
Não há passe como o que dá a cheirar a bola ao adversário, mas que leva tensão suficiente para que este não a intercepte.
E não há bola como essa, porque cria no defesa a dúvida sobre a abordagem a adoptar. O “normal” será depois do passe sair, baixar metros pelo caminho mais rápido para se colocar entre bola e baliza. As bolas que dão o cheiro ao adversário, criam a sensação ao defensor de que a pode interceptar. E com a sensação de que a pode interceptar, há um momento em que se pára para a recuperar. O problema é que se depois não a interceptas, porque paraste, já não vais conseguir recuperar posição.
Coentrão é um pé esquerdo, o normal seria ter colocado a parte interna na bola e dar-lhe o arco que seria mais seguro para que a bola chegasse a Gelson Dala. Mas, Fábio, fez diferente. Fez melhor! Dar-lhe o arco contrário, chamou o adversário à bola, iludindo-o, criando em Bruno Viana a sensação de que iria interceptar a bola. Por isso, depois de a bola sair dos pés de Fábio, Viana não se deslocou directamente para o espaço entre onde Dala receberia e o seu guarda redes, mas antes tentou a intercepção.
A decisão de Coentrão, ajuda a perceber que um passe óptimo não se limita fazer a viagem de um colega ao outro. Há toda uma decisão por trás, que pode condicionar opositores e facilitar a vida a colegas. Uma decisão, um gesto técnico perfeito, e talvez o lance de maior brilhantismo da jornada.
Lindo