“Onde anda esse prodígio chamado André Martins?”

Na sequência de um comentário num post recente, parece que se continua sem perceber a relação entre as qualidades do jogador e modelo de jogo.

As funções que André Martins desempenha no modelo de jogo de Leonardo Jardim em nada favorecem as suas melhores qualidades. Defensivamente, não há problema. Pede-se que jogue como avançado, pressionando os centrais, os GR, e por vezes os laterais, adversários. O problema surge com o tipo de movimentos para que tem sido treinado quando a equipa tem a bola. Joga como segundo avançado, mas não tem liberdade de movimentos para baixar, jogar ente linhas, ou pegar o jogo atrás. Está longe de ser o terceiro médio que toda gente diz ter faltado na luz. Esse posicionamento “não existe” no modelo do Sporting, parece-me que por ordem do treinador, e por ele não ter “capacidade” para se libertar de tão rígidas funções.
As desmarcações que faz mais vezes, são de ruptura, no corredor central, e sobretudo para o corredor lateral. No corredor central, corre para ocupar uma das 3 zonas de finalização, definidas pelo modelo de Jardim. Quando vai em apoio, é “sempre” no corredor lateral, mas apenas com a missão de temporizar para a entrada do lateral, e consequente cruzamento. Quando recebe no espaço, no corredor lateral, é sempre para procurar os jogadores colocados na área. As soluções diferentes que André Martins poderia trazer ao jogo, como se vê no vídeo abaixo, desaparecem, tal é a formatação e rigidez que Jardim quer no seu processo.

Esse tipo de movimentos afasta-o do jogo, dos colegas, da baliza. Desenquadra-o na maior parte do tempo, não lhe permite tempo e espaço para perceber o contexto, coloca-lhe sempre pressão com ele encurralado na linha lateral, torna-o previsível como o futebol do Sporting.

A criatividade simplesmente não aparece, porque não há espaço para ela. Cada lance tem uma resposta igual treinada. E André Martins não é nada disso. É um jogador que precisa de liberdade de acção para aparecer “onde quiser”, criar as linhas de passe “que quiser”, para receber, enquadrar, e participar activamente no processo de criação da equipa. Na “pior” das hipóteses, teria de ser Martins com as funções de Adrien. Isto para que ele transformasse cada lance em construção num ataque com imenso potencial. André Martins é jogador para jogar no corredor central! E é aí, mais em apoio do que em profundidade, que ele pode ser verdadeiramente relevante.

Respondendo ao nosso leitor, o prodígio André Martins, anda por zonas onde a dificuldade em aparecer (pelo tipo de movimentações que lhe é imposto) é imensa. E isso é caso para eu perguntar, o que andas a fazer do André Martins oh Leonardo Jardim?

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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