Ideias, adaptações e estratégias de Guardiola e Klopp

Um Manchester City vs Liverpool é sempre um jogo a seguir, mesmo no primeiro encontro da temporada, porque se defrontam a melhor equipa do mundo na primeira fase de construção, e a que melhor pressiona nesse momento. Vale a pena então, ver como se comportaram, neste aspecto em particular, no último confronto

A inovação

Uma das grandes curiosidades da época é como Guardiola explorará a nova regra dos pontapés de saída. Para já, e frente ao Liverpool a defender no seu habitual 4x3x3 com os extremos a juntarem-se ao ponta de lança em espaços interiores, pressionando de fora para dentro, a resposta foi juntar Stones a Rodrigo (novo médio defensivo) e Otamendi a começar dentro de área perto de Bravo, como referido aqui pelo Maldini.

À esquerda (se virmos pelo lado do City), o posicionamento de Otamendi dentro de área fez com que Salah tivesse de cobrir um espaço maior, à direita, Stones adiantado levou a que Origi fechasse ligeiramente mais dentro. Um dos objectivos desta distribuição, realizado com sucesso durante vários períodos do jogo, ligar com os laterais e que estes tivessem espaço para definir. 

Os caminhos para fugir da pressão

Se nas saídas de bola na grande área Guardiola optou pela distribuição acima referida, quando a bola se encontrava fora deste espaço a abordagem foi diferente. Bravo juntava-se numa linha de 3 a Stones e Otamendi contra os 3 atacantes dos reds. Rodrigo ficava entre médios e avançados contrários, enquanto De Bruyne e Silva permaneciam nas costas de Henderson e Wijnaldum. Isto não é um pormenor, se pensarmos que o posicionamento adiantado do belga e do espanhol fez com que os adversários directos ficassem mais baixos e nem sempre auxiliassem o trio da frente na pressão, para além de que, estando em posições mais centrais, concederem um pouco mais de espaço aos laterais do City quando recebiam. Ao mais alto nível todo o espaço conta.

Normalmente após alguns passes para atrair a pressão do Liverpool o mais possível, Bravo tinha duas soluções: procurar um dos laterais por cima, ultrapassando a pressão de fora para dentro do Liverpool, ou procurar as costas da linha defensiva red, mais na zona dos laterais que nos centrais, onde apareciam extremos ou ponta de lança para disputar a bola que era sempre jogada idealmente no espaço, e nunca no duelo aéreo, aproveitando o adiantamento dos defesas. Como alternativa, Rodri foi utilizado como “ponte” para chegar aos laterais e ultrapassar a 1ª linha de 3 (tal como na imagem acima)

Nota para o posicionamento de De Bruyne e Silva na construção. Inicialmente muito adiantados para puxar o trio do meio-campo, quando a bola entrava no lateral pareceram preferir tentar receber a bola entre linhas, mesmo que à largura nas costas do médio contrário que saia à pressão ao lateral, ou então Silva recuava para o espaço entre avançados e médios. Uma vez que Salah várias vezes ficou com bastante espaço para cobrir, e mesmo com a bola no corredor central na linha defensiva, foi visível o recuo de Silva para junto de Rodri para aproveitar esse espaço

Segundas bolas

Com o grau de detalhe maximizado, não é de espantar que o Manchester City tivesse algumas intenções após a bola viajar nas costas da linha defensiva do Liverpool. Se Silva e De Bruyne estavam entre linhas, nas costas de Henderson e Wijnaldum, ficavam em posição privilegiada para ficar com a 2ª bola. Apesar de não ser a forma mais habitual do City se instalar no meio-campo adversário, vale a pena perceber que mesmo nestas circunstâncias os jogadores posicionam-se uns em função dos outros e há uma clara noção de como manejar o espaço

 Resposta do Liverpool

Como já foi descrito, o Liverpool manteve a pressão habitual, ainda que tenha parecido algo surpreendido com a abordagem do rival. A pressão de fora para dentro dos extremos, os interiores a saltarem quando a bola se encontrava no lateral, com Fabinho ligeiramente mais recuado no meio-campo. A principal novidade, e que até deu origem a uma grande oportunidade de golo, foi o condicionamento colectivo para a bola não entrar no pé do extremo. Este foi um aspecto explorado pelo City em jogos anteriores, pois com o extremo a pressionar de fora para dentro a bola entrou com alguma facilidade nas suas costas de dentro para fora onde estava o extremo do City pronto para receber com espaço. No domingo o comportamento da linha da frente do Liverpool manteve-se, mas  com Origi mais dentro (ver imagem), e o médio a reduzir a amplitude da linha de passe e o lateral  pronto para saltar a pressionar no extremo

2ª parte e os pormenores

Dadas as características que o jogo assumiu, o Liverpool passou mais tempo a atacar e o City baixou as linhas, portanto existiram menos saídas de bola e o campeão inglês passou bem menos tempo na 1ª fase de construção. No entanto, a pressão red não foi tão criteriosa e o City conseguiu sair da pressão. Talvez pela desvantagem no resultado, os timmings e o posicionamento da equipa de Klopp não foram tão rigosos. Salah, por exemplo, foi várias vezes demasiado atraído ao central, ou ao guarda-redes, o que libertou ainda mais Zinchenko e o espaço entre médios e avançados, ainda que o City não  tenha aproveitado da melhor maneira alguma superioridade numérica que criou, essencialmente por más decisões de quem tinha a bola.