A dois tempos

Verdade ou mentira? Mito ou realidade? Decidam vocês! Falo-vos da teoria que reza que, na área, se é mais eficaz a finalizar a um toque, do que a dois, ou a três. E pegando no FC Porto-Rio Ave ficamos, por certo, com alguma matéria para escalpelizar o assunto. Isto porque a entrada pressionante dos dragões não só meteu em sentido o Rio Ave como criou condições para os golos aparecerem mais cedo do que os tentos que acabaram por dar a vitória aos azuis-e-brancos. E sendo que no fim, apesar dos golos de Luis Díaz e do regressado Evanilson, Sérgio Conceição se queixou da “ineficácia” da equipa, importará perceber se, de facto, as oportunidades que o mesmo Luis Díaz e Marega desperdiçaram na 1.ª parte poderiam ter sido abordadas de outra maneira. E puxando de novo para destaque a teoria da finalização a um toque, parece ficar claro que sim, que desta vez o FC Porto seria mais feliz (e eficaz) se Díaz e Moussa tivessem abordado os dois lances de maneira a poderem finalizar de primeira. No entanto, a fronteira entre aproveitar essas nesgas não é o mesmo que pausar, achar o frame e indicar que se o remate fosse feito nessa altura a taxa de sucesso seria 100% eficaz. É que à falta de killer instinct há todo um trabalho técnico, e até mental, a fazer-se para que, de facto, os tiros de primeira possam dar os golos que aquele toque a mais não consegue dar.

No caso de Luis Díaz foi imensamente perceptível que o colombiano já trazia na mente dominar o esférico. Mas é também perceptível que abordando o lance para finalizar de primeira era perfeitamente possível – o que aumentaria e muito as chances de sucesso.



É o santo-graal para os treinadores. A eficácia é como uma borracha que pode apagar tudo o que de mal foi feito no jogo. Mas mesmo em jogos como este, onde o FC Porto fez mais do que suficiente para bater um Rio Ave ainda em obras – Miguel Cardoso pegou na equipa há dois dias e a indefinição em relação ao que conhecemos do treinador notou-se -, mas a malfadada falta de eficácia veio atenuar um resultado que a julgar pela primeira metade poderia ser mais dilatado (oferecendo aos dragões o conforto que precisam para este fevereiro que se avizinha brutal). Mas o que é facto é que nem Luis Díaz, nem Marega conseguiram aproveitar a tal nesga que os Lewandowskis, os Ronaldos, ou até (se quisermos descer à terra) a nesga que os Radaméis iam aproveitando para molhar a sopa com o emblema do Dragão ao peito.

E isto não é propriamente uma novidade para o treinador e adeptos do FC Porto. A falta de eficácia, lembramos, custou ainda há umas semanas uma maior probabilidade de o FC Porto poder chegar à Final da Taça da Liga, por exemplo. Isto porque até à entrada assombrosa de Jovane, que pintou a meia-final em tons de verde, Uribe falha um golo cantado que a poder juntar-se à eficácia atabalhoada de Marega naquele encontro, poderia ter mudado o destino do jogo. Mas como ninguém vive de ses (e o Sporting já venceu a Taça da Liga e segue em 1.º merecidamente no campeonato), tem que Sérgio Conceição arranjar forma de capitalizar as oportunidades que o FC Porto cria, para reduzir a probabilidade de escorregar onde o Sporting tem arranjando (quase sempre) maneira de marcar.

Mbemba muito longe da forma da época transacta foi copiosamente ultrapassado, oferecendo ao Rio Ave a oportunidade de abrir o marcador

Talvez não seja assim má ideia recorrer à teoria da finalização a um toque como forma de simplificar caminhos e decisões, num tempo em que as aglomerações defensivas não permitem ajeitar para ajeitar outra vez para.. aí sim se rematar à baliza. E Díaz e Marega tiveram espaço para o fazer, mas esse é um espaço que se esvai em menos de um segundo. E assim sendo requer um killer instinct que talvez nem um, nem o outro, tenham em quantidade suficiente. O que torna a questão em: É trabalhável? É possível? É possível que Díaz tivesse distinguido aquela nesga de espaço e, acto contínuo, rematado enquanto ela estava aberta? É possível que não o conseguindo agora, o possa vir a conseguir, se trabalhado, no futuro? O mesmo para Marega (que há épocas esgota a paciência dos adeptos por lances como o de ontem) que em vez de deixar a bola fugir-lhe para dominar e depois rematar, pudesse ter atacado a mesma de forma a finalizar de primeira – criando assim mais espaço e condições de sucesso.

No caso de Marega é o percurso do maliano a fugir da bola que torna impossível uma melhor finalização. Não tão perceptível como no lance com Díaz, mas ainda assim evidente o suficiente para corrigir. O passe de Corona é perfeito (perto o suficiente do defesa para o fixar e a cair em zona perfeita para o tiro), mas Marega foge-lhe deixando a bola rolar para uma zona de dois toques. Ou seja, nunca Marega, nem Díaz, se posicionaram e atacaram a bola onde ela reunia melhores condições para ser disparada para a baliza


E ainda que os golos no Dragão tivessem sido mesmo a um toque (Díaz e Evanilson) as jogadas foram construídas de forma a não ser possível outro desfecho. Já sem o guarda-redes na baliza, os golos do colombiano e do brasileiro defendem as jogadas que criam melhores condições para facturar. Essas, porém, escasseiam nos tempos das organizações defensivas evoluídas e aglomeradas. Resta pois, ao FC Porto arranjar solução para aquelas que têm de ser metidas lá dentro espontaneamente e sem rodeios – o que fará não só diferença no goal-average como no rácio vitórias/empates/ derrotas numa Liga que se vai disputar infernalmente taco-a-taco.

Os nossos Videos são criados com

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*