Braga-Porto: Editor’s Cut

Não seria um clássico dos tempos modernos se não lhe incluíssem a componente emocional. No segundo Braga-Porto no espaço de três dias, o final da história acabou por ir a dar ao mesmo: empate dos minhotos no final da partida, desta feita aos 90’+12. Mas para chegarmos ao momento do golo de Fransérgio, a história terá de passar pela estratégia que Carlos Carvalhal e Sérgio Conceição fizeram subir à Pedreira. E sendo que esta foi a enésima demonstração de que o FC Porto tem uma abordagem camaleónica ao jogo, a tentativa de encontrar explicações para o press or drop dos dragões pode contar muito do que foi o jogo. Isto porque o FC Porto é aquela equipa que, sabemos, tem o pressing no seu ADN. Mas, nesta época, são já demasiadas as vezes que o colectivo azul-e-branco baixa linhas para tentar, depois, ferir o adversário. E, desta feita, voltou a sentir-se algo desconfortável com isso, especialmente na 2.ª parte.

FC Porto pareceu convidar o Braga a construir, esperando-o num bloco médio (com a defesa muito subida e atenta à profundidade. Primeira-parte correu sem problemas de maior, numa organização também ela assente no golo de vantagem



Até então, nos primeiros 45 minutos, o FC Porto havia alternado entre subir linhas e tentar estancar a fase de construção bracarense logo na sua saída, com o recuo para uma zona média do terreno – onde activava o pressing. E a diferença na escolha destas duas abordagens teve como ponte o golo de Taremi (9′), que foi como um toque de recolher da equipa para zonas, digamos, mais abrigadas. Mas antes que nos alonguemos, convém explicar que esta não é uma crítica à abordagem, e ao desempenho. É sim um constatar de algo que se vem repetindo e que pode ter imensas razões, mas que acaba por não ser decisivo para o desfecho da partida. E dizemos acaba por não ser decisivo, porque o golo de Fransérgio, já nos longínquos 90’+12, beneficiou de um recuo claramente forçado por duas expulsões. E o que falamos acima acaba por não ser decisivo porque à boa entrada do SP Braga na 2.ª parte, Sporar não conseguiu corresponder com acerto a oportunidades criadas pela largura bracarense (a mesma que forçava o Porto a ajustar).

Os dragões mostraram enorme conhecimento sobre a largura dada pelo Braga, com Díaz a dar ajuda extra nesse sentido. Mais baixo no terreno do que é habitual, o colombiano foi também solução para carregar jogo (algo que o FC Porto encontrou muita dificuldade para fazer no segundo tempo)


Ora, sem o pressing a incomodar as suas saídas, a largura dos laterais do Braga fazia baixar um dos alas portistas (Luis Díaz passou grande parte do jogo com essa missão), num abaixamento que poderia ter dado resultado se ao ganho da bola o FC Porto conseguisse corresponder com saídas rápidas. Mas, em contraste com uma primeira parte onde o FC Porto conseguiu ter mais bola e mais acerto a encontrar as suas rotas, na etapa complementar o acerto nas saídas começou a ser cada vez mais inexistente. Sendo que naquela que poderia ter tido algum sucesso (Díaz cavalgou ao seu estilo pela esquerda até finalizar) o FC Porto haveria de perder o seu melhor carregador de jogo. Algo que, ainda assim, não fez a mossa que Carvalhal gostaria, porque os dragões continuaram a controlar a largura e a confiar numa linha de seis para sacudir o que aparecesse – beneficiando também do Braga ter perdido total critério para jogar de outra forma que não directo. Contudo esse esforço estóico de uma organização que já tinha Loum no meio de Pepe e Mbemba, e Grujic a ajudar Uribe logo à frente dessa linha, não conseguiu resistir ao fuego emocional do colombiano – que acabaria também ele expulso depois de agredir um adversário. Aí, os arsenalistas aumentaram ainda mais a intensidade e o sobrevoar da bola sobre a linha defensiva deu, finalmente, em golo.

Depois da primeira expulsão (Díaz) a linha de seis foi mais declarada convidando o Braga ao jogo exterior e directo
Nos últimos instantes o FC Porto defendia como podia, tendo que entregar funções determinantes a jogadores que não estão habituados a tal detalhe. A bola é recuada para Gaitán e a linha defensiva acompanha o movimento. Quando a bola é cruzada, Sporar responde primeiro ao estímulo que Grujic e consegue finalizar ao poste (abrindo caminho ao golo de Fransérgio)

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*