Klopp, Mou e Simeone pelos olhos de Donald Trump

Um país. 50 estados. ~160 milhões de votantes. 50 secretários de Estado. Supremo Tribunal de Justiça. 50 juízes. Polícia Federal. Inúmeros meios de comunicação. E no entanto não foi encontrada uma única prova sólida de que a eleição entre Joe Biden e Donald Trump foi manipulada. Não há registo de uma única prova com solidez, até porque de outra maneira algum Secretário de Estado republicano (muitos votaram em Trump e teriam interesse em que ele ganhasse) teria dado o alerta. Mas a manipulação passou também despercebida a 50 juízes e ao FBI, como passou despercebida à FOX News, por exemplo. E havendo o interesse de pelo menos 74 223 744 americanos (coisa pouca) em que Donald Trump ganhasse, nem um conseguiu usar de uma prova concreta de que a eleição foi manipulada. Recorde-se que não esta não foi a primeira vez que Trump falou de manipulação. Em 2016, na campanha, também o fez. Entretanto ganhou e durante quatro anos nunca mais se ouviu falar em manipulação alguma. Aliás, se houvesse manipulação estaria alguém em melhor posição que o próprio Presidente dos Estados Unidos para a precaver na próxima eleição? Quatro anos na posição com mais poder do país e não conseguiu evitar que o comessem de cebolada. Deve ter falhado, portanto.



A questão, obviamente, remete-nos para a conclusão de que a manipulação (a de 2016 que subitamente passou a não interessar e a de 2020 que também não interessaria se Trump ganhasse)… remete-nos para a conclusão, dizia, que a manipulação não existiu – ou que então passou despercebida às mais altas patentes americanas (parte delas republicanas). E aqui chegamos à questão principal, que é, obviamente, o que é que leva alguém a fazer isto,acriar todo um cenário conspirativo desta grandeza e absurdidade? E a resposta mais simples é, obviamente também, o medo de ser considerado um perdedor. Na sua cabeça, Donald Trump não é um perdedor, nem pode ser um perdedor. Para o ser terá o Mundo todo que estar errado e ele certo, o que em teoria não faz dele um perdedor (no seu mundinho mental, lembramos). E este é um dos problemas do pensamento positivo ou mágico que (ufa!) também está completamente entrenhado no futebol.



Já pensaram porque é que alguém se dá ao trabalho de defender um clube que, na enorme maioria das vezes nem é da sua cidade ou vila, até à exaustão? O trabalho de encontrar argumentos que provem que, sim, o seu clube é melhor do que o dos outros e não é um clube perdedor. Para o ser, obviamente, o Mundo terá todo que estar errado e a cabala terá que ser gigantesca. Tudo isto para não meter em causa que o adepto possa ser ele também um perdedor. Daí que o ego arranje, desde logo, a solução de fugir muitas vezes às evidências e sugerir, disparando, culpas externas a torto e a direito para salvaguardar o direito de ser um vencedor. Direito esse que, normalmente, vê negado na vida. E num Mundo onde não é fácil concretizarmos as nossas expectativas, a fácil escolha de um clube vencedor que tem muitas mais oportunidades de ganhar do que quem o escolheu, torna-se o escape mental para o sofrimento de que é ver as suas expectativas constantemente defraudadas pelo Mundo real. Ao menos se se for de um clube que seja melhor do que o de outro alguém, essa frustração atenua, de forma temporária, um bocadinho.



Mas este não é um problema exclusivo dos adeptos em geral. É também um problema de treinadores, comentadores e analistas. Mas, devido à sua maior inteligência e necessidade de cobrirem um campo maior do o que um só clube lhe pode oferecer, os treinadores, comentadores e analistas escolhem uma ideia mais abrangente. Uma teoria, uma ideia-de-jogo, um sistema, algo que lhes permita jogar em vários tabuleiros e cobrir maior espaço do que alguém que defende um só clube pode ter. Mais argumentos se ganham e mais inteligente se parece. Coisa que acaba quando o narcisismo e o pensamento positivo entram em cena. Afinal de contas, treinadores, comentadores e analistas também não podem ser perdedores. Daí o trabalho a que se dão para, também eles, negarem evidências.

Com a posse-de-bola, ou o maior número de oportunidades, a fazerem de maioria, os treinadores, comentadores e analistas criam a sua própria eleição, o seu próprio jogo, e a sua própria maioria. Obviamente se esses requerimentos não forem obtidos, a sua ideia nunca perderá e eles não poderão ser considerados perdedores por arrasto. Mas se esses requerimentos forem obtidos e, ainda assim, o resultado final não for o esperado, algo está mal no jogo, na relva, no balneário ou no Mundo, porque a sua teoria é vencedora, tal como eles. Vale isto para a posse, como vale para o catenaccio, até porque a desculpa favorita dos dois é a mesma: a falta de eficácia.



E o que se faz contra a falta de eficácia? Nada. Treina-se, fecham-se os olhos e espera-se pelo melhor. Ou pelo menos é o que parece, pois, por exemplo, quando o então campeão da Europa Liverpool pereceu às mãos do Atlético Madrid, pareceu não interessar que os reds conseguissem uma taxa de eficácia absolutamente ridícula, pois o enquadramento foi sempre o de ridicularizar a maior taxa de eficácia do Atlético (que lhe valeu o apuramento com o resultado combinado de 2-4). Elogiaram-se os 72% de posse da equipa de Klopp, elogiaram-se os 34 remates (11 deles enquadrados) ou os 854 passes que deram um domínio territorial tremendo. Domínio esse que resultou em dois golos marcados. E se esquecermos que esse domínio também deu em três golos sofridos, ou seja se esquecermos que à tremenda falta de eficácia também se somou uma penosa exibição defensiva, tudo está bem no reino das ideias onde a eficácia é o unicórnio, o santo graal, que permite que duas ideias antagónicas possam ser consideradas simultaneamente vencedoras e perdedoras. Isto porque a eficácia entra quase no campo do esoterismo, que é o que acontece quando não há grande explicação para o fenómeno de uma bola bater no poste e a outra beijar o cordame.

Vale isto também para o outro lado ou para, se quisermos, José Mourinho. Ontem, por exemplo, o português viu Son atirar a bola ao poste num momento em que o Fulham dominava um jogo que dava 1-0 para os spurs. Tivesse entrado e aquela bola, muito provavelmente, selaria o destino do jogo. Mais, validaria a ideia de Mourinho (basicamente defender com mais, atacar com menos para garantir maior solidez) que, com aquele golo, veria mais uma vez o seu ego abraçado pelo sentimento de ser um vencedor. Mas o problema, como foi de eficácia, garante-lhe um escape para poder fugir ao facto de que o Fulham empatou o jogo (por Ivan Cavaleiro) e que masterra.com andou bem perto de o ganhar, remetendo-nos para a estratégia do Tottenham. E essa, ou todas elas, são validadas ou invalidadas por golos. Golos esses que atribuem eficácia às acções de finalização. E se assim é, porque é que anda tudo a discutir qual é a melhor ideia e não à procura de maior eficácia? Será mais difícil obtê-la do que criar uma teoria ou sistema que nos proteja da sensação de sermos perdedores?

10 Comentários

  1. A absoluta palermice a transcender o futebol e a escorrer viscosa e peganhenta para a esfera da política. Não é preciso ser simpatizante de Trump para estar minimamente informado e saber que foram efetuadas dezenas de recontagens ordenadas por várias instâncias de tribunais estaduais e que resultaram (quase) invariavelmente em resultados mais favoráveis a Trump – algo diferente será concluir que esses erros (alguns demonstravelmente intencionais, e com penas aplicadas pelos tribunais) se traduziriam numa reversão dos resultados finais.
    Provas de irregularidades, existiram e em mais do que casos pontuais, como é possível verificar a quem se dê ao trabalho de pesquisar em fontes oficiais.

    Nem tanto ao mar…

    • São provas de fraude a favor dos democratas, NR? É que obviamente não haverá eleição sem erros pontuais. Quando muitos dos que aferiram esta como uma das eleições mais impolutas da história são republicanos, não achas estranho que não haja interesse em seguir juridicamente a narrativa de Trump?

      Acho bem mais provável que Trump nunca admita perder, e que culpe tudo à volta dele, do que todas as instituições dos US estarem conspirativamente a quererem tirá-lo da presidência. Presidência essa que seria a posição indicada para precaver ou evitar fraude nas eleições. Isto é o que eu acredito, tu estás à vontade para acreditar no que quiseres (até no impossível, como a teoria de uma fraude que envolve as maiores instituições americanas sem sequer algum bufo republicano a estragá-la)

      • Toda a tua resposta é um gigantesco homem de palha – relê o que afirmei e responde nesse contexto em vez de a uma conversa paralela com um trumpófilo imaginário.

      • Toda a tua resposta é um gigantesco homem de palha – relê o que afirmei e responde nesse contexto em vez de a uma conversa paralela com um trumpófilo imaginário.

  2. Os pedidos de recontagens e de fraude foram quase todos rejeitados pelos tribunais. Praticamente só foram efetuadas as recontagens permitidas pela lei dos estados onde existiram diferenças de votos muito pequenas (ex: inferiores a 0.5%). Não existiu nenhum evidência de fraude nem dezenas de recontagens.

    • Sim, foram efetuadas mais três dezenas de recontagens (counties) não regulamentares (as de 0,5% são-no), com evidência de irregularidade e não de fraude, que é um termo juridicamente muito preciso. E sim, a um número ainda maior (cerca de 50) não foi dada providência em tribunal.

      Toda esta informação é pública.

  3. Por amor de Deus, o ego que se deve ter para mais uma verborreia sem nexo. E mal escrita, em bicos de pés e a morder o lápis para ver se sai “interessante”. Chega pá

  4. Acreditar que Biden conseguiu ter mais votos que outros mais carismaticos e mais populares como Obama, Trump e até Hillary é simplesmente burrice.

    Mantenham a politica fora do futebol sff principalmente se for para dar opiniões desinformadas.

  5. Sigo o lateral esquerdo diariamente porque acho o todo o conteúdo extremamente relevante. Todo, exceto os textos do autor Brian Laudrup. O conteúdo (altamente biased) e a forma (completo exagero na tentativa de embelezar o texto fazem com que mensagens/ideias simples pareçam extremamente complexas. Já nem me dei ao trabalho de ler este texto, percebo apenas que o autor tenta fazer um paralelismo qualquer entre donald trump e o futebol. Enfim, nem quero imaginar…

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