporting em construir acabaram várias vezes nos pés de Max. Não conseguindo a equipa avançar, o guarda-redes era o último reduto de segurança e a posse de bola leonina terminou nos seus passes mais longos, capítulo no qual mostrou ter ainda caminho a percorrer

As mudanças vs Benfica

– Na 2ª parte do derby a distribuição em campo do Sporting mudou. Doumbia juntou-se quase sempre aos centrais  na 1ª linha de construção, pelo menos um dos laterais permaneceu baixo e Bruno Fernandes, bem como os extremos, apesar de baixarem pontualmente tiveram como preocupação permanecer adiantados e entre a linha defensiva e média do Benfica.

– Na globalidade esta distribuição fez com que o Benfica se alongasse no campo. Os alas adiantaram-se para pressionar laterais mas Gabriel e Weigl foram mais conservadores e, pelo menos um permaneceu recuado por ter de controlar mais o espaço nas suas costas, pois existia referência próxima. Isto deu ao Sporting a possibilidade de finalmente conseguir jogar nas costas dos avançados encarnados e chegar com mais frequência, e qualidade, ao meio campo ofensivo. O Sporting passou a sair em 3+1 com Wendel descaído para a esquerda

Wendel aproveita o espaço para conduzir a bola até à direita onde está Ristovski que não dá profundidade máxima como na 1ª parte e assim recebe bola

Na imagem abaixo é possível ver como Wendel e Doumbia estão praticamente na mesma linha na profundidade, ocupando porém larguras diferentes. Com os restantes comportamentos passou a ser mais fácil explorar as costas da 1ª pressão do Benfica

Sobre Lahm 42 artigos
De sua graça Diogo Laranjeira é treinador desde 2010 tendo passado por quase todos os escalões e níveis competitivos. Paralelamente realiza análise de jogo tentado observar tendências e novas ideias que surgem no futebol. Escreve para o Lateral Esquerdo desde 2019. Para contacto segundabola2012@gmail.com

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