
Ontem no Facebook relançada a discussão sobre a padronização inspirada num post antigo do Posse de Bola, aqui. O que penso sobre a padronização está bem descrito no post, mas gostaria de acrescentar algumas linhas.
Na minha opinião, a padronização surge pela necessidade dos treinadores (classe à qual pertenço) em ter o máximo controlo possível sobre os acontecimentos do jogo. Os treinadores são tão obcecados por controlar tudo que tentam inclusivamente retirar ao jogo à sua essência – o caos. O futebol é um jogo caótico. Caótico no sentido de ser impossível controlar os seus acontecimentos, por nunca se saber que reacção ocorre de cada acção que decorre. E por isso, todas as situações de jogo são diferentes. Entender isto, perceber isto, causa no treinador um sentimento de impotência enorme. O treinador julga-se sempre maior e mais importante do que aquilo que verdadeiramente é. E quando lhe surge alguma teoria que tem como conclusão que ele depende muito mais dos jogadores do que os jogadores dele, que os jogadores são os únicos a ter controlo do que ele não controla, sentem-se insignificantes, ofendidos, e recusam essa possibilidade por se acharem capazes de tudo. Mas não o são. Na verdade, treinadores, somos capazes de muito pouco por não sermos nós a jogar. A obsessão pelo controlo leva a que se tente fazer tudo para retirar a imprevisibilidade ao jogo. E leva a que se esqueça que, por mais previsíveis que se possam pintar, os quadros serão sempre diferentes. Esse esquecimento tem como consequência a entrada sem dificuldade no facilitismo do padrão, bem como a exoneração da dificuldade que é ensinar quem controla a perceber como pode ter sucesso em condições caóticas.
Utilizando uma frase do Bergkamp, simplificar é radicalmente diferente de descontextualizar. E padronizar é descontextualização absoluta, por se retirar o factor que mais influencia as relações que se criam no jogo – a aleatoriedade.
PS: Na foto José Mourinho, talvez por ser hoje no alto rendimento o treinador mais obcecado pelo controlo do jogo.
Deixe uma resposta