Mehdi Taremi: All Around The Game!

Na sempre difícil deslocação a Famalicão, o FC Porto não claudicou. Num jogo que, ainda assim, esteve longe de ser um monólogo (pois esta equipa de João Pedro Sousa terá sempre de ser tida em conta), emergiu a qualidade de Mehdi Taremi e um grau de eficácia que cavou uma distância demasiado alargada para uns famalicenses bastante perdulários. Algo que poderá soar a crítica injusta mas que é, somente, parte do processo de crescimento de um conjunto com imensa qualidade e, até, objectividade no seu jogo. Características que tornam possível discutir se esta é a melhor versão do Famalicão que João Pedro já orientou. Sendo que qualidade não falta (como não faltou em outras versões), este Famalicão parece ser capaz de desdobrar-se para aproveitar melhor certos momentos do jogo do que os anteriores. Não só tem a inteligência de utilizar várias ferramentas (não se expõe tanto em construção, e é mais paciente sem bola) como tem agora o condão de ser objectivo, utilizar muito bem a profundidade e, por isso, poder ser uma bomba-relógio contra equipas como o FC Porto.

Esta equipa do Famalicão consegue explorar várias vertentes do jogo, sendo que a simplicidade e a objectividade conferem-lhe armas para colocar em sentido os grandes do futebol português. Já o havia feito na Luz e voltou, desta feita, a tornar o jogo em algo pouco controlável para o FC Porto. Simplicidade e rapidez na forma como se encontrou um portador que fique de frente para a linha defensiva, e a arma que é Puma Rodríguez no um-para-um, nunca deixaram os portistas totalmente confortáveis, mesmo num jogo em que se adiantaram bem cedo.



Um FC Porto que entrou pressionante, que marcou cedo (inteligência na procura da segunda bola e qualidade de finalização por um Evanilson em grande forma), mas que demorou a ter o jogo no mão. Tudo por culpa das já referidas qualidades deste Fama que não só sabe construir, como sabe também que o seu trio atacante pode surpreender qualquer equipa, em qualquer estádio. Contudo, faltou aquela confiança, aquele estado mental de certeza absoluta, que confere às equipas aquele peso extra na área. E por mais elogios que o Famalicão mereça (e continuará a merecer), a equipa está num claro processo de aprender a ser eficaz, especialmente contra equipas que o são (como o Benfica na passada semana, e como o FC Porto neste sábado). De facto, a toada que o jogo foi tendo previa ataques de parte a parte, discussão de jogo, mas não previa golos do Famalicão. Lá estiveram as aproximações, os remates desviados, as defesas do guarda-redes adversário, etc., mas nunca esteve lá a tal certeza que é imperativo ter-se para discutir (realmente) um jogo com os grandes. Lá chegará, certamente, este Famalicão que vê em Puma Rodríguez um jogador para várias tarefas (carregador, um-para-um, profundidade), em Jhonder Cádiz um trabalhador nato, e em Gustavo Sá (e Francisco Moura a partir da lateral) as pinceladas de qualidade-extra que se vêem pouco na Liga Portugal.

Inteligência de Evanilson na procura do espaço vazio à entrada da área deu-lhe tempo suficiente para preparar o remate perfeito de pé-esquerdo que abriu o marcador.

Por todas estas razões (que justificam falar-se muito deste Famalicão a ter em conta) esta é uma vitória que saberá imensamente bem a Sérgio Conceição. Como já referido, o FC Porto entrou pressionante, e marcou cedo, mas passou parte do tempo em prevenção e contenção de riscos. E a chave para isso foi o meio-campo e o bloqueio aos lançadores Zaydou e Topic, mas também a superioridade que se criou com um Mehdi Taremi em novas funções. Já o sabemos, o iraniano é pau para toda a obra. Não é um avançado comum, é sim um all-arounder. Mas desta vez as suas funções esticaram até à construção, garantindo desde logo superioridade no miolo. E o seu (excelente) trabalho não só garantiu a tal igualdade ou superioridade na construção, como foi premiado com um golo que deu mais oxigénio ao Porto nesta sempre difícil deslocação. O jogo corria para o intervalo, e o Famalicão corria em direção à baliza de Diogo Costa, mas foram os azuis-e-brancos a provar a importância destas conversas sobre eficácia quando Taremi aproveitou a condução de Galeno, o arrastar de marcação de Evanilson, a falta de lateral-esquerdo na linha defensiva para fazer o 2-0 e dar, lá está, aquela segurança extra para a segunda metade.

Momento em que Alan Varela ganha a bola define a jogada do segundo golo do FC Porto. Aquando do cabeceamento do argentino, a equipa do Famalicão encontra-se bastante aberta – esperando um momento ofensivo. Porém, o FC Porto ganha a bola e a reação para momento defensivo apanhou o lateral-esquerdo demasiado aberto para acompanhar a evolução da jogada: Galeno carrega, Evanilson prende a marcação e Taremi encontra o espaço entre central e lateral para facturar.


Uma etapa complementar que demonstrou de novo a qualidade do Famalicão, a qual nunca foi rentabilizada por um jogo exterior que demorava a encontrar correspondência na área. E enquanto João Pedro Sousa ia experimentando diferentes jogadores na mesma forma de atacar (Gonçalo e Cádiz deram lugar a Pablo e a Henrique Araújo), o FC Porto passou algum tempo num limbo entre ser a equipa pressionante e oferecer profundidade ou baixar completamente e retirá-la ao tridente ofensivo adversário. E à medida que o jogo se foi desenrolando, a aposta por um bloco que se tornou mais baixo gradualmente iria render mais frutos. Não só na segurança com que se controlou o tal espaço nas costas, como na criação do terceiro, e definitivo, golo – já depois da expulsão de Zaydou (81′) – onde Francisco Conceição pôde explicar mais uma vez que a eficácia é não é a cereja no topo de bola, é o ingrediente principal.

Posição híbrida de Taremi é também chave no golo. Repare-se como o iraniano se desloca em espaços onde é extremamente difícil fazer-lhe marcação sem desposicionar as organizações defensivas.

Famalicão-FC Porto, 0-3 (Evanilson 9′, Taremi 45’+4 e Francisco Conceição 87′)

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