
Todos sonhamos ser Mourinho e Guardiola. Todos sonhamos jogar e vencer a Liga dos Campeões. Todos sonhamos conseguir grandes feitos, no futebol, e ver reconhecida capacidade dentro do desporto que amamos. Mas quem seria Mourinho, e Guardiola, sem jogadores com capacidade para executar aquilo que eles pedem? O que seria de Mourinho, e Guardiola, sem jogadores?
Parece-me lógico que, os jogadores que estou a formar agora – entre os 10 e os 19, no meu caso – poderão ser meus jogadores no futuro, quando forem seniores. E sendo que essa possibilidade não é tão irreal, nem está tão longe quanto isso, o que será de mim quando a avaliação das minhas competências estiver na qualidade dos pés e da cabeça dos jogadores que formei? O que será de mim, se na fase onde poderia ter ajudado os jogadores a serem mais competentes, pensei no que não era importante naquela altura e apenas em ajudar-me a mim mesmo? Se na altura em que eles mais aprendem eu nada lhes ensinei, como é que vou ser reconhecido quando no final são eles que jogam, que pensam, que defendem, que passam, que marcam? Por esse caminho nunca conseguirei ser Mourinho ou Guardiola. Não o conseguirei porque na fase fundamental da minha afirmação como treinador de futebol os jogadores vão dar-me o que lhes dei em tempos, na fase fundamental da afirmação deles como jogadores: muito pouco, ou nada. Não vou ter jogadores capazes de executar as minhas ideias para o jogo, e rapidamente irei cair para fora do mundo que tanto me apaixona, por não ter formado jogadores para me servirem no futuro.
O meu futuro está nas minhas mãos. Ou melhor, na minha cabeça. Se tiver cabeça para perceber que é importante dar aos jogadores primeiro para receber depois. Larguem os quadros tácticos e as frases feitas, parem de tomar decisões pelos jogadores, ensinem-os a jogar futebol como o futebol é. Ensinem-lhes o jogo, e respeitem a individualidade para que no futuro elas respeitem o colectivo. Parem de se queixar da falta que faz o Futebol de Rua se no treino não fazem o melhor para que o volume na relação com a bola seja maximizado. Criem o contexto e deixem o jogador escolher o seu caminho, descobrir o seu sucesso. Incentivem a criatividade, o pensamento livre, e respeitem as crianças mais rebeldes porque os meninos não são todos iguais. Formem jogadores atrevidos com fome de conhecimento e sede de evolução. Larguem o futebol sem bola com os jovens e potenciem as qualidades que vos vão ajudar mais no futuro. Mais do que saber reduzir os espaços importa saber como os criar. É urgente que cada vez mais surjam monstros técnicos com capacidade de criação em espaços reduzidos. E no futuro, na Final da Liga dos Campeões, quando o jogo estiver empatado e o adversário fechado em quarenta metros, aparece aquele menino rebelde e atrevido – com a auto-estima que diferencia os grandes – a serpentear entre o adversário, e a descobrir a solução que o treinador não encontrou para furar o bloco defensivo. A descobrir o passe que o treinador não viu, e a encontrar o espaço que antes não existia. A avaliar como competente o treinador que nada teve a ver com aquele lance em particular. Ou melhor até teve, mas não naquele dia…
Deixe uma resposta