O melhor lançador do mundo e as ligações interiores do BVB – Notas de uma terça de Champions

A jornada de terça-feira da Champions League revelou-nos mais uma vez uma verdade simples do futebol: a comunicação através do passe, sob uma determinada intencionalidade, continua a ser uma das armas mais fortes para colocar o adversário em desconforto permanente. Trazemos então duas vertentes: uma individual, com destaque para exibição daquele que é, neste momento, o melhor lançador em passe longo no mundo; e uma coletiva, com as ligações interiores dos centrais como forma de jogar no coração de uma das melhores equipas do mundo.

Ter um quarterback no miolo – Toni Kroos e o Liverpool

A vitória do Real Madrid em casa ficou claramente marcada pela exibição de Toni Kroos. O alemão, aos 31 anos, está no auge das suas capacidades cognitivas (entendimento do jogo, tomada de decisão, gestão dos ritmos do jogo) e não perdeu nenhuma das capacidades técnicas (principalmente na ação técnica do passe onde é provavelmente o melhor executante de passe em longa distância no mundo), tendo feito a diferença pela sua individualidade neste jogo.

Esta capacidade de lançamento em distância, para além de colocar em permanente sobressalto a linha defensiva do Liverpool pela possibilidade de ataque à profundidade aquando dos movimentos de rutura do trio da frente (mal o alemão enquadrava, ativavam esse comportamento), foi também um problema sério para os momentos de pressão e contrapressão do Liverpool seja em organização ou transição defensiva: os reds, que gostam de colocar muitas unidades sobre a bola neste momento, foram várias vezes apanhados pela capacidade de Kroos que, atraindo essa pressão a si quando era o portador, tirava a bola da zona pressionante de forma longa para espaços onde o Real poderia acelerar o jogo com mais unidades, permitindo que o campo continuasse aberto e não houvesse elevada atração espacial dos colegas a si para serem opções de passe (comportamento que o Liverpool prefere, acumulando muitas unidades de pressão perto de forma a abafar a saída).

Ligar por dentro para acelerar – BVB em Manchester

Apesar do momento menos bom na Bundesliga e da derrota em Manchester, o Borussia realizou uma exibição personalizada levando para Dortmund uma desvantagem pela margem mínima com um golo fora que certamente não deixará Pep Guardiola descansado. Apesar de defrontar uma das melhores equipas do mundo e das principais candidatas à vitória na prova, os alemães conseguiram em certos momentos retirar a bola ao City e causar alguns sobressaltos à defesa dos ingleses. Tal deveu-se muitas vezes a uma dinâmica curiosa: montado num 1-4-3-3 em organização ofensiva, os interiores e o trio da frente instalou-se com muita frequência entre a linha intermédia e defensiva do City, resistindo à tentação de aproximar muito à construção com movimentos exagerados de apoio com objetivo de fazer a equipa respirar da pressão do City, com os dois centrais (Hummels e Akanji) a serem imensamente provocadores com bola e a procurarem muito o passe interior para estes elementos que, ao receberem, rapidamente se enquadravam para cima da linha defensiva do City e aceleravam ou comportavam-se como apoio frontal para o 3º jogador, permitindo várias situações de jogo dentro do bloco da equipa de Pep Guardiola.

Para além da necessidade dos dois centrais terem de ter capacidade para fazer essa ligação e sentirem-se confortáveis com ela (algo que só vem com a estimulação permanente em treino), os jogadores que andam entre as linhas devem estar permanentemente ativos no que toca à orientação dos apoios de forma a estarem prontos para serem apoio frontal e/ou não perderem tempo na receção para se enquadrarem para o sentido da progressão.

Sobre Juan Román Riquelme 97 artigos
Analista de performance em contexto de formação e de seniores. Fanático pela sinergia: análise - treino - jogo. Contacto: riquelme.lateralesquerdo@gmail.com

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