Guardiola e Simeone

O jogo. Um jogo com duas partes distintas, onde só a segunda conseguiu traduzir em golos o que se passou em campo. Uma primeira parte absolutamente demolidora do Bayern. Agressividade com e sem bola. Não me lembro nunca de ter visto o Atlético, nos jogos que ganhou ou que perdeu, sentir tanta dificuldade no seu processo e estar tão desconfortável no jogo como na primeira parte em Munique. O que o Bayern conseguiu nesse período do jogo ainda não tinha sido alcançado por alguém que tenha defrontado a equipa de Simeone. Foi absolutamente extraordinário. O Bayern criou o suficiente para resolver a eliminatória aí, mas como não é o Guardiola que cria e finaliza as bolas não entraram. Os remates, as recepções, e mais uma vez as decisões. A menor exuberância individual. O que o treinador não controla, também o desnorte dos jogadores do Atlético. A intensidade era tão alta, e as jogadas sucediam a uma velocidade tal, que nem que Simeone entrasse dentro de campo mudaria alguma coisa. A segunda parte onde o Bayern não entrou tão forte. Não só por ter a eliminatória empatada, mas também por não ser possível manter o ritmo que estava a impor sem provocar um desgaste que poderia ser fatal nos minutos que se seguiam. A criação de oportunidades foi mais equilibrada, o Atlético conseguiu ter bola no meio campo do Bayern algumas vezes, e teve a fortuna de na primeira vez que conseguiu sair com qualidade do seu meio campo criar a melhor ocasião do jogo e marcar. Depois disso, a descrença do Bayern, até o golo de Lewa. Foram muito longos os minutos que passaram entre o golo do Atlético, e uma nova réstia de esperança para os bávaros. Mas aí, já o Atlético estava bem confortável e tranquilo, como habitualmente em situações de vantagem.
Os treinadores e as ideias. São completamente antagónicas as formas de ver o jogo de um e de outro. Os modelos de jogo chocam de forma extrema, e foi interessante verificar que mesmo um modelo como o de Simeone mais habituado a jogar com factores externos também sofre da doença do incontrolável, como na primeira parte. Guardiola sempre virado para o ataque, e a tentar recuperar nos momentos que se seguem a perda. Simeone sempre virado para a sua baliza, e a tentar atacar o mais depressa que consegue assim que recupera. O futebol tem-me ensinado muitas coisas, mas a mais importante aprendizagem reside no antagonismo destes dois treinadores. Dois treinadores fantásticos, porque conseguem que os seus jogadores coloquem em campo aquilo que idealizam. E o segredo do sucesso está nisso. Conseguir dotar a equipa de comportamentos que personifiquem a ideia do treinador em campo. Conseguir por parte dos jogadores um compromisso com o treinador, com as suas ideias, e acreditar que é aí que está o sucesso. No longo prazo, é isto que marca a diferença. Os dois, nisto, são fantásticos. A vender a ideia de jogo aos jogadores, a mostrar-lhes que determinados comportamentos são inegociáveis, e que há uma ideia para atacar, para defender, e é com ela que devem ir até à morte. Na verdade, Simeone é o único treinador do mundo que a jogar como joga consegue ter sucesso continuado. As prestações na liga espanhola sempre perto dos noventa pontos, colocando em cheque Real e Barça sempre que são menos regulares, os resultados nas provas a eliminar. Sem jogar o futebol que mais nos agrada por aqui, é maravilhoso verificar o que aqueles jogadores dão pelo treinador, a competitividade contra os grandes. Não é que o Atlético tenha propriamente uma equipa má, mas não se compara aos grandes de Espanha ou Inglaterra, nem mesmo ao Bayern.
Simeone resume o jogo.

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