A revelação dos quartos – Como Bellingham escandalizou Guardiola

“Não posso acreditar, talvez ele seja um mentiroso! Ele é tão bom para só ter 17 anos, é um jogador fantástico. Houve uma altura do jogo em que ele não recebeu a bola dos centrais, a maneira como ele gritou e a exigiu significa muito para quem só tem 17 anos. Falei com o treinador dele, Edin [Terzic], que me disse que aquilo que vimos nestes dois jogos é o que ele é em todas as sessões de treino.”

Pep Guardiola, após a vitória em Dortmund.

Apesar da eliminação por 4-2 no agregado da eliminatória dos quartos de final da Liga dos Campeões, o Borussia de Dortmund deu uma boa réplica aos citizens (estando mesmo na frente da eliminatória durante algum tempo) e mostrou que, apesar da campanha cinzenta na Bundesliga, continua a ser uma equipa recheada de grande qualidade individual. Um dos principais destaques dos alemães nesta eliminatória curiosamente não foi o suspeito norueguês do costume mas sim o jovem médio inglês Jude Bellingham de 17 anos (geração de 2003), protagonista da transferência mais cara de sempre a envolver um sub-17 (o Borussia teve de desembolsar 27 milhões pelo seu concurso), já internacional A pela seleção inglesa (um dos três mais jovens de sempre a estrear-se pela primeira equipa) e que nesta eliminatória entrou para o top 10 de mais jovens de sempre a estrearem-se a marcar na competição milionária.

Alguns apontamentos desta eliminatória:

• A relação com bola singular – o traço mais distintivo, a coordenação que tem confere-lhe um reportório motor que se manifesta numa técnica muito elegante na relação com o esférico. Isto permite-lhe ter grande conforto a jogar nos espaços curtos do meio-campo, a sair facilmente de situações de drible/finta/simulação (mesmo quando não está enquadrado recorre muito à receção de ângulo aberto como solução – dá um passo em relação à bola e engana saindo para o lado contrário – como forma de se angular para o jogo) e utilizando o físico relativamente possante (1.86m) para proteger muito bem a bola nesses duelos ou carregar jogo em progressão.
• A maturidade e a criatividade de mãos dadas – esteve em grande evidência durante e eliminatória pela forma como a equipa em fase I (construção) procurava muitas vezes ligar com consigo (jogou como interior) para início da fase II (criação) pela sua capacidade criativa nas ligações em passe no último terço (começou nele o desequilíbrio no golo da 1ª mão), com o próprio, como refere Guardiola, muitas vezes a gritar exaustivamente aos colegas para jogarem nele. A maturidade notou-se até na resistência à tentação de vir em apoio desnecessariamente para, mesmo querendo muito assumir o jogo, manter-se muitas vezes nas costas da pressão do City com os apoios preparados para enquadrar e confiando nos seus centrais para lhe fazerem chegar jogo.
• A capacidade de trabalho – apesar das características criativas, não se coíbe de contribuir na fase defensiva sendo particularmente útil pela capacidade de cobrir uma grande área do terreno, o que aliada a uma perspicácia particular na ação técnica do desarme o tornaram num desconforto permanente para os médios do City. A conjugação de todos estes aspetos confere-lhe uma grande polivalência no meio-campo (apesar de se destacar mais como médio-interior, como o fez nesta eliminatória).

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