Contrapressionar – do treino para o jogo

Olhando para os momentos do jogo, o de transição defensiva é aquele definido pela passagem do processo ofensivo para o processo defensivo, imediatamente após se perder a posse de bola (Castelo, 2009).

O Liverpool de Klopp, dentro deste momento do jogo, admite como princípio orientador do modelo o de gegenpressing/counterpressing – após pressão que provoque uma perda da posse de bola, deve ser executada uma contrapressão concertada e agressiva sobre a bola (e não recuar as linhas para entrar em organização defensiva ou esperar por indicadores para pressionar) para recuperar a bola o mais perto possível da baliza adversária e em momento de desorganização do adversário (que será apanhado no seu momento em que transita para posicionamento ofensivo, abrindo os espaços que se quererá explorar).

Talvez seja interessante, mais do que identificar este momento no jogo dos Reds, perceber como operacionalizar este princípio em treino. Para tal, o protagonista deste artigo (e que nos guiará pelo processo de modelação do princípio para comportamento de ação) curiosamente não será Jürgen Klopp mas sim o seu principal treinador-adjunto e com mais responsabilidade sobre aspetos metodológicos do treino (e com uma conhecida passagem por Portugal): Pepijn Lijnders.

Do treino

“Each exercise should have this character, directly defined by our specific way of playing.”

Pepijn Lijnders

A seguinte unidade de treino foi planeada por Pep para uma formação de treinadores na FAW (federação galesa de futebol), tendo como conteúdo de ensino macro da sessão o princípio de counterpressing. Pela ordem do vídeo abaixo:

  • Jogo reduzido – GR+3 v 3+GR com permuta: ao sinal do treinador, jogador troca com um dos colegas da mesma equipa em descanso e que tenha a mesma cor/letra atribuída. A colocação da fila/estação de descanso a uma determinada distância do espaço do exercício fará então com que o treinador possa gerar situações rápidas de reorganização (em termos numéricos) de igualdade para desigualdade e de desigualdade para igualdade, com e sem bola, fazendo com que surjam diferentes estímulos de pressão e contrapressão.
  • Jogo das transições por vagas – de 2 v 0+GR até GR+8 v 8+GR: após finalização, 2 jogadores transitam para comportamento defensivo em 3v2, saindo então vagas em 3v4, 6v4, etc., com a bola a poder sair dos corredores ou pelo centro, proporcionando sempre novos estímulos no momento de transição defensiva. A princípio de contrapressão surge implícita no exercício sempre que a equipa em superioridade perde a posse e reage agressivamente para a recuperar ou quando finaliza e tem imediatamente de defender uma vaga em número superior.
  • Organização – GR+10 v 7(+3)+GR: exercício de organização com a equipa de 10 de acordo com o sistema contemplado no modelo, sendo que um treinador (corretamente posicionado em campo e nos momentos certos e definidos previamente), aquando da posse de uma das equipas, pode repor imediatamente a posse no pé da equipa adversária, ativando momentos de contrapressão.

Para o jogo

“It’s quite simple – it’s just about the continuing stimulation of our mentality to conquer the ball as quick and as high up the pitch as possible.”

Pepijn Lijnders

A análise de performance permite então avaliar o grau de aquisição do conteúdo de treino e perceber o que falhou para corrigir no microciclo seguinte. Para tal, seguem alguns momentos de tentativa de aplicação do counterpressing no último jogo do Liverpool, frente ao Brighton para a Premier League.

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Sobre Juan Román Riquelme 97 artigos
Analista de performance em contexto de formação e de seniores. Fanático pela sinergia: análise - treino - jogo. Contacto: riquelme.lateralesquerdo@gmail.com

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