Desenvolver o Individual para crescer o Colectivo

Para muitos a quarentena tem sido aproveitada para ver jogos de outras eras. Mesmo aqueles Europeus (1996, 2000) que nos pareciam tão próximos mostram-nos um jogo bastante diferente daquele que podemos observar na actualidade.

Jogos que nos remetem para uma era em que o INDIVIDUAL resolvia maioritariamente os jogos. Mesmo as melhores equipas, surgiam fruto de um “bom casamento” das individualidades. Os comportamentos grupais partiam de vários “Eu” e não de uma ideia comum pensada e treinada de forma consciente. Salvo algumas excepções, como sempre apresentou por exemplo, Arrigo Sachi, naturalmente.

Seguiu-se uma era (na Europa, essencialmente) onde se procurou potenciar ao máximo comportamentos colectivos. O movimento de um, obriga ao movimento de todos. Tudo se interliga – Movimentos – Posicionamentos – Decisões.

Mais do que por se cortar liberdade individual, mas sobretudo porque os próprios processos de treino – Formação e Rendimento – se centraram quase exclusivamente no “nós”, ignorando o “eu”, temos hoje um sem número de jogadores bem cotados no Alto Rendimento que têm deficiências claras em parâmetros individuais determinantes para o tal rendimento.

Um defesa central tem de saber posicionar-se, orientar o corpo por forma a poder reagir mais rápido, mas se não souber como saltar – aplicação da força – não adiantará estar tudo certinho em tudo o mais, porque o ponta de lança irá fazer golo de qualquer das formas, saltando por cima do bem posicionado central.

O médio tem de estar no sítio certo, posicionado para poder receber e dar seguimento ao lance, tem de chegar rápido. Todavia, se na recepção perde um segundo mais porque não sabe a forma mais eficiente para receber cada bola, vai atrasar o ataque da sua equipa e permitir reorganização adversária, não lhe valendo de nada até ter estado no sítio certo…

Chegamos a um momento em que depois de tanto se pensar somente no Colectivo – Afinal o que estava em falta nos grandes jogos que hoje assistimos de um passado não tão distante, é o INDIVIDUAL que precisa de ser estimulado… com a certeza de que com tal crescimento, evoluirá bastante aquilo que a generalidade das pessoas tem como visão do que é colectivo. Afinal, fundem-se um no outro, e mesmo para quem lida diariamente com a evolução de um e outro, nem sempre é tão claro assim fazer tal distinção.

Quando se partilha uma jogada fantástica em que a bola percorre diferentes espaços intersectoriais, atribui-se sempre tal a um bom processo colectivo do treinador. Contudo, é o individual que faz ou não tal poder ser bem sucedido. Uma recepção menos eficiente (individual) e já ninguém elogia o Colectivo.

Não são muitas as novidades táticas dos últimos anos. Mais recentemente chegou a moda dos sistemas com última linha a 5, que permitem controlar melhor o espaço em largura, e ainda que um dos elementos possa sempre sair sem dúvidas na bola, porque a linha continua extensa. Embora, seja um sistema que requeira sempre laterais de grande pujança física se é que se pretende que a equipa seja também protagonista ofensivamente. Mas, é muito pelo DESENVOLVER DO INDIVIDUAL – no pormenor – nunca descurando nem perdendo os ganhos que o COLECTIVO nos trouxe nos últimos anos, que chegará o próximo salto evolutivo.

Você quer sair no Ataque Rápido, dá a bola no médio, o médio segura a bola de uma forma diferente… o ataque rápido PÁRA. Vai dizer que a equipa não tem velocidade. NÃO É VERDADE!

Jesualdo Ferreira

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