
Depois de setenta e cinco milhões, e de um arranque em grande estilo, Van Gaal parece começar a perceber as limitações da antigo extremo do Benfica. É um jogador fortíssimo a conduzir a transição ofensiva, pela facilidade com que se livra da contenção, e velocidade de condução da bola. Tem atributos técnicos interessantíssimos, mas é mais um que vê a qualidade do seu jogo limitada às acelerações de que vive. É um extremo como Jesus gosta. Desequilibra com espaço, explode sem temporizar, joga na vertigem.
“Ele teve muito pouco espaço e é um jogador de fintas, mas às vezes não se pode fintar e é necessário fazer passes. E o Di María não é um futebolista que queira passar a bola quando ela lhe chega aos pés”
“Nesta partida, a equipa precisava de fazer um jogo de passes e não de dribles. Por isso é que ele perdeu a bola tantas vezes. Isso não foi nada bom para o equilíbrio da equipa”
O que Van Gaal critica em Di Maria e o que lhe valeu tantos pontos no início estonteante do argentino, quando tudo saia bem, chama-se tomada de decisão. Chama-se jogar de acordo com o contexto. Chama-se perceber quando, e como, é que se deve colocar os fantásticos traços individuais ao serviço do colectivo. Di Maria, não percebe que com pouco espaço deve utilizar os colegas para progredir, para aproveitar outras zonas do campo menos povoadas. Não percebe que, com pouco espaço a margem de sucesso do seu jogo (drible) diminui de forma drástica. E com isso parece ter prejudicado a equipa de tal forma, que leva o seu treinador a fazer tais críticas.
Os especialistas dirão que o treinador deve preparar a equipa para as perdas de bola do argentino, porque as suas acções individuais mais tarde ou mais cedo acabam por beneficiar o colectivo (aquilo que se diz sobre Jesus, com Sálvio e Gaitan). Eu digo que nenhum colega é capaz de correr tão rápido quanto eles, para que quando ficam atrás tenham possibilidade de acompanhar quem acelera constantemente desta forma. A equipa recupera a bola, solta neles, eles vão para cima sem dó nem piedade, e os restantes colegas ainda a tentar adoptar o melhor posicionamento face ao novo contexto e esse mesmo contexto se volta a alterar, por mais uma perda de bola. E mesmo que conseguissem, valerá pedir aos outros sete o quadruplo do desgaste a que estão habituados, para proteger tais acções? Ou será que os jogadores em questão deveriam ter obrigação de perceber o contexto, temporizar, esperar que a equipa chegue e crie uma rede de apoios (coberturas) que permitam uma recuperação mais eficiente das acções de risco? E existindo essa possibilidade, como é que se ensina um jogador com 15 anos de sucesso em cima de uma forma de jogar, que há mais para lá do que sempre fez com o seu futebol?
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