Adivinha quem voltou

white corner field line on artificial green grass of soccer field
Dois pontos prévios.
i) O Levski Sófia pode ter parecido um docinho. É certo que não é uma equipa competente. Todavia, não duvide que é bastante superior a dois terços das equipas da primeira liga portuguesa.
ii) Por vezes, resultados desnivelados sucedem, só porque sim. Porque em determinado dia se esteve mais feliz na finalização. Sem que isso traduza necessáriamente uma alteração no jogar da equipa. Essa foi a razão que me levou a rever a gravação do jogo. Procurar confirmar diferenças substanciais na tendência de jogo do Sporting.
E provou-se. A diferença foi tão grande quanto o resultado demonstra. A tradicional saída da defesa para o ataque tão prevísivel e tão fácil de defender (bola no lateral, que passa para o extremo, indo desmarcar pelas costas na esperança de receber a bola mais à frente para cruzar para a área) do Sporting dos últimos tempos, não foi utilizada mais de duas, três vezes.
As saídas para o ataque passaram a ser feitas numa primeira instância pelo corredor central. Do central, a bola saía sempre para um dos três médios centro. Ao que se seguia diferentes comportamentos, dependendo do médio.
Zapater jogou mais simples (procurava mais Matias ou Maniche). De forma intermitente recorreu ao passe longo. Pouco feliz nesse aspecto, todavia. Maniche exagerou nos passes longos. Demasiadas vezes mal sucedido. E Matías foi o homem do jogo. Foi dos seus pés que a saída defesa ataque saiu de forma mais fluida e assertiva. Essencialmente pela sua decisão de trazer a bola na direcção do corredor central e pela primazia pelo passe curto, procurando à sua direita Postiga (que baixava e bem, no campo, servindo de apoio frontal), ou à esquerda Salomão, ou Evaldo.
Uma das grandes vantagens de sair pelo corredor central, é que mesmo que o adversário consiga pela concentração tapar o caminho para a baliza, forçando a opção pelo passe para o exterior (corredor lateral), este quando sucede, encontra o lateral ou o extremo, livre de oposição e com bem mais tempo para receber e enquadrar.
Curiosa também a boa opção pela mobilidade entre lateral e extremo, que resultou demasiadas vezes na forma como confundia o adversário. Quando Matías baixava e recebia a bola (sempre entre o corredor lateral esquerdo e o central), Salomão baixava também um pouco para receber a bola (sobre o lado esquerdo de Matías), trazendo consigo o lateral direito, ao mesmo tempo que Evaldo subia no relvado aproveitando o espaço libertado pela movimentação de Salomão. Relembre que defrontando equipas que centram o seu processo defensivo nas marcações individuais, os movimentos de mobilidade são absolutamente decisivos.
Notas individuais:
– Matías. Por tudo o que foi referido anteriormente;
– Postiga. O Sporting voltou a jogar com onze. O avançado não serviu somente para aparecer em zonas de finalização. O segundo golo nasce de um apoio frontal de Hélder Postiga, que com o corredor central ocupado solicitou Simon na direita. No terceiro assiste Salomão. O quarto golo é da sua autoria. E curiosamente é um lance onde nem sequer decide de forma assertiva. A jogada nasce novamente nos pés de Matías, que serve Salomão. O jovem tabela com Postiga e preparava-se para aparecer isolado na cara do guarda redes adversário, assim recebesse a bola. Importante perceber que a decisão de rematar de tão longe, ao contrário da opção mais correcta, que teria sido colocar Salomão numa situação de 1×0, não será alheia ao facto do jogo estar ganho e de, por certo, haver um normal sentimento de que havia que corar uma boa exibição com algo que fosse mais agradável aos olhos do público;
– Maniche. Não tem a mesma capacidade do colega do lado, e abusa demasiadas vezes do passe longo, que mesmo que bem sucedido, pode não trazer nada de novo. Contudo, mostrou-se bastante dinâmico. Beneficia imenso por ter um médio mais defensivo em campo, isto porque tem facilidade em aparecer nas imediações da grande área adversária;
– Simon e Salomão. Excelente a decisão de trazer a bola para o corredor central de todas as vezes que a recebem. Simon bastante melhor, pois foi sempre capaz de dar seguimento às suas jogadas. Menos bem Salomão. Demasiados ataques perderam-se nas suas botas. A primeira parte foi catastrófica. Porém, com a confiança de ter feito um golo, incrementou bastante a sua prestação;
– Evaldo. Em termos individuais foi um dos grandes beneficiados pelo facto de a bola deixar de sair pelos seus pés. Sem a responsabilidade de ter de iniciar a saída defesa-ataque, onde a sua pouquíssima técnica o expõe ao erro, Evaldo apareceu no momento ofensivo numa fase mais tardia. Quando recebia a bola, estava já bem próximo da área adversária e esta vinha do corredor central. Com tempo e espaço para o fazer, parece logo um jogador diferente. A sua boa capacidade física permitiu-lhe aparecer inúmeras vezes solto no corredor lateral. Infeliz nos cruzamentos, todavia.

P.S. – A propósito do golo de Postiga. Muitos de vós irão garantir que quando se marca um golo, é sempre porque a opção foi boa. Não é assim. A resposta está aqui. Pelo que não debaterei sequer esse assunto. Quando se decide bem, somos felizes mais vezes. Quando se decide mal, menos. Mas, tal não significa necessáriamente que seremos sempre felizes quando a decisão for boa, ou que uma má decisão esteja sempre condenada ao insucesso.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

10 Comentários

  1. PB,

    não revi o jogo mas pelo que pude ver durante a partida, pareceu-me que – apesar do 4-4-2 clássico do Levski – a bola raras vezes entrou nas zonas 9 e 10 e que os movimentos de apoio do MF14 eram de aproximação aos dois médios, ainda em pleno meio-campo.

    Como para todo os outros jogos do Sporting, a bola quase nunca entrou nem na vertical, nem na horizontal, nem na diagonal na zona 10. Sempre que entrou, foi transportada (sobretudo pelo SV77) e o jogo continua a depender exclusivamente de iniciativas de 1×1 na ala.

    Este Sporting faz-me doer a alma. Alguns sportinguistas também, quando comparam o SV77 ao Balakov. É como comparar o Rui Costa com o Poborsky. É ridículo. Mas – e aqui deixo o meu reparo – não percebo como se podem deixar aqui tantos elogios a um jogador que decide quase sempre mal e que é facílimo de defender (basta dar-lhe a linha que ele é incapaz de centrar com o pé direito).

    Na 2ª-feira vou tentar contar o número de vezes que o SV77 domina a bola em direcção à baliza. Para ver se este 1º princípio "No momento da recuperação da bola o jogador deve orientar-se para a baliza adversária" se encontra presente pelo menos uma vez…

  2. Ministro, há algo no teu comentário que me tá a escapar…

    PLF, procura nas etiquetas pelo Vukcevic.

    A bola entrou na zona à frente dos centrais mais vezes do que as que tu pensas (acho eu). Mas, talvez não tantas quanto as q deveria.

  3. Queria deixar a minha nota de concordância em relação ao Vukcevic. Não é um jogador que decida particularmente bem, nem que dê sempre boa sequência à posse, nem que seja forte nos momentos defensivos do jogo. Os dados que recolhi (mas não apresentei) no jogo com o Nacional indicam isso mesmo.

    Simplesmente, estando à direita, é um jogador que ganha imensa "baliza". Vem para dentro, abre o ângulo e consegue cruzar muitas vezes e rematar outras, fazendo-o com grande qualidade (porque a tem). Por isso, consegue ser o jogador que mais aproxima o Sporting do golo nesta altura, aparecendo como uma solução individual para um problema colectivo que o Sporting há muito revela em se aproximar do golo.

    E revela, sobretudo, porque está mal trabalhada em termos de apoios no flanco. O Sporting tenta quase sempre canalizar o jogo para os corredores, mas raramente tem mobilidade suficiente para dar mais do que 1 apoio ao portador da bola quando este se aproxima da área.

    Isso foi muito visível, por exemplo, frente ao Benfica, e aí está a principal explicação para incapacidade do Sporting em tirar aproveitamento do maior tempo de posse de bola que teve no jogo. Não foi pela opção de César Peixoto (obviamente!), mas sim por esta incapacidade do Sporting.

    O problema tem a ver com uma questão de filosofia do modelo, que me parece pouco correcta. O Paulo Sérgio acredita muito no cruzamento (daí ter pedido o "pinheiro"), e por isso fixa os avançados na zona central e não lhes dá muita mobilidade no último terço. Por exemplo, Saviola tem uma acção completamente diferente no modelo de Jesus, dando uma qualidade muito maior às acções colectivas quando elas chegam a estas zonas.

  4. Caros,

    Concordo com as nuances tácticas alteradas, que o Sporting ganha sempre que o evaldo não é chamado a dacidir o passe ou não de ataque, mas… os jogadores são os mesmos… vimos alguns a correr mais (Zapater), também voltámos a ver o maniche (mesmo insistindo em passes longos é uma diferença monumental para o André!). O Maniche com um tipo ao lado que sabe defender, e sabe que defender não é só recuar, já pode aparecer em zonas onde ele não poucas vezes é decisivo.

    Uma nota para a selecção:
    – Deco desmonta Carlos Queirós e põe a nu algumas coisas que andaram por ali à solta em àfrica. Não digo que o brasileiro naturalizado seja um santo, mas mais uma vez se vê que Queirós não tinha a minima condição para treinar a selecção: CQ queria deco dali para fora, e Madaíl não deixa?? Meus amigos, eu metia a viola no saco mal aterra-se em Portugal.

    Grande abrç

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