DENTRO DAS COISAS É QUE AS COISAS ESTÃO

Com o explodir das redes sociais, dos programas de TV acerca de futebol, colunas nos jornais, blog’s e todo o outro género de formas de expressão de opinião (legítima pela democracia em que vivemos) ouvem-se muitas vezes tons críticos em relação a inúmeros treinadores e suas Ideias de Jogo.

Pois bem, isto é um fenómeno antropossocial mais que total e por isso mesmo apaixonante pela forma como “mexe” com toda a sociedade e como a reflete. Vivemos na “Era” do “pronto” e do para “agora”. Se quisermos comer pegamos no telemóvel, se quisermos roupa pegamos no telemóvel e assim é com um sem fim de coisas. É a sociedade da pressa, onde não há tempo para que exista espaço. Queremos também rapidamente que as equipas sejam um “pronto a vestir”, que rapidamente a equipa seja aquilo que idealizamos (premissa de contra senso com a liberdade democrática) e queremos isso .

Não há perceção daquilo que é a modelação de Uma forma de Jogar, do tempo que precisamos para através da nossa Plasticidade podermos então ir de encontro ao equilíbrio entre o saber fazer (aquilo que cada jogador é) e Um Saber sobre o Saber Fazer (aquilo que queremos enquanto Intenção Prévia). Este equilíbrio é garantido por uma Intenção em Ato, uma modelação regular e ininterrupta de uma Ideia que no tempo está codificada, ou seja, aquilo que irá fazer com que haja “aculturação”, uma matriz repetida sistematicamente na sua essência.

Não por gavetas. Não por partes.

Pelo contrário, é uma construção constante de algo que está infinitamente inacabado e interligado.

 Algo que procuramos almejar, uma Utopia que nunca será alcançada, e é essa mesma distância para a Utopia que “alimenta” o Modelo de Jogo. Sem piruetas no essencial. Esse essencial é aquilo que nos caracteriza, é identificativo e identificável, é a nossa Forma. Deste modo, respeitando a inteireza inquebrantável, sem devaneios ou piruetas, iremos sintonizar o todo e todos no tempo, para que, pensem a mesma coisa no mesmo tempo. No que é indivisível e invisível iremos fazer fluir a manifestação do nosso Jogo.

Não terão que fazer a mesma coisa, mas terá que ter o mesmo sentido a nível grupal. Não queremos comportamentos, não queremos “robotizar”, queremos construir padrões de Inter(Ação). Portanto, por não ser quantificável, por não ser treinado em exercícios, será sempre o mais complicado de entender e de treinar. Desta forma, o treinador terá que viver na fronteira entre querer controlar o que é controlável e determinar o caos que nunca será “pré- visto”, mas que terá que ter resposta dentro do previsto, enquanto Matriz. Uma Forma que vive concomitantemente com as suas várias formas que dão vida a essa Forma.

Um Dinamismo que se quer dinâmico.

A complexidade que se quer quantificar, quando o segredo da sua emergência está dentro de uma simplicidade que já por si vive em propensões de inúmeras variáveis.

A complicação que se cria, desajustada da complexidade que está nas coisas aparentemente simples.

Desta forma, quando queremos treinar exercícios, muitas vezes complicados, cheios de regras e de “ses”, condicionamos a realidade do jogo, no qual não existe sentido proibido. Todos os sentidos e velocidades são permitidas e são emergentes. Quando o jogo tem inerente a si a complexidade, os timings, as relações, tem inerente a si mesmo, a imensidão do jogo. E é nele que temos que procurar respostas para os problemas que nele temos, não fora.

De facto, é na complexidade que parece simples, sem o controlo de tudo, mas com a repetição regular e com a IncorporAçao de uma Intenção, em treino e em jogo, que se vai levar a efeito o crescimento da Ideia de Jogo. Numa lógica de não linearidade crescente e decrescente o contexto tem que levar a…

Nesta simbiose que levará a uma identificação com a matriz do padrão iremos conseguir que a aquisição seja temporal. Com marcadores somáticos positivos, pois serão eles que levarão a que haja a presença de neuromodelaroes de felicidade, de aprendizagem e de bem estar que irão fazer com que haja a Somatização da Ideia e uma sentimentalidade ou homeostasia partilhada.

Escolhemos o caminho que percorremos e a forma como o percorremos. A velocidade será ou não benéfica para conseguirmos chegar mais rápido ao que nos serve de luz…

Assim, cada processo é um processo, cada equipa é uma equipa e só quem está dia sim dia sim a treinar, a repetir, a experienciar e vivenciar as entranhas é que sabe a que velocidade e em que caminho pode ir.

Que graus de liberdade pode dar e a cada jogador, e de que forma o fazer. Nem todos podem “voar” em campo, nem todos conseguem ser asas de um Boeing. É preferível chegar ao destino num avião mais pequeno do que querer voar muito rápido e cair no mar.

Porque não importa muito morrer “com identidade”, importa é não morrer. Cabe a cada um escolher como quer sobreviver nesta selva que é o Futebol de Alto Rendimento. 

Antes de criticarmos de forma gratuita e leve, deveríamos saber que “dentro das coisas é que as coisas estão”.

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