Genialidade de Moutinho, ele que é um extraordinário jogador, mas que nem prima por encontrar soluções inesperadas à velocidade a que o fez, beleza no gesto técnico de Hulk e eficácia na finalização de Rolando. Aos três minutos de jogo, ninguém pôde deixar de pensar que Machado voltaria, como é costume nos jogos recentes com FC Porto e SL Benfica, fora de sua casa ser goleado.
Não foi assim, todavia. E não fora a exibição fortissima, plena de domínio e segurança (traída por ineficácia e erros individuais) contra o Lyon, e estariamos aqui, provavelmente a tirar conclusões, quem sabe precipitadas, de que este não é o FC Porto de Villas Boas.
O Vitória tem vários bons jogadores. Mas, não é comum vermos o FC Porto a consentir tanto espaço entre sectores, quanto o que permitiu aos de Guimarães criar mais ataques, que aqueles que provavelmente um Lyon recheado de craques criou. Não fôra também Fernando ter estado ausente durante quase todo o último jogo de preparação, e seria fácil afirmar que Sousa tendo mais qualidade na forma como progride com a bola, não tem (e não tem mesmo) a influência do polvo. Não liga tão bem a equipa, não ocupa o espaço com a assertividade de Fernando e não parece tão agressivo na saída ao portador da bola. O seis no FC Porto tem um papel decisivo e há que continuar a observar Sousa para perceber se pode ser tão determinante quanto sempre foi Fernando.
Varela evoluiu como seguramente poucos esperavam. Sabe usar a sua velocidade e potência, mas não será nunca um jogador de boa técnica. Confiante, disfarça-o bastante bem. Como tem golos nas botas, tornou-se um jogador interessante. Confiante, repita-se. É que ontem foi muito pelo seu desacerto que o FC Porto foi menos perigoso que o habitual.
Hulk evoluiu na época passada. Villas Boas conseguiu filtrar comportamentos e torná-lo mais capaz de se relacionar com a equipa e com o jogo. Mas, não tanto assim. Mais do que uma alteração notória nas suas decisões, Hulk tornou-se substancialmente mais forte onde já era fortissímo. Na potência, na velocidade, nos duelos individuais. Com meio campo para correr e somente com um, dois adversários à sua frente, é imparável. Tão imparável quanto Ronaldo, por exemplo. É todavia, um produto inacabado. E assim permanecerá para sempre, desconfio. Está no contexto e no enquadramento ideal para se poder tornar um mito. Campeonato português e corredor lateral esquerdo de uma equipa capaz de lhe fazer chegar a bola em dois, três segundos após a sua recuperação, não dando tempo ao adversário de se reposicionar no campo de jogo.
E corredor lateral porquê? Essencialmente porque é o espaço no campo onde se torna mais fácil enquadrar com a baliza adversária, logo na recepção. A recepção no corredor central exige sempre um gesto técnico mais cuidado, desde logo porque não só a proximidade como a quantidade de adversários é maior. Jogar no corredor central, exige desde logo uma excelência na tomada de decisão substancialmente diferente, da que é exigida a quem ocupa os espaços laterais do campo. Se retirarmos Givanildo do corredor lateral com o actual enquadramento, não só se perderá alguém capaz de por si só resolver jogos atrás de jogos, como não se ganhará um mínimo de qualidade no corredor central, comparativamente ao que Micael ou Beluschi podem ofertar.
Mas, não é assim que pensa o mui estimado Rui Santos, da Sic Noticias, que nos garante que Hulk deveria jogar a líbero, nas costas de Falcao e Kléber. Líbero?! Até concordo, mas só se Vitor Pereira também colocasse Hélton como trinco, na baliza do FC Porto…
P.S. – Muito provável que tenha sido somente displicência e não menor capacidade. Mas, que ninguém negue que não foi o FC Porto de Villas Boas que ontem entrou em Aveiro.
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