O evangelho revisto segundo Jorge Jesus

O treinador Jorge Jesus deu uma entrevista à Sporting TV, na noite passada, em que buscou passar pelos vários pontos quentes do atual momento dos leões. Numa entrevista claramente dirigida aos “adeptos e ao mundo do Sporting”, como um dos seus interlocutores a classificou, não deixou de haver espaço para algumas ideias que o técnico tem acerca daquilo que a equipa está a passar, notando alterações no seu discurso, mas também o reforço da sua personalidade enquanto uma das vantagens para ultrapassar as dificuldades.

Coletivo, equipa, estrutura

Na identificação do momento da equipa, a análise mais interessante prende-se com aquilo que o treinador apelida de “coração da equipa” e de como este deixou de responder às exigências durante a temporada. Jorge Jesus implica William Carvalho, Adrien Silva e João Mário a esse “coração”, reduzido a dois elementos com a saída do médio mais ofensivo para o Inter, expondo que:

este ano, em determinada fase do campeonato, o coração da equipa não rendeu, desvalorizou a qualidade do jogo.

Assume aqui uma quebra física com fortes implicações no aspeto mental e emocional, “não estivemos bem em alguns jogos”, já que o técnico repete várias vezes a palavra “confiança”, conjugando dentro do problema a falta de confiança de jogadores e adeptos. Se no plano do treino, Jorge Jesus garante que existe um “treino mental que se desenvolve com os jogadores”, não deixa de apontar que a saída de uma fase má “precisa da ajuda de todos”.

As enorme expetativas criadas por aquilo que foi feito na temporada passada não tornaram desnecessária a existência de uma estrutura. Uma vez mais, em equipas onde Jorge Jesus trabalha, volta-se a discutir a importância da mesma. No entanto, o técnico parece, nesta fase, ter um entendimento algo diferente daquilo que lhe era reconhecido.

Para ser campeão precisas de bons jogadores, um bom presidente, um bom treinador, uma boa equipa com elementos e estrutura que não abane tanto como está a acontecer.

Jorge Jesus também aponta a sua passagem pelo Sporting como um projeto de médio/longo prazo, “contra tudo e contra todos” (os fatores externos apontados pelo técnico ficam de fora desta análise), num plano da entrevista em que a utilização de palavras que visam o entendimento da equipa como um coletivo está bem patente no seu discurso.

Jorge Jesus contra-ataca

É quando a entrevista passa para um plano mais focado nas opções e no alcance das ações do treinador que voltamos a encontrar o Jorge Jesus que é mais conhecido.

O treinador, com a qualidade do seu trabalho, aumenta o talento do jogador.

Jorge Jesus impõe-se como um elemento diferenciador na capacidade apresentada pelo Sporting para melhorar o nível de jogadores que “passaram a ser titulares na Seleção”, para lançar no mesmo ano “dois jovens da formação, um deles que ninguém sabia onde é que estava” e para alcançar vendas que “permitem compras de valores de um nível que está fora do alcance”.

Parte disto baseia-se naquilo que Jorge Jesus chama do seu “modelo de jogador”.

Eu tento criar um modelo de jogador. Ele até pode ser tecnicamente evoluído, mas pode não cumprir com as exigências do meu modelo, pode não entrar naquela ideia de coletivo, e aí terá que fazer o seu caminho. (…) Quando vais contratar um jogador, podes ter visto tudo o que ele consegue fazer, mas não sabes o que existe dentro dele.

Bas Dost surge aqui como um exemplo da qualidade de trabalho que Jorge Jesus reivindica para si, tendo vindo a trabalhar com ele

hábitos de posição, ligação com a equipa, melhorando a sua capacidade de ligar o jogo, de costas para a baliza, as suas tomadas de decisão.

Existe, portanto, na revisão do evangelho segundo Jorge Jesus, um elemento que se mantém sólido e que poderá fazer toda a diferença no momento de ultrapassar uma fase má. Esse elemento é o atual treinador do Sporting.

Eu acredito muito naquilo que eu faço, todos os jogadores que trabalharam comigo sabem aquilo que eu valho, mas só conseguimos sair daqui se estivermos unidos.

O reconhecimento da importância do coletivo, assentando na qualidade individual de quem está pronto para o liderar. Jorge Jesus quer estrutura para ultrapassar a crise, quer tempo, e assume que veio para o Sporting para ser campeão. “Abandonar o projeto está fora de questão”, recorda. Como quem reforça que ter Jorge Jesus continuará a ser melhor do que não o ter.

Sobre Luís Cristóvão 103 artigos
Analista de Futebol. Autor do Podcast Linha Lateral. Comentador no Eurosport Portugal.

2 Comentários

  1. Só ficou por explicar porque motivo foi buscar um monte de entulho para em Janeiro se aperceber que afinal a qualidade estava dentro de casa.

    Ah, e já agora explicar porque motivo não aposta no Iuri Medeiros

    • Caro David Manteigas

      Não, não foi só JJ que não apostou em Iuri Medeiros; Marco Silva, Leonardo Jardim, Jesualdo Ferreira e antes deles também não apostaram no Iuri Medeiros que sempre brincou muito nas selecções.

      Já agora, o coração da equipa (Adrien e WC) está cansado porque andaram a brincar no TORNEIO DE VERÃO França2016 em vez de descansarem durante esse período.

      WC já teve o que merece, perdeu a titularidade para Palhinha que não brinca na selecção.

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