Desencaixe Tático, o 4×5 que matou Portugal em Munique

Um massacre. Assim começou a partida. Não que no plano teórico a ideia geral de juntar linhas para procurar uma intercepção no sector médio e lançar uma transição veloz na capacidade extraordinária de Bernardo, Jota e Ronaldo definirem na frente fosse um erro. Aliás o excelente golo da selecção portuguesa – Repare em como Ronaldo corta a bola numa área e a finaliza na outra, segundos depois – prova-o.

Na prática, o encaixe tático deixou espaços no corredor lateral para em superioridade ou igualdade numérica, Kimmich e Gosens desequilibrassem o jogo.

Pressing luso – Avançados com Centrais;

O pressing luso encostou Ronaldo a Hummels, e Bernardo e Jota com os centrais, deixando laterais para baterem com lalterais. O problema é que perante três na frente – Havertz, Gnabry e Muller, a restante linha defensiva era mobilizada – Raphael saía em Kimmich, e Dias, Pepe e Semedo não tinham superioridade perante o trio ofensivo alemão… enquanto no lado oposto… Gosens surgia invariavelmente sem ninguém. E se há jogadores com capacidade para variar o jogo e encontrar homem livre, esses estiveram do lado germânico. 

Desencaixe Tático sobre a última linha (4×5) que libertou Gosens

Um (des)encaixe tático que fez a selecção lusa correr, e nunca chegar atempadamente aos lances. O 4x1x4x1 em Organização sem bola, fez sempre parecer que Portugal jogava com homens a menos, tal foi a incapacidade para: 

  1. suster investidas adversárias até ao último terço – Quantos ataques parámos em zona média / alta?
  2. No nosso terço defensivo controlar as entradas para zona de finalização – Quantos ataques fomos forçados a defender na nossa grande área?
Organização Defensiva

Também na saída para a frente no nosso ataque posicional Portugal demonstrou incapacidade para poder ser efectivo. Em primeira instância a selecção de Fernando Santos procurou jogar, utilizou o seu guarda redes, que foi ligando com lateral livre, mas invariavelmente foi incapaz de manter paciência no seu processo a todo o instante e perdeu mais posses do que as necessárias a poder instalar-se no meio campo ofensivo. E sem ataque posicional, cingimo-nos aos ataques rápidos – Onde para lá do brilhantismo do golo, ainda Portugal somou mais saídas potencialmente perigosas. Curto para quem sem bola nunca foi capaz de encaixar a preceito no oponente.

Para o segundo período a troca de Renato por um Bernardo formidável no lance do golo mas extenuado por andar atras de Gosens, procurava fechar o espaço livre no corredor. Contudo, o desencaixe não era individual, mas tático e não tardou a que a Alemanha aumentasse a vantagem na … jogada habitual que chamava a linha defensiva a um corredor e entrava pelo outro.

Incapazes de pressionar alto sem ser batidos, incapazes de defender a chegada até ao último terço e em inferioridade aí (4 defesas contra 5 – Kimmich e Gosens por fora, Havertz, Muller e Gnabry por dentro) cada ataque germânico levou perigo e o sofrimento e incapacidade lusa foi acentuando-se.

Só duas opções poderiam condicionar avalanche alemã e nenhuma relacionada com troca por troca técnica.

a) Uma linha de cinco atrás se não condicionamos na frente – Seja jogando com três centrais, ou assumindo Semedo como Central, obrigando ala (Bernardo na 1a parte) a jogar como lateral no momento defensivo;

b) Pressing na frente capaz de recuperar posse – e não ficar a jogar em inferioridade no terço defensivo.

Com o jogo ganho depois de mais um (participação em golo) de Gosens, e a vencer por 4 a 1, a Alemanha iniciou preparação da fase seguinte, tirou Gosens e Havertz e deixou Portugal respirar, quando todos temíamos que o pior ainda poderia estar para chegar.

Até ao final e perante uma turma em gestão de esforço, Portugal reduziu de bola parada, viu Renato acertar no poste, mas nunca em momento algum pareceu tranquilo ou capaz de se preparar para incomodar num jogo verdadeiramente lastimável do ponto de vista tático.

10 Comentários

  1. Há um momento antes do terceiro golo alemão que mostra muito bem o que Fernando Santos quis fazer com este jogo: a Alemanha instalada no meio campo de Portugal, a trocar a bola, à espera de uma abertura, de uma oportunidade, de um momento. E Portugal completamente parado, estamos a falar de nenhum jogador português a fazer qualquer tipo de pressão,sem movimentos, sem coordenação, a ver a bola a passar, até ao golo germânico. Nisso Fernando Santos mostrou ao que se agarra, a fé, a crença, o acreditar muito. O quarto golo não foi muito diferente. Há sempre quem tenha a desculpa de que foi assim que ganhou o Euro anterior, portanto lá saberá o que faz, mas é uma vergonha uma Seleção com tanto potencial individual ser banalizada assim. Banalizada pelo seleccionador, repare-se, não pelo adversario.

    • E ninguém faz faltas, ninguém “morde”os calcanhares ao adversário, deixando-os jogar a seu belo prazer. Perguntem ao 7 alemão como devemos fazer.
      Jogadores desta qualidade (Portugueses) também têm a obrigação de saber o que está a falhar e eles próprios corrigirem a tática, quando esta não está a funcionar como estaria previsto.
      Percebe-se que FS defenda os jogadores,dizendo tantas vezes que a culpa é sua, mas todos sabemos que não é bem assim. Sofrer 4 golos e jogarem daquela maneira é inadmissível. E os jogadores sabem isso, o que certamente lhes afecta mais a dignidade e os coloca na sombra do êxito …
      E se assim é, tenham a palavra no próximo jogo, o qual no mínimo não podem perder, MAS NÃO JOGUEM COM MEDO como todos vimos…

  2. Sinceramente, não vi o jogo com atenção (não tenho interesse nesta equipa portuguesa, é um bocejo, é uma equipa de coninhas – à imagem do treinador – apesar de ser uma geração altamente talentosa e habituada a outros andamentos nos clubes). Fui vendo uns bocados e quando olhava só via uma equipa em campo. Devia ter vindo aqui o irmão do Michael Laudrup repetir aquele papel higiénico que nos deixou de manhã (ou na tarde de ontem, sei lá). Corredor central? Sim, claro, foram evidentes os passes por dentro que ajudaram a desmontar o que nunca foi bem montado mas, no fundo, são os três corredores sempre em acção. E com assertividade! É tudo muito engraçado quando se olha apenas para o resultado mas, para lá dos aspectos tácticos, também existe aqui uma questão de filosofia, de ideia de jogo geral (não apenas táctico mas sentimental, daquilo que queremos sentir e fazer sentir aos outros quando estamos em campo) que é altamente trabalhada a vários níveis, tantos nos clubes como nas selecções alemãs. Mais do que os problemas sem bola, que foram evidentes desde o apito inicial (diria mesmo patéticos), uma equipa portuguesa tão talentosa quanto a alemã não conseguiu fazer o básico nos sub-10: criar linhas de passe e utilizar o campo e a capacidade individual – já que a colectiva é inexistente – para chegar lá acima e fugir, nem que fosse um bocadito, àquelas palhaçadas de querer ganhar – por acaso até tenho algumas dúvidas sobre esta intenção – à Alemanha com um jogo de transições durante uma hora e meia. É que isto é legítimo, naturalmente, mas falha logo em lógica simples. São os actuais campeões da europa? Parabéns à prima.

  3. Ridículo Fernando Santos não ter ajustado o comportamento defensivo perante a evidência da superioridade numérica dos alemães no momento ofensivo relativamente aos nossos quatro defesas. E Santos ainda foi bafejado pela sorte ao sair a ganhar no meio do vendaval alemão. Mas não teve olhos para ajustar ( no minimo baixar Danilo para terceiro central) e o que se passou acontecei com tida a naturalidade. Amanhã vem tudo dizer que o Renato devia ter jogado de início e o Moutinho e o Rafa – e o William só estorva, etc. Felizmente os alemaes tiraram o pé do acelerador. Hoje, o engenheiro merecia despedimento por justa causa. Ridículo.

  4. É deprimente ver uma das gerações mais interessantes do nosso futebol ser treinada por um treinador tão banal como o F. Santos. Mete onze jogadores em campo e espera que tudo corra bem. Já contra a Hungria teve sorte nas substituições, já que elas, não fizeram sentido absolutamente nenhum. Neste jogo foi igual: tira um jogador e mete outro com características diferentes para fazer exatamente o mesmo que o jogador substituído. O resulto: nulo. Tirou o Bernardo, meteu o Renato, para fazer o mesmo. Resultado: golo da Alemanha por aquele lado; a seguir mete o Rafa para aquele lugar. Resultado: golo da Alemanha. Aliás, tirar o Bernardo matou o já pouco jogo de Portugal. O Bruno Fernandes é um jogador perdido no meio daquela confusão. O Bernardo parece, na maior parte das vezes, um jogador banal. A insistência na dupla william-Danilo só funciona na cabeça de F. Santos. Zero criação e o jogo a passar por todos os corredores menos pelo corredor central. Enfim… obrigado Fernando Santos, mas já chega.

  5. Em 2004, com um seleccionador longe das altas rotações europeias, não foi preciso muito para mudar a equipa. Bastou a primeira derrota para apostar nos jogadores titulares do Porto europeu. É isso que agradecemos, o utilizar-se quem está em melhor forma e em alta rotação e com confiança inabalável. Fernando Santos tem que colocar Nuno Mendes, Palhinha, Renato Sanches e talvez o André Silva. E o Pedro Gonçalves e o Sérgio Oliveira como opções a saírem do banco. Algo que não ronde isto é apenas escabroso. Uma imprensa desportiva focada nos recordes mundiais de Ronaldo, em vez de crítica constante como processo de melhoria e chamada de atenção (porque as selecções nacionais não lhe são alheias), é cúmplice de toda esta desilusão.

  6. Treinador medroso. Sucesso questionável nos anos de gloria da fruta do Porto. Campeão europeu agarrado à virgem.

    As escolhas têm pouco sentido visto o desenho táctico. BF nunca pode render tão à frente. RS, campeão de França e de volta ao rendimento fantástico visto no Benfica, banco. WC, não faz um jogo inteiro toda a época e bota, para dentro do campo a titular. Não 1, mas 2 jogos.

    Incompatíveis durante 90 mins a nivel de esquema de jogo com a Alemanha. É culpa dos jogadores? Não. É de FS.

    Sinceramente, nem na liga NOS se vê tanta miséria.

    E há coincidir com os comentários anteriores. A sério que somos ainda a selecção dos coitadinhos que não têm espaço no futebol mundial?

    Portugal tem condições para entrar em campo e dominar o jogo de qualquer selecção mundial. Só precisa de um treinador moderno com colh**s!

  7. Infelizmente, como já muitos observaram, o principal problema desta seleção é o treinador e sua insistência num futebol ultra-conservador, em que muitas das vezes as decisões táticas parecem ter mais a ver com crença e fé do que pragmatismo ou análises.

    Danilo e William Carvalho nunca deveriam estar a ser ambos titulares. Danilo passou metade da época a funcionar como central e como médio nunca convenceu ninguém no PSG; William a jogar num clube de meio tabela de Espanha foi praticamente sempre suplente. Em contraste, Palhinha foi sempre titular no Sporting, e dos melhores jogadores do campeonato português. O problema de Palhinha é ser uma adição recente ao plantel, o que implica dificuldade de apanhar as ideias todas do seleccionador…mas se as alternativas são dois jogadores que tiveram baixo rendimento a época inteira, as suas escolhas são com base crença e fé que eles vão render e não em dados concretos do que foram suas épocas.

    Depois temos os jogadores desgastados…Bernardo Silva e Bruno Fernandes são as vítimas mais óbvias disso, dois jogadores essenciais para Portugal. A época de Bernardo foi das piores que teve no Manchester City, estando cada vez mais a perder protagonismo na equipe (há quem fale da sua saída), enquanto que Bruno Fernandes jogou praticamente sempre no Manchester United, está roto. Num jogo de máxima exigência física, principalmente na 1a parte, não se percebe a inclusão destes dois jogadores, cujos indices físicos já contra a Hungria tinham estado muito abaixo. Novamente, Fernando Santos acredita que eles vão ser capazes em vez de colocar frescura.

    Já sabíamos que a Alemanha ia entrar com tudo, eram obrigados a ganhar ou poderiam ir kaput. Todos que viram o Alemanha-França viram que a França defendeu sempre na largura E profundidade, com seus laterais a travarem os laterais alemães, e até onde Griezman descaía muito para ajuda na defesa do lado direito; nos contra-ataques, rapidamente Pgoba e Griezeman criavam jogo para soltar Mbambpé, ou Benzema ganhava no físico para criar esse espaço. Os centrais alemães nunca estiveram seguros no jogo, nas laterais pouco espaço tiveram, e tanto Kroos como Gundegan pouco espaço tiveam para criar jogo, com pressão constante do meio campo francês.
    Tendo visto esse jogo, porque raio Fernando Santos não copiou simplemente esse modelo de jogo é incompreensível! Porque raio foi insistir num modelo de jogo, em que já sabemos que Ronaldo não ajuda a defender, que Bernardo Silva e Jota não são muitos bons na pressão ofensiva e pouco fizeram para travar os alas da Alemanha, e onde William e Danilo são pouco agressivos na pressão, estando sempre mais em contenção…os alemães fizeram sempre o que lhes apetecia, e nós na 1a parte fizemos 2 faltas!

    O modelo para o jogo não sei, uns falam Danilo a 3o central, e até concordo, se bem que acho que nunca treinaram tal coisa…o que acho é que é inaceitavel, Palhinha ser suplente de William Carvalho e Renato Sanches começar jogos a partir do banco…depois Moutinho mostrou que é melhor no jogo meio campo que Bruno Fernandes, mas ainda melhor que Moutinho é Sérgio Oliveira! Fernando Santos disse que na seleção não havia estatutos, jogariam os melhores…pois, o que se viu é que existem estatutos, caso contrário Danilo, William Carvalho, Bruno Fernandes e Bernardo Silva não estariam todos de inicio ao mesmo tempo.

  8. Não entendo como FS, percebendo precisamente que era necessário uma linha de cinco atrás para suster as investidas laterais da Alemanha (por isso falou em ser necessário mais um central), não recuou Danilo para central ou encostou William à direita. A situação poderia depois ser resolvida com uma substituição, Fonte ou Palhinha seriam outras opções a juntar à entrada de Renato (que aconteceu meio jogo tarde de mais), posicionando a equipa num 5-2-3, sobretudo depois de marcarmos contra a corrente.

  9. Eu até sinto vergonha desta exibição.
    Como é possível jogadores – e treinador – estarem a assistir a isto e não fazerem nada para mudar? Sim, porque aquelas substituições não foram para mudar absolutamente nada.
    Apesar de ser defensor da titularidade de Renato Sanches, não que seja ele que tenha de defender o corredor direito.
    Na minha opinião, Danilo deveria ter descido e fazer de terceiro central. Logo aí soltava os laterais para defender o Kimmich e o Gosens. Mas pelo que entendi do jogo, o Danilo e o William andaram a marcar-se um ao outro o tempo todo.
    Isto parece futebol amador.
    Vá-se lá entender o que se passou na cabeça de Fernando Santos!
    Mas como disseram – e bem – num comentário aqui, Fernando Santos é fé e crença: “Bora defender que depois o Ronaldo resolve…”

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*