A outra festa de Uribe (que também acabou mal)

Se pouco depois da chegada de Matheus Uribe à Invicta, o médio foi chamado aos escaparates, devido à festa de aniversário da sua esposa, é tempo agora – depois deste Manchester City-FC Porto – de apontar os holofotes ao colombiano também por causa de uma festa que, a espaços, pareceu privada. O problema é que o Etihad – recinto onde decorreu o evento – não tem por hábito deixar que as coisas corram bem aos visitantes, e assim (apesar de um período de divertimento e alguma euforia) o Manchester City conseguiu averbar o seu 19.º jogo sem perder em casa nas competições europeias, derrotando assim um FC Porto que se adaptou estrategicamente, conseguindo empurrar o jogo para um registo que tornou o seu 541/352 em algo mais realista que o habitual 433/442 que os dragões usam na maioria dos seus jogos domésticos.



Obviamente, sendo o jogo na casa de uma equipa de Pep Guardiola (treinador que tem a impressão posse-de-bola tatuada na mente) a mudança estratégica para uma linha de três centrais demonstraria preocupação evidente com a ocupação de espaços no último terço. Assim, e sem surpresa, o FC Porto montou um 541 que esperava o City no seu meio-campo ofensivo, mas que pela tentativa de tapar o espaço entre-linhas nunca deixava a linha defensiva apoiar-se nos terrenos próximos a Marchesín. E foi nesse quadro que os portistas conseguiram bloquear os cityzens durante largos minutos. E se até aqui tudo bem, para um plano perfeito, a atenção teria de se desdobrar também no que fazer com bola. E, surpreendemente (convenhamos que não é fácil defender em 541 e conseguir a dinâmica de liberdade que permita unidades suficientes à criação de oportunidades), o FC Porto arranjou solução para também com bola ser algo a ter em conta nesta difícil noite europeia.



Não foi assim à toa que Luis Diaz – excelente a carregar a bola – foi o par perfeito para a festa que Matheus Uribe organizou no meio-campo (onde juntamente com Sérgio Oliveira e Fábio Vieira, roubavam, lançavam e descongestionavam). Foi o outro colombiano que deu o toque que faltava a uma festa (o não só de carregar a bola para o meio-campo ofensivo e fazer o FC Porto subir mas também criar algo de importante nesse momento) que também contou com duas filas de descongestionamento dadas pelos alas Corona e Zaidu – lançados sempre que o jogo se concentrava no meio e os portistas (com Uribe à cabeça) ganhavam a bola. E se bem nos recordamos de tudo, faltará referência obrigatória a Moussa Marega que, sozinho na frente de ataque, tentou esperar pelo seu momento preferido (o de entrar em diagonal) como também ser a primeira referência directa para segurar a bola e encontrar Zaidu ou Corona nas alas.

Arrastamentos de Marega e Fábio Vieira libertam espaço para a cavalgada de Diaz no 0-1. Oportunidade criada por roubo de bola de Uribe na linha do meio-campo



Assim, e agora cronologicamente, o FC Porto encontrou algumas dificuldades para sair nos primeiros minutos, mas a sua organização impediu quase sempre o Manchester City de criar por dentro do seu bloco. Mas à medida que o relógio foi avançando na primeira metade podemos encontrar várias exceções que contrariam a tese que o FC Porto estaria desconfortável com a redonda nos pés. Em sentido inverso encontraremos uma só chance que se opôs ao enorme jogo defensivo dos azuis-e-brancos. Foi já depois de Luis Diaz (após roubo de bola de… Uribe) carregar a bola do flanco esquerdo até à área do City e fazer o primeiro, que Gundogan e Agüero colocaram alguma dúvida na até aí sólida organização defensiva montada por Sérgio Conceição. A tabela do alemão com Agüero proporcionou-lhe uma chegada à área que colocou, finalmente, em sentido todo o plano. E apesar da incursão não ter acabado em golo, a acção de Pepe imediatamente a seguir levou o árbitro da partida a assinalar o penálti que deu o empate aos da parte azul de Manchester. Antes disso, Marega – o farejador de diagonais – obriga Walker a aliviar desde a linha-de-golo. E assim, ao cabo da 1.ª parte os 70% de posse-de-bola permitiam ao City criar menos que os 30% do FC Porto.

Tabela com Foden liberta Ferrán para o um-para-um frente a Pepe, no 3-1. Meio-campo portista já sem a mesma capacidade para fechar espaços.



Algo que demorou algum tempo a mudar na etapa complementar mas que, ainda assim, acabou por pender para o lado dos bilionários. Não por falta de ambição portista (o registo continuou muito semelhante até aos 65 minutos) mas porque há uma diferença importante neste tipo de jogos que costuma castigar não só o FC Porto mas as equipas portuguesas no geral. E essa [diferença] é já algo com barbas na discussão no pós-jogo mas que ainda não se conseguiu alterar. Por ser uma questão que só pode ser alterada pelo conjunto total de equipas da Liga Portuguesa, a falta de competitividade vai sempre provocar erros que os jogadores, domesticamente, não são obrigados a corrigir. Calhou aqui a fava a Fábio Vieira (que foi incansável sem bola e incrível a gerir os tempos e os espaços com ela) que após um mau passe foi forçado a fazer uma falta à entrada da área – a tal que permitiu a Gundogan colocar os cityzens em vantagem. E estes são erros naturais, normais, mas que os tubarões aproveitam como nenhuma equipa da nossa Liga. O que equivale a dizer que serão precisos jogos perfeitos ou, por outro lado, conseguir castigar os erros dos tais tubarões com a mesma eficácia que eles castigam os nossos – o que também não aconteceu, pois à já referida situação em que Walker desvia da linha de golo, também Uribe não conseguiu castigar uma saída-de-bola patética de Ederson na 1.ª parte.

Depois de perda de Corona, Gundogan tem finalmente hipóteses de tabelar dentro e chegar à área. Único lance da primeira metade onde a organização defensiva do Porto foi realmente testada e que acabou em penálti

E encontrando-se o City em vantagem, o FC Porto foi obrigado, pouco a pouco e alteração a alteração, a ser mais generoso nos espaços que concedia aos de Guardiola, até chegar a um 424 pressionante mas que pouco conseguiu criar. Isto porque o Manchester City sem o bafo do Dragão nas costas conseguiu a partir de então circular durante muito mais tempo – encontrando numa dessas acções o 3-1 que, definitivamente, fechou as contas de uma partida que, apesar do desfecho, levará muitas coisas boas para contar.

4 Comentários

  1. Haverá um elefante na sala de que ninguém quer falar mais frontalmente?
    O Guardiola precisa de rever ou adaptar o seu modelo urgentemente?
    Não há chama e há quezílias. Não comparável em muitos aspetos, o Mourinho começou assim também a sua travessia do deserto.

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