O futebol é isto. Por Xavi.

Também a propósito disto.
“O que faço é procurar espaços. A toda a hora. Estou sempre à procura. A toda a hora, a toda a hora. Aqui? Não. Ali? Não. As pessoas que não jogaram nem sempre percebem como é difícil. Espaço, espaço, espaço. É como na PlayStation. Penso merda, o defesa está aqui, jogo para ali. Vejo o espaço e passo.”
O tipico número dez vai desaparecendo do futebol. A ideia de ter alguém a descer no campo para pegar na bola e conduzi-la até ao ataque já não faz sentido. Na actualidade, é quem não tem a bola que tem a missão de procurar espaços, de oferecer opções ao portador da bola, para que a equipa vá progredindo no campo.
“Há tantas opções de passe. Às vezes, até penso para comigo: o não-sei-quem vai ficar aborrecido porque fiz três passes e ainda não lhe dei a bola. É melhor dá-la ao Dani Alves, porque ele já subiu pela ala três vezes. Quando o Messi não está envolvido, é como se ficasse aborrecido… e então o próximo passe é para ele.”
As melhores equipas são as que conseguem envolver todos os jogadores neste jogo de apoios, de linhas de passe permanentes (sempre à direita, à esquerda, à frente e atrás do portador da bola). Quanto mais opções o portador da bola tiver, maior imprevisibilidade terá o jogo da sua equipa.
“Fico feliz, de um ponto de vista egoísta, porque há seis anos eu estava extinto; os jogadores como eu estavam em vias de extinção. Resumia-se a jogadores de dois metros, força, no meio, derrubes, segundas bolas, ressaltos…”
“Sou um romântico. Gosto que o talento, a habilidade técnica, sejam valorizados sobre a condição física”
A ideia de que um onze deve ter jogadores com diferentes características (uns mais fortes e resistentes para recuperar bolas, outros com maior capacidade de drible para resolver situações e ainda outros com bom indíce de finalização) é algo que não faz qualquer sentido. A premissa de que os criativos precisam dos tocadores de bombo, é de uma falsidade atroz. Na actualidade, nas melhores equipas, todos os jogadores são responsáveis por tudo.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

10 Comentários

  1. Que delícia de post. Faz todo o sentido. E quando gosto de futebol, é assim que jogo, a procurar espaço para me desmarcar, e espaço onde possa pôr a bola para os colegas. Chega de Robocops

  2. O melhor post deste blogue. Está aqui tudo. E tudo é futebol.

    O Xavi faz parte dos que, jogando, são adeptos. E isso faz toda a diferença.

    Lembro-me de uma entrevista ao Figo há uns anos em que ele dizia que, quando saía do estádio, esquecia o futebol, que não via jogos, que já chegava o facto de viver disto, o resto era para a família. Li aquilo indignado e intrigado. Ainda hoje não percebo a ideia de um jogador que liga e desliga quase como um operário que, saído da fábrica, pensa em beber uma cerveja e falar de mulheres. Sem futebol, sem nada.

    Temos a agredecer ao Barcelona a sobrevivência do futebol que gostamos.

  3. Gosto de muito do que se escreve neste espaço. E deixo um pedido – será que vamos ver análises ao jogo do Barça quando as coisas correm menos bem (ex. jogo com o Sp. Gijon)?

  4. Bem o Figo bem que pode desligar do futebol, mas não foi por isso que deixou de ser um dos grandes. Há muitos jogadores de classe mundial e que ficaram para história que diziam que nem gostavam de ver futebol, só de jogar…

  5. Boas,

    O Deco, depois de ter sido campeão europeu pelo FCP foi transferido para o Barcelona, portanto época 2004/05. Recordarei sempre uma entrevista dada a um jornal Português, após cerca de 3/4 meses em Barcelona, em que lhe perguntam qual o grande jogador daquele magnífico plantel que acabaria por vencer a Champions. Para meu espanto, na altura, ele responde, Xavi!?
    Note-se, era o Barcelona do Ronaldinho Gaúcho!
    Os excepcionais distinguem-se dos bons também por isto.

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