O resultado e o jogo. Da base para o topo por ordem da Federação

Por aqui sempre fomos tendo em conta que o jogo era muito mais do que o seu resultado final. E quem olha para os dois primeiros resultados que a nossa selecção apresentou no Euro poderá ficar espantado e insatisfeito por dois motivos: 1) Pelo resultado. 2) Pelo que o jogo nos indiciou na forma de comportamentos colectivos e individuais dos jogadores.
O que a mim aflige realmente na selecção portuguesa não é a falta de qualidade dos jogadores à disposição do seleccionador nacional. Porque tirando uma ou outra opção é difícil (considerando as lesões) dizer-se que não são estes os melhores 23 para jogar o europeu em França. Temos qualidade para formar uma linha defensiva competente, um meio campo bom ao nível do rigor defensivo e criativo, e um ataque versátil e dinâmico nas suas acções. O que me aflige também não é o resultado, ou aquilo em que o resultado se poderia ter traduzido. É por demais evidente que Portugal foi a única equipa que poderia, tendo em conta as ocasiões criadas e concedidas, ter saído vitoriosa de qualquer um dos empates que somou até ao momento. Não é por aí. Tão pouco são as opções de Fernando Santos em termos de sistema de jogo, ou a composição para o onze inicial. Claro que, tenho a ideia de que com uma ou duas opções diferentes a coisa poderia melhorar. Mas, o maior problema, aquele de que ninguém fala, continuará. E esse problema vem de bases, e por isso nunca é demais relembrar Breitner em discurso directo (carregue no link). O que aflige realmente no jogo de Portugal é a pouca capacidade que temos para fazer isto:
Ou seja, resolver os problemas que o jogo nos dá de forma colectiva. Usar o colega para dividir, e resolver o lance. Pensar, como é que vou usar o posicionamento  do meu colega para tirar este/s gajo/s da frente? Passo-lhe e fujo, passo e fico? Não passo e vou eu, porque ele simulou que ia e levou dois com ele? Como é que me posiciono para dar mais hipóteses ao meu colega de resolver o lance com sucesso? Estas são questões que deveriam fazer parte de cada escolha que os nossos jogadores fazem com e sem bola, no ataque ou na defesa, que dificilmente passa por um número suficiente deles para que se possa traduzir num jogo verdadeiramente colectivo. O sucesso de Portugal tem vindo sobretudo do mérito e da qualidade individual de alguns atletas. O que fazemos em conjunto é residual. E o problema maior está no topo da cadeia, na federação. E em tudo aquilo que a mesma entende fazer parte das suas responsabilidades ou não. A federação tem como principal objectivo melhorar a modalidade no país, e para tal, o caminho a seguir é o da escolha de uma determinada matriz de jogo. Não interessa qual, interessa que se escolha uma. Interessa que todos na federação entendam esse jogo que se quer jogar, e com isso façam as escolhas para todas as selecções do tipo de jogador para jogar o jogo que se quer. Tudo começa aí, uma ideia comum. Jogadores que procurem pela mesma matriz, pelos mesmos estímulos. No fundo, como se deve fazer nos clubes só que num prazo muito mais longo, pelo tempo que não é permitido de treino nas selecções. A partir daqui tudo se desenvolve. E nunca mais a decisão de convocar X e não Y passará apenas pela figura do seleccionador, porque toda uma instituição estará por dentro do processo e por isso em condições de participar nele. E mesmo a forma como a Federação educa, e forma, os novos treinadores que no fundo são os que vão começar a trabalhar com a base e com os jogadores será diferente. Diferente na medida em que será direccionada para que os treinadores trabalhem e desenvolvam um determinado tipo de skills, viradas para o tipo de jogador que se quer para jogar da forma que se escolheu jogar. Sem esse passo fundamental, sozinho ninguém conseguirá mudar nada. Por mais qualidade que tenham alguns clubes na formação, nas bases. Por mais qualidade que um ou outro treinador venha a evidenciar no nosso campeonato. Por mais talentos soltos que vão surgindo ao longo do tempo, esses onze talentos continuarão sem se conseguir entender em campo. Sem a tal linguagem comum que permitirá fazer com que todos estejam sempre perfeitamente identificados com o que o colega de equipa pretende fazer. Tuchel dizia numa entrevista que nunca iria deixar de copiar os melhores treinadores do mundo, porque o objectivo dele era ser como eles. Se Portugal quer ser verdadeiramente relevante no futebol não deve ter vergonha de pegar na evolução que outros conseguiram e ajustar ao que por cá se pode fazer. Criar um denominador comum, para que a selecção seja muito mais do que onze individualidades soltas em campo. 

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