Vendaval na Amoreira. Como Ivo Vieira preparou o Estoril para bater o Sporting.

Foi na Amoreira que o Sporting consentiu a sua primeira derrota no campeonato. Frente a um Estoril extremamente bem preparado tacticamente pelo seu treinador, o Sporting nunca foi uma equipa capaz de se superiorizar à equipa canarinha e as incidências do próprio jogo, tornaram o Estoril sempre mais confortável no jogo em relação a um Sporting, apesar de tudo, com mais situações de finalização em relação a jogos anteriores, mas situações essas criadas por recuperações em zonas médias ou altas e com menos jogadores atrás da linha da bola para enfrentar, do que propriamente pela competência na sua ligação entre as suas fases ofensivas e com todo o adversário atrás da linha da bola.

Ivo Vieira tinha prometido e cumpriu. O Estoril foi uma equipa que jogou no campo todo, como se costuma dizer, pressionou alto com os referenciais de pressão bem definidos, colocou a sua linha defensiva alta e exposta mas sempre com capacidade para baixar metros e controlar a profundidade, beneficiando do facto de também ter tido o vento a seu favor na primeira parte, altura em que construiu o seu resultado. O Sporting em organização ofensiva, raramente teve o conforto habitual na sua primeira fase de construção e nunca conseguiu ter essa consistência nessa fase, devido ao posicionamento e agressividade do Estoril, sempre preparados para morder quando Sporting saía curto, ou para disputar quando saía de forma longa. Recuperava e invadia o meio campo defensivo do Sporting, por vezes com poucos jogadores do Sporting já atrás da linha da bola e outros em recuperação defensiva. E foi muito através dessas saídas que conquistou alguns cantos ofensivos e também aí, competência do Estoril na forma como preparou as bolas paradas, sempre fechadas e em cima de Rui Patrício, novamente com o factor vento a ser um aspecto importante. E daí nasceu o seu primeiro golo.

Também com bola, Ivo Vieira preparou a sua equipa para ser competente. Por vezes no limite do risco, nunca o Estoril se coibiu de sair a jogar e arriscar, tentando dividir os sectores da equipa de Jorge Jesus, seja de forma curta ou forma longa, saindo a jogar para chamar o Sporting à pressão mais alta, para depois poder explorar a profundidade, e já com menos jogadores do Sporting atrás da linha da bola. Nesta fase, destaque para dois nomes: Lucas Evangelista e Pedro Rodrigues. Qualidade técnica, criatividade, inteligência e perfil de decisão muito elevado a juntar a um Eduardo com capacidade para se mover por dentro sendo quase quarto médio, a um Ewandro sempre potente e atacar a profundidade e a um André Claro, não tendo a capacidade goleadora de Kléber, um jogador com boa capacidade para ligar com o sector intermédio em apoios curtos e para dar seguimento às transições ofensivas.

Na segunda parte e com o conforto de uma vantagem de dois golos, o Estoril ainda assim continuou a não ter o seu bloco demasiado baixo, manteve-se médio e curto, quase convidando o Sporting a atacar a profundidade e nesse capítulo, apenas Doumbia era um jogador com capacidade para explorar esse momento, algo que raramente foi visto, mesmo tendo agora o vento a seu favor. Não condicionando tanto a primeira fase de construção leonina, procurou controlar a profundidade e sempre que o Sporting tentava entrar curto entre sectores ou por fora, saía a morder e a recuperar, para depois sair em velocidade.

Quanto ao Sporting, acentua-se a quebra de qualidade exibicional, jogo após jogo. Sem Gélson e Podence, jogadores com capacidade para desequilibrar através da sua velocidade, seja de explosão, seja de execução e decisão, o Sporting é uma equipa diferente, menos capaz e criativa e aliado a alguma previsibilidade das suas ideias (assunto para outro post) tem tido muitas dificuldades em ser uma equipa dinâmica e capaz de criar problemas reais aos adversários, algo que já não é novo, pois já o tenho referenciado por cá em textos anteriores. Mérito portanto para Ivo Vieira e para o seu Estoril, na forma como estudou o Sporting e preparou a sua equipa em todos os momentos para ser superior a um candidato ao título.

Sobre José Carlos Monteiro 47 artigos
Treinador de Futebol, Uefa B, com percurso e experiência em campeonatos nacionais nos escalões de formação. Colaborador como observador e analista em equipas técnicas na Primeira Liga. Alia a paixão pelo treino e pelo jogo à analise de jogo.

6 Comentários

  1. Vai sair também um post sobre o trabalho do Couceiro no V.Setúbal – Belenenses? Ou é só aos treinadores “novos” barra “modinhas”? É que pôs completamente o Silas no bolso.

    • Não podemos estar em todo o lado. E quanto à questão dos treinadores novos ou da moda como quis insinuar, discordo totalmente que seja esse o caminho. Aliás, já se analisaram jogos do Vitória de José Couceiro neste espaço. Abraço.

    • Nos últimos dois jogos, mostrou inteligência. Compactou a equipa, retirou espaço aos adversários na profundidade e após recuperar, lança as motas.

  2. Muito boa ideia do Ivo em apostar no Duplo pivot Kyriako e Pedro Rodrigues. Ganhou muita qualidade na saída e conseguindo libertar o Lucas para zonas de ultimo passe

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