De boas intenções está o inferno cheio – Excesso de feedback.

Excesso de feedback. Ou, excesso de feedback variado se pudermos chamar-lhe assim.

Muito comum, não só em treinadores inexperientes, mas também uma tendência de quem quando chegado a um grupo novo, pretenda melhorar tudo da noite para o dia.

Torna-se impossível. Porque a aprendizagem leva tempo. E tempo não são 20 minutos de um exercício, são horas e horas a fazer a mesma coisa (ou, de preferência, a mesma coisa de maneiras diferentes). E porque, ao chegar a um grupo novo, o treinador encontrará sempre várias coisas que não estão como entende que deverão estar.

Normalmente, os problemas de uma equipa não fogem muito dos seguintes:

– Ocupação racional do espaço de jogo;
– Abrir e fechar conforme ter a bola ou não (e a velocidade com que o fazem);
– Criação de linhas de passe ao portador da bola;

– Quando (para onde e como) passar, ou progredir com a bola.

Indo ao pormenor, variáveis como relações sectoriais e intersectoriais, colocação de apoios para facilitar o trabalho ofensivo e defensivo,  e mil e uma outra coisas.

O (ou um dos) grandes problemas de um treinador inexperiente será a incapacidade de estabelecer uma hierarquia (e de respeitar essa hierarquia) de “coisas a corrigir/melhorar”

Assistimos constantemente, em treino e em jogo, a feedback muito diversificado, ou seja, orientado para vários pontos. Agora imaginem que num momento em concreto, vos estão a pedir para abrir o campo, e no momento seguinte para olhar antes de receber, depois para encontrar quem está sozinho, e depois para olhar para a frente antes de receber a bola, a seguir para comunicar com o colega, e depois para empurrar o adversario para fora, logo seguido do pedir para fechar linha de passe antes de pressionar.

Este tipo de comportamento, mostra que o treinador encontra muita coisa a corrigir, o que será positivo, mas ao mesmo tempo, mostra que se quer tudo para ontem, o que não so não é possivel, como dificulta a aprendizagem e consolidação de conceitos e comportamentos.
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Mesmo dentro de um modelo de treino global (ou integrado, ou contextualizado), e mesmo sabendo que trabalhamos muita coisa ao mesmo tempo, o foco deve ser em 1 ou 2 pontos, de forma a que quem está a viver as situações se possa orientar, e perceber se está ou não a cumprir com o pedido.

Numa tarefa como a da figura, em que em gr+3v3+gr a equipa que ataca tem de ocupar 3 corredores, e a equipa que defende tem de pressionar o corredor da bola e o central (defendendo a 1 ou 2 corredores), pode ser uma oportunidade de aprendizagem muito boa, ou nem por isso, dependendo de como for a intervenção do treinador!

Óbvio que numa situação destas se está a trabalhar imensa coisa, dado que se trata de uma situação que tem “tudo” o que acontece no jogo formal, mas a intervenção do treinador será catalizadora da aprendizagem, se for orientada somente para 1 ou 2 pontos.

3 Comentários

  1. Por isso acredito que os clubes/academias devem ter um programa para toda a formação.Uma linha orientadora daquilo que se pretende em cada idade. Por onde começar,aquilo que é mais importante no inicio.Por vezes vejo em idades bastante precoces treinadores a quererem demonstrar o seu conhecimento não percebendo coisas mais simples e mais basicas que os pequenos ainda nao sabem.Devia ser como na escola e não como muito se vê onde cada treinador faz as coisas á sua maneira. Dennis continua com os posts orientado para o futebol da pequenada.Obrigado

    • Mario,

      O tempo acaba por separar as aguas.

      Acredito que cada vez mais, os treinadores que realmente se querem tornar expecialistas em treino de criancas e jovens vao ser valorizados. E acredito tambem que aqueles que usam as criancas como um meio para chegar aos adultos, vao ter cada vez menos espaco para essas “brincadeiras”.

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