
“Alguns de vós, e bem, recordaram as parecenças com João Moutinho.
Comparando-os. Perceba que é uma tarefa quase hercúlea. Comparar o melhor médio português, com o melhor médio português, dará seguramente azo a diferentes opiniões e interpretações.
Com Moutinho eu ia para a guerra. É o jogador perfeito. Com bola, sem bola. Cem por cento fiável. Sabemos que jamais nos falhará. Sabemos que aquele esforço extra para garantir uma qualquer cobertura será feito. Com onze Moutinhos, sei que tudo o que idealizar estará no campo, assim eu o saiba transmitir. Com onze Moutinhos sei que se as minhas ideias forem boas, vencerei, porque tudo será feito “by the book”. Sem bola ocupará o espaço como eu pretendo. Com bola sairá tudo tal como treinámos. Quase mecânico, diria. Com Moutinho iria até ao fim.
Mas, o João que é o melhor médio português, não me ensinará nada. Interroga-me, eu respondo. Trocamos ideias e no relvado confirmaremos que se eu tiver qualidade para lhe solicitar o que lhe devo solicitar, juntos iremos no bom caminho.
O André, que é o melhor médio português é diferente. Não me falhará defensivamente. É inteligente e sabe perfeitamente ocupar o espaço. Sem bola o seu comportamento será tal e qual eu pretendo. Mas com bola é diferente. Acredito que na maioria das vezes consiga ver e executar o que pretendo. Outras, tomará decisões diferentes das minhas. Daquelas para as quais por vezes o tento formatar. Todavia, não me zango com ele. Nunca. No final percebo sempre que o caminho que escolheu era melhor que o que eu próprio idealizei. Interrogo-o, mas o André não tem respostas. Não sabe porque temporizou, porque conduziu na direcção da oposição apenas para os atrair à bola para em seguida rodá-la por outro lado. Não sabe. As coisas saem com a naturalidade dos predestinados. Com o André eu aprendo. Há opções menos óbvias mas mais interessantes que as que me surgem na mente.
Quando o Moutinho marcar um auto golo, penso na pouca sorte que teve. Colocou mal o pé na bola. Acontece a todos e se há quem não mereça ter tal azar é o João. O André é diferente. Porque vê mais além, no dia em que introduzir a bola na sua própria baliza, interrogar-me-ei. Porque o fez? O que o levou a tal? Será que crê que a equipa precisava de sofrer um golo para espevitar?
O que os separa? Criatividade.”
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