Flamengo – o bom, o mau e o assim assim

 O Flamengo é por estes dias uma equipa em reconstrução. Pegando no último jogo contra o Botafogo, o objectivo deste post é ver comportamentos ofensivos, identificar o que já é influência de Dome e por onde melhorar. 

Ultrapassar pressão adversária e decisão no último terço

Começou bem o Mengão no passado domingo. O Botafogo tentou pressionar com os 3 jogadores mais adiantados mas a linha média permanecia atrás, este posicionamento originou espaço entre avançados e médios do Botafogo que o Flamengo aproveitou para progredir no campo. Com os extremos a pressionarem em zonas interiores, quando a bola entrava nas suas costas, o lateral ficava livre para receber a bola do médio e conduzir bola. Nota para os jogadores da frente que arrastavam a linha defensiva para trás – e talvez seja este um dos motivos para Bruno Henrique ter jogado como avançado no meio, uma vez que, nos momentos certos soube levar os centrais para trás. No entanto, o primeiro dado que salta à vista é a pressa dos jogadores da casa em atacar a baliza quando chegaram ao último terço do campo. 

Na fase inicial da partida quando a bola chegava às imediações da área, e sem grandes mudanças de corredor, a decisão passava pela procura do cruzamento mesmo que não existissem boas condições dentro da área para finalizar. Assim, o Flamengo não procurou o espaço entre linhas nem rodar a bola por trás para encontrar novos espaços, forçando a progressão sem fazer a bola voltar zonas mais centrais. Pese alguma exposição o Botafogo controlou neste momento.

Segundo lance com Flamengo a ultrapassar primeira pressão e a jogar do lado contrário. Na mínima oportunidade jogadores optam pelo cruzamento mesmo se têm pouca gente na área para finalizar, e menos que o adversário. Ganham constantemente o ressalto, no entanto, o ataque não dura muito tempo. Linha defensiva do Botafogo controla bolas aéreas 



Posicionamento dos médios e Gabriel Barbosa

No tipo de jogo que Dome parece querer implementar há uma palavra fundamental a ter em conta: timing. No caso dos médios interiores quando devem recuar para receber? Quando devem ficar entre linhas, no espaço nas costas entre ala e médio contrário e esperar que a bola entre ai? Quando devem arrastar marcação e ir ficar junto à linha defensiva? No caso do pivô, Arão quando salta pressão, ou seja, qual o momento em que fica mais perto dos médios para ser apoio na circulação que dos centrais? Este sector é talvez aquele que em termos de posicionamento mereça mais atenção e correcção ofensivamente. 

Everton Ribeiro, mas principalmente Diego Ribas, mostraram muita tendência para pedir a bola no pé, recuando no campo ao mesmo tempo quando não parecia ser necessário. Com a agravante de Diego, interior direito, se juntar muito ao corredor central/lado esquerdo. Se na primeira situação a equipa perde profundidade e capacidade de jogar entre linhas num primeiro momento, com os 3 médios muito juntos fica também sem largura. Isto facilita a aglomeração do adversário em torno da bola. É da maior importância saber quando esperar na posição e quando recuar e jogar em função dos colegas de sector.

O posicionamento de frente para a linha média de Diego e Everton também é consequência do aparecimento dos extremos entre linhas mas os timings não são os melhores, até porque raramente Gabigol e Bruno Henrique receberam bola nesse espaço, limitando-se a arrastar linha defensiva.

Outra das formas que o Flamengo teve de progredir passou pelas trocas de posição entre Gabriel Barbosa e Everton. Gabigol tem mostrado preferência por recuar e pedir bola no pé, e neste jogo mesmo jogando a extremo várias vezes recuou para fora da linha média, o que “obrigou” Everton Ribeiro a permanecer no espaço entre linhas, sendo que, depois os papeis invertiam-se. Isto provocou alguma indefinição no Botafogo e permitiu ao Fla avançar, nomeadamente no espaço entre o médio interior e o ala que não baixava.

Em algumas situações, e com a bola à largura no lateral, Everton Ribeiro antes de recuar para pedir a bola no pé, fez um claro movimento para a frente, arrastando adversário, para depois surgir com bola A vantagem desta decisão é que permite à bola entrar entre linhas mais cedo e em boas condições, já que, tem o apoio do extremo. Neste lance é mais uma vez o posicionamento de Diego que impede a progressão mais perigosa no corredor central

O posicionamento de Arão também merece reparo. Se com a bola no pé soube tomar boas decisões e foi importante para garantir qualidade na circulação, sem ela deixou a desejar principalmente na 1ª parte. O maior problema foi a forma como lidou com a marcação individual do avançado Babi. Arão não soube reconhecer o espaço entre o seu marcador directo e a linha média do Botafogo e “saltar a pressão”, ocupando essa zona quando necessário conferindo apoio aos médios. Por outro lado, quando a bola vinha da frente para trás não se adiantou. Esta acção iria criar dúvida em Babi, se acompanhava Arão permitiria aos centrais do Fla conduzir a bola com espaço, se pressionasse os centrais, o pivô do Fla ficava em boas condições de receber a bola nas suas costas.

Segunda situação com hipótese de receber no espaço entre avançado e linha média

Na segunda parte neste lance Arão tem a preocupação de se libertar e ocupar o espaço livre entre o avançado e a linha média. É o suficiente para receber com espaço e definir com mais tempo.

A paciência e os passes para desequilibrar

Pese embora os posicionamentos ofensivos nem sempre parecessem ser os melhores para fazer a bola avançar, o Flamengo contornou essa questão com paciência na circulação de bola. Quando não foram precipitados no critério as sequências de passe permitiram chegar à frente em boas condições mesmo os jogadores não estando nos locais mais vantajosos. Só alguma ineficácia e más decisões no último passe fizeram com que não tivessem marcado antes do intervalo.
Na melhor oportunidade da 1ª parte, o Flamengo começa por circular a bola à entrada do seu meio-campo, atrai o Botafogo até à sua área para depois avançar da esquerda para a direita criando uma situação de 1×1 e respectivo cruzamento. Bruno Henrique sem oposição finalizou para uma grande defesa do guarda-redes.

Na segunda parte o Fla alternou entre momentos com a bola em que teve muita paciência, circulou pelos 3 corredores à procura do espaço para desmontar a defesa do Botafogo (tarefa nada facilitada pelo posicionamento dos jogadores como já demonstrado) com ataques muito rápidos e raramente com boas decisões, situação natural dado o momento na classificação.
A entrada de Thiago Maia por troca com Diego, aos 68 minutos, veio dar maior critério. Antes de se fixar mais próximo de Arão no 4x2x3x1 final, Maia ao estar mais vezes e mais cedo no espaço entre linhas foi capaz de dar maior fluidez à circulação e permitiu ao Fla chegar mais rapidamente à baliza adversária. No lance do golo anulado percebe que tem de ser solução à frente, uma vez que Bruno Henrique recua para ser apoio frontal, tem bom timing de entrada na linha defensiva e decide muito bem com bola ao assistir Bruno Henrique. Nos melhores momentos o Mengão foi capaz de chegar junto à área do Botafogo o que lhe permitiu algumas superioridades decisivas. Neste caso também Felipe Luís acompanha a progressão, desde o recuo do avançado até à bola ir para a área, e é decisivo.

Definição para desequilibrar e último passe

Um dos problemas do Flamengo foi a incapacidade de aproveitar as boas vantagens que criou já perto da baliza do Botafogo porque o portador da bola optou por cruzar ou rematar à baliza quando aparecia um colega em situação mais vantajosa. O Mengão foi capaz, pelo efeito que a posse de bola teve no adversário, de criar situações de superioridade numérica, 2×1 nos espaços interiores. Com o lateral do Botafogo fixado e colega a entrar nas suas costas, o portador da bola preferiu rematar quando com um passe criava uma óptima condição de finalização/assistência. 
O mérito colectivo de criar uma superioridade assim é inegável mas faltou melhor definição

Conclusão

Nas equipas que procuram um jogo baseado no domínio da posse de bola é natural na fase inicial do processo é natural acontecerem imprecisões que derivam umas vezes em passes a mais e outras vezes passes a menos. Se os jogadores estivessem melhor posicionados, provavelmente o Flamengo teria chegado mais vezes à baliza do Botafogo precisando de menos tempo (como até chegou a acontecer). Por outro lado, foi a paciência de quem tinha bola, imprescindível quando o posicionamento nem sempre é o adequado, que permitiu sequências de passe interessantes responsáveis por algumas das melhores oportunidades do Mengão no jogo e que se tivessem dado golo certamente fariam adeptos e jogadores acreditar mais na ideia actual.
Dome terá uma semana completa para preparar o jogo com o Santos este domingo. Pese os problemas em transição defensiva que podem colocar em causa todo o trabalho ofensivo, a assimilação das novas ideias é notória. No entanto, para a crença na nova era é fundamental as vitórias são fundamentais. 

Sobre Lahm 42 artigos
De sua graça Diogo Laranjeira é treinador desde 2010 tendo passado por quase todos os escalões e níveis competitivos. Paralelamente realiza análise de jogo tentado observar tendências e novas ideias que surgem no futebol. Escreve para o Lateral Esquerdo desde 2019. Para contacto segundabola2012@gmail.com

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