“Mas afinal, de que forma jogou o SL Benfica?
Imagine o losango. Retire-lhe o interior esquerdo. Javi jogou na posição de trinco, Witsel jogou como interior direito, Aimar a dez, dois extremos e um ponta de lança. Ou seja, sem médio interior esquerdo.
Foi pela ausência de alguém no espaço à esquerda de Javi que por diversas vezes, foi possível ver o espanhol a ocupar espaços muito pouco habituais em si. Fê-lo sempre bem e quando assim se impunha. Verificou-se, todavia sempre que saía sobre o lado esquerdo do meio campo, um vazio no espaço imediatamente à frente dos dois centrais. E é nessa coordenação que o Benfica terá de crescer, se o sistema táctico estiver para durar. Quando Javi sai, Witsel deve ocupar o espaço imediatamente à frente dos centrais. Não o fez, contudo. Permaneceu sempre a jogar ao lado do espanhol, e não baixando um pouco para trás deste, e para a frente dos defesas centrais, quando Javi não estava na posição 6.
Ou seja. É possível garantir um bom equilíbrio defensivo da forma como Jesus jogou na Holanda. Há, todavia, que preencher sempre de forma correcta o espaço. A posição seis, terá de ser sempre ocupada, e a de interior do lado da bola também. Com a bola sobre o corredor lateral esquerdo do adversário, Witsel permanece e bem na sua posição de interior direito, e Javi na posição de seis. Se a bola roda até ao outro lado, Javi terá de sair para a posição de interior esquerdo, e Witsel terá de descer ainda mais e ocupar a posição seis, impedindo um vazio numa zona tão decisiva do campo de jogo.
Foi essencialmente pela ausência de permutas por parte do belga, que por vezes pareceu que jogavam ao lado um do outro. Quando tal não aconteceu. Apenas momentaneamente, e fruto de erros posicionais de Witsel.
O 4+1 defensivo de Jorge Jesus é muito peculiar, e para continuar a jogar desta forma assimétrica relativamente ao lado esquerdo e direito do meio campo, o treinador do Benfica precisa de ensinar a Witsel a especificidade da posição seis no seu modelo de jogo. Quando tal acontecer, será possível vermos o belga num momento na linha defensiva, e segundos depois, a aparecer junto à grande área adversária. Nada de extraordinário para alguém com tamanha qualidade.
O 4x3x3, com Aimar e Witsel à frente de Javi (na esquerda o argentino, na direita o belga), seria também uma opção incrivelmente interessante. Por não querer abdicar de dois jogadores a pressionarem desde logo a saída de bola dos centrais, Jesus optou por manter Aimar mais próximo do avançado. Diferente do que se tinha por aqui idealizado, mas ainda assim, passível de ser muito bem sucedido. Assim Witsel coordene melhor as permutas com Javi.” O texto foi publicado a 17 de Agosto, depois do empate a dois, entre Twente e SL Benfica.
Quase um mês após, o SL Benfica continua, quando joga com Witsel a interior direito, a defender com os seus dois médios centro lado a lado, quando a bola está entre o corredor lateral direito e central do adversário. Quem sair para o ataque por aquela zona do campo, sabe que Javi desocupará a posição seis, e que Witsel não garantirá a cobertura defensiva (colocando-se atrás do espanhol, precisamente no espaço que este libertou).
O espaço que o Benfica liberta é precisamente aquele em que Rooney se move com maior qualidade. Na liga inglesa poucas são as equipas que não jogam no 442 clássico, em três linhas. E são também poucas, as equipas que não caiem aos pés de Rooney. E nem precisa de ser o inglês a chegar ao golo. Permitir que o adversário receba a bola e enquadre com a baliza no espaço imediatamente à frente dos centrais, é provavelmente o que de mais grave se pode consentir. Muito mais quando os adversários têm a qualidade para jogar entre sectores como o avançado da selecção inglesa.
Se Ferguson estudou ao pormenor o Benfica, saberá por onde sair para o ataque. E saberá como libertar o espaço onde Rooney pode fazer a diferença.
Na pobre imagem está representado o até à data, dispositivo táctico do Benfica quando a bola está sobre o lado esquerdo, e sobre o lado direito. Bem como o perigoso espaço (rectângulo azul) que Javi liberta, sempre que obrigado a sair da posição seis, ninguém lhe dá a cobertura defensiva.
E é isto.
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