
Ponto prévio. O texto não pretende ilibar as responsabilidades que os mais talentosos também têm. Que são muitas. Como chegam ao sucesso com uma percentagem de suor infinitamente inferior aos menos aptos, muitos são os que nunca chegam a desenvolver características importantes como a superação ou agressividade. Características essas que são apanágio dos menos talentosos, como forma de se integrarem num mundo que não os seleccionaria se assim não fosse.
E não há que desvalorizar quem lá chega unicamente pelo trabalho, “raça” e uma vontade imensa. São esforçados e podem ser muito úteis. Mas será justo que se percam talentos porque se valorize única e exclusivamente os atributos que deveriam ser tidos como menos importantes?
Estaremos a valorizar da forma que deve ser valorizado o talento?
Há não muitos anos, perante a cada vez menor produção de jogadores “distintos” a Federação francesa procurou regulamentar uma “espécie” de quotas que protegesse os mais pequenos. Os mais talentosos, em detrimento dos mais agressivos, dos que vão chegando em idades mais novas ao sucesso pela força e maturidade precoce. Tapando dessa forma o caminho aos talentosos, cujo potencial lhes era imensamente superior. Todavia, fruto de nunca serem apostas de forma regular, também esses não lá chegavam. As apostas não tinham potencial. Os de potencial não eram apostas.
É um exercício bastante masoquista olhar para a selecção portuguesa da actualidade e compará-la com a de anos não tão distantes.
Tavez hoje os treinadores pretendam mais do que nunca uma mecanização / padronização de movimentos, de decisões. O espaço para a individualidade é retirado. A criatividade é coarctada.
Importa a intensidade. Fazer tudo igual. Preferencialmente com corridas desenfreadas e uma garra desmesurada. Que, saliente-se são características interessantes. Para completar o que é essencial. E não o essencial que precisa de complemento.
Não admira que Pereirinha esteja de saída sem deixar saudades. E não admira que a nossa selecção seja cada vez menos interessante. E não admira que os nossos centrocampistas tenham cada vez menos criatividade, e que a magnífica fábrica portuguesa de extremos esteja a encerrar.
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