
No maravilhoso golo do Valência sobressaem imensas virtudes no gesto técnico de qualquer um dos jogadores. É porém, pela tomada de decisão que o lance assume o brilhantismo e o sucesso que tem.
Em Rodrigo não foi só a recepção. Foi a decisão de levar para fixar a linha defensiva, chamá-la atrás para jogar entre linhas. Colocar a bola no corredor central de frente para a linha defensiva adversária. Quantos na mesma situação iam para cima do lateral, driblariam para a linha e cruzariam? Reduzindo desde logo para níveis assustadoramente mais baixos a probabilidade de sucesso do lance.
André Gomes decide bem e executa melhor. Mas quanto da decisão do lance passou pela mente de Alcácer? Praticamente tudo! Uma percentagem elevada de avançados centro nunca pediria aquela bola no pé. Mas sim para a ruptura (pedido um passe mais vertical a fugir da direcção do poste esquerdo da baliza adversária) para finalizar (que seria em condições suficientemente interessantes para fazer golo, mas ainda assim, a obrigar a uma rotação e a rematar com ângulo mais fechado).
Alcácer ignorou a notoriedade própria pelo sucesso colectivo. Jogou com as probabilidades. Tinha boas chances de movimentar para ser ele o autor do golo, mas sentiu que as probabilidades da sua equipa fazer golo subiriam se ele próprio se afastasse do golo, pedindo a bola em apoio.
Este tipo de decisão não revela só inteligência e qualidade. Revela também altruísmo. Não conhecendo o avançado espanhol, a certeza porém, de que só porque deu dois passos para a direita enquanto gesticulava para receber no pé, e não dois para a esquerda a pedir na ruptura, passarei a segui-lo.
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