RIR (Reagir, Inovar, Reciclar)

E se ninguém dá palco ao Tino, será um pouco por acaso também que o Lateral Esquerdo puxe o partido de Vitorino Silva para título. No entanto, e afinal de contas, ninguém tem culpa que a sigla e seu significado tenham feito o FC Porto RIR no final da partida frente ao Vitória – jogo em que os dragões tiveram de reagir à desvantagem, onde Sérgio Conceição foi obrigado a inovar (Sarr e Leite fizeram dupla de centrais durante bastante tempo devido a nova lesão de Pepe) e a reciclar o 4x4x2 inicial, substituindo Romário Baró aos 30 pelo joker que mudaria o jogo para dar a vitória aos portistas. Luis Diaz mostrou ser a peça que faltava, num jogo que poderia muito bem ter sido titulado como É o Quaresma, Estupiñan!. Isto porque os vimaranenses foram um osso duro de roer (com a defesa menos batida da Liga até então) e tiveram em Ricardo Quaresma e em Oscar Estupiñan esteios capazes de fazer assustar o campeão nacional.

Dupla desatenção de Uribe: 1) na saída-de-bola e a deixar buraco no corredor central, e depois a não conter a investida de Rochinha deixando-lhe outra vez caminho aberto. Com Zaidu ainda em modo profundo, Sérgio Oliveira não teve sequer tempo de esboçar cobertura



Com o alerta máximo activado, depois da descompressão que a conquista da Supertaça poderia ter originado durante a semana, os azuis-e-brancos (ainda que com toda a atenção que Sérgio dá ao lado mental e motivacional) demoraram a encontrar-se num relvado que os minhotos iam dominando territorialmente nos instantes iniciais. Talvez o golo de Rochinha (com direito a desvio que traiu Marchesín) não fosse a consequência ou réplica perfeita para o que a equipa de João Henriques ia criando nesses minutos iniciais, mas o que é facto é que as dificuldades que o FC Porto ia tendo para ligar o seu jogo para chegar onde mais gosta (último terço) atingiram o seu patamar máximo numa saída-de-bola que acabou a beijar o cordame da baliza do argentino. Erro de Uribe na circulação e Rochinha, sem contemplações, a mostrar que também a Liga Portuguesa pode castigar os erros dos grandes.

Ao seu estilo, FC Porto usou e abusou da procura pela profundidade face a um corredor central muito preenchido. O vício vertical haveria de lhe ser útil para depois empurrar e prender o Vitória às cordas


Algo que se pede há muito (uma Liga mais competitiva) surge quase em contra corrente ao desejo hegemónico de que sejam os grandes a dominar e a ganhar sempre. Mas se assim é que se quer, então que se lhes exija algo parecido com o que o FC Porto fez, nesta terça-feira, em Guimarães. Longe de ser brilhante, mas com o desejo habitual, faltou à equipa de Conceição quem desse aquele toque de imprevisibilidade. E se aos 15 o desabafo do técnico foi perfeitamente audível (Vamos entrar no jogo, c#$$%”/!), Sérgio teve mesmo de passar das palavras aos actos, quando colocou Luis Diaz em campo. E não teve de esperar muito até sentir o impacto que o colombiano criou na partida.

A luta das linhas defensivas é cada vez mais microscópica e cada detalhe conta. Isto porque o ataque a essas linhas é também cada vez mais letal e preciso. Tudo treinado e tudo previsto mas impossível de controlar. Senhoras e senhores, Marega… uma vez mais

Duelo esse que até então tinha visto o FC Porto, numa fase inícial, sem conseguir fluir a partir do seu meio-campo defensivo. E que numa etapa intermédia viu os dragões não conseguir ligar pelo último terço. Com o corredor central bem fechado pelo 451 de Henriques, a saída do lateral com automática procura da profundidade não estava a dar o total resultado pretendido. Mas a metade em que essas investidas se ficaram, puxaram a equipa para cima. E com Diaz, na esquerda, a poder ser o factor de instabilidade que o FC Porto (e todas as equipas precisam), os adeptos do campeão nacional puderam ver, a fechar a primeira parte, algo muito mais próximo da visão de Sérgio para equipa: adversário amarrado às cordas, sem conseguir sair, com a bola a rondar a àrea, em investidas que se repetem paralelamente às conquistas repetitivas das segundas bolas. Um assédio que, desta vez, redundou na procura de Sérgio Oliveira à (habitual) entrada de Marega, que o maliano usou para assistir outro dos homens do jogo: Mehdi Taremi, que começa a ter o grau de eficácia na área necessário a merecer a confiança do seu treinador e ao qual lhe junta a imperativa dose de sacrifício enquanto incomoda ou quebra saídas-de-bola adversárias.

Detalhe absolutamente fabuloso de Quaresma, a virar-se de frente para o jogo enquanto temporizava para cruzar. Uma delícia de pormenor impossível de capturar em imagem parada – imagem essa que deixa Sarr em sarilhos, pois a bola esteve descoberta tempo suficiente para o central subir. E hoje, como já dito, tudo terá de ser ao milésimo, para que o treino e a previsão dê algum controle



Um cenário que lançou a expectativa de que esse assédio portista à baliza de Bruno Varela aumentasse, especialmente quando o Vitória não tentava subir apoiado, apostando ao invés as fichas numa possível fuga de Estupiñan a Diogo Leite e Sarr. O FC Porto, porém, não aproveitou o domínio territorial e o élan que se criou no final do primeiro tempo e ficou a ver Quaresma utilizar o seu talento para descobrir uma brecha na organização defensiva portista. Estupiñan (que promete ficar a dever muitas ao Mustang) foi mais lesto que a nova dupla de centrais e obrigou o FC Porto a nova dose de esforço para contrapor um duelo que, lembramos, poderá ser bandeira de como a Liga Portuguesa se quer. Isto porque há muito que os grandes erram (e não é pouco) mas há poucas equipas que tirem partido desses erros. E esse conforto não cria transcendência.

Sem apoio e sem pedir licença, Diaz é… magia! Carregou, criou e cruzou no segundo golo dos dragões


Pois bem, obrigado o FC Porto teve de encontrar a inspiração e a rota. E essas duas estavam na mente e nos pés de Luis Diaz que, primeiro, carregou na esquerda para servir Taremi (2-2, 65′) e que, depois, recebeu de forma sublime (até os defesas pararam para ver) para de rompante (!) enfiar de bico a bola na baliza de Bruno Varela. Para ver e rever, não só o golo como toda a exibição e a mudança que a mesma fez num jogo que se quer como exemplo de competitividade nas ligas profissionais nacionais.

1 Comentário

  1. Ola Laudrup,

    Bom artigo, como de costume. Tem razão quando afirma que o castigo imediato pelos erros é um motor que tornaria o campeonato português muito mais competitivo (se percebi bem). Porém, do meu ponto de vista, acho que ha uma variável igualmente poderosa que tenderia o campeonato a um nível de exigência maior, explico. Varias vezes, constato que no campeonato português, o menor contacto entre jogadores é automaticamente apitado, os jogadores sabem disso e tiram partido disso. No ultimo terço, o número de pressing abortados devido a “faltas” apitadas é simplesmente enorme. Muitas vezes, o defesa que é pressionado cai ao menor contato e o árbitro apita imediatamente. Portanto, é muito difícil recuperar a bola nos últimos 30 metros entrando em contato com o adversário. Estou convencido de que se os árbitros deixassem jogar como na Inglaterra, o nível de concentração dos jogadores seria máximo, pois saberiam que o menor erro pode ser sinônimo de gol do adversário. Portanto, acho que a competitividade aumentaria significativamente se o tempo de jogo util fosse alongado e com ele a intensidade.

    Bom ano novo, abraço malta.

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