
“A estratégia de Guardiola passava por ter 60/70% de posse de bola”
Quando escasseiam ideias / temas, costumo seguir um conselho de quem escreve por cá há mais tempo. Espreitar um espaço humoristico (ainda que o seu autor não tenha noção que dirige / dirigia um espaço de humor) na web para retirar ideias para possíveis textos. Foi lá que encontrei num comentário a frase citada.
Não, os treinadores não definem estratégias que quantifiquem percentagens de posse de bola, ao contrário do que as crianças possam pensar. Na verdade, nem sei bem como alguém o pode crer. E como se transformaria isto no relvado? Talvez em algo como Guardiola virar-se para os seus atletas e: “…felizmente os nossos adversários não pressionam a nossa fase de construção, e como tal vamos ficar a trocar a bola entre centrais para chegar à percentagem de posse que idealizamos, e depois de estarmos já bem dentro do intervalo definido, chutamos para fora”.
Há quem nos dias de hoje ainda tenha este pensar porque não conhece o jogo. Ninguém define estratégicamente ter determinada percentagem de bola. E muito menos Guardiola. O espanhol, à frente de todos os outros, procura a competência máxima em todos os momentos do jogo. Com bola, seja em organização ou transição tudo se define pela boa tomada de decisão. E esta depende também dos adversários. Num caso extremo, imagine que a cada posse a equipa adversária respondia não tendo defesas centrais. Naturalmente que a cada posse sairia sempre um passe a isolar o ponta de lança e de forma bem rápida não fossem os adversários lembrarem-se de ocupar aquele espaço. Em suma, retiraria posse, acrescentaria golos. Ou acredita que algum treinador diria “Não, não isoles o teu colega! Fica a passar ao guarda redes até chegarmos aos setenta por cento de bola”. E o golo é sempre a meta. A questão é que demasiadas vezes o melhor caminho para lá chegar não é o de uma linha recta, e com qualidade nas decisões e na performance individual e colectiva, a posse tenderá a aumentar nas equipas que têm melhores jogadores.
Se as equipas de Guardiola e em suma todas as melhores equipas dos seus campeonatos acabam por ter mais bola, essa é muito mais uma consequência de serem melhores do que o meio para serem melhores.
Se há competência máxima colectiva e individual em cada um dos momentos, naturalmente que quando se está em organização ofensiva se perderá menos a bola, se aumentará o tempo de posse. Tempo que se retira ao adversário se a tal competência for máxima também nos momentos defensivos!
Por isso em tempos saiu um post do Maldini que referia que o seu jogo não era o da posse ou o das transições. Era o das decisões. Ser o mais rápido possível a chegar à frente quando há espaço e condições para tal, ou menos rápido e mais pausado quando a oposição aumenta e se fecha. Tudo depende do que o jogo pede! O jogo é que deve determinar as decisões e o estilo.
ADENDA
Xavi, “o rei da posse” mostra a ruptura quando a ruptura se impõe.
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Xavi, “o rei da posse” mostra a ruptura quando a ruptura se impõe.
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