
Ontem tive oportunidade de almoçar com um grupo de amigos com vivências extraordinárias no futebol. A partilha foi mais do que muita. Interessante e divertida.
Recordar episódios de treinadores passados que depois de derrotas pesadas obrigavam-nos, ainda miúdos, a percorrer km e kms a pé atrás da carrinha do clube em marcha lenta. Corridas intermináveis na mata, saltos, flexões e abdominais sem fim. As bolas no centro do campo, e um treino todo de físico e superação e no final do mesmo “agora vão tocar na bola e siga para o banho”. Os gritos no balneário, os “maricas” e a pedadogia completamente assassinada. Não saía um único conhecimento táctico para além do “Tu és o avançado, tu és o médio direito e tu o defesa central”.
E ainda assim, a quase certeza que o correcto estará algures entre o antes e o hoje. E que o depois o traga.
De que serve demasiadas vezes toda a qualidade no processo treino (quando a há) se não conseguimos moldar o carácter dos miúdos? Hoje, sem a rua onde sobreviviam os mais perseverantes, estamos tantas vezes condenados a promover o desenvolvimento de quem nunca chegará lá.
Cada vez mais no futebol só aparecem “betinhos”. Não no sentido do extrato social ou da forma de vestir, mas na protecção absurda de que usufruem dos papás e mamãs, que lhes retira toda e qualquer possibilidade de se desenvolverem enquanto pessoa para jogar este jogo. “Ai que o menino levou uma canelada”. “Ai que o menino foi suplente” “Ai que o menino seguiu para a equipa B” “Ai que o menino não gosta disto ou daquilo” “Ai que o menino não pode estar frustrado e tudo tem de lhe ser dado porque é uma criança”.
O que estaremos a crescer no processo de treino e na forma como preparamos a evolução dos miúdos estará a ter correspondência na forma como lhes moldamos o carácter? Não, de todo.
Hoje parece que se formam apenas futebolistas enquanto praticantes de um jogo. Enquanto atleta, ignorado que todo o atleta é uma pessoa. Ignorando que não haverá futebolista se não tiver a personalidade necessária para o ser.
Excepções sempre houveram e haverão. Mas a convicção que o caminho certo estará sempre entre deixá-los desconfortáveis, mas ao mesmo tempo promover o tempo de empenhamento motor ao máximo e a proximidade com o jogo no treino.
Enquanto pais e mães estiverem nos treinos e nos jogos, a formação de futebolistas nunca estará a ser potenciada ao máximo.
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