
– O das outras equipas. Sem jogadores de qualidade que sobrem, ficam literalmente com os que ninguém quer. Têm de fazer verdadeiros milagres para formar equipas, e pegar até em quem não tem tanto gosto pelo jogo para conseguir preencher todos os escalões. No máximo conseguem juntar dois jogadores de qualidade (para o escalão em questão, no momento em questão). Mesmo os que estão no espaço geográfico do clube (residência, escola) preferem ir para os grandes.
Disso resulta o desnível verificado nas provas oficiais das respectivas associações de futebol do país. Basta olhar-se para a classificação de cada campeonato, e perceber-se que os grandes têm uma média “impossível” de golos marcados, resultante das diferenças que existem entre os jogadores dessas escolas, e o dos jogadores que os outros não conseguem ter. As diferenças de resultado nos jogos são de dez golos para cima.
Agora coloque-se você na posição dos pais. Ganhar todos os jogos por goleada, ou perder a grande maioria por goleada? A escolha parece-me lógica. O Maldini relata-me que ele (que tem um menino a jogar num clube grande) não acha graça nenhuma aos jogos que vai ver. Nem os pais. Que ele até tem preguiça de levar o miúdo todos os dias de manhã aos jogos, por já saber o resultado. Os pais dos miúdos da equipa dele já nem festejam os golos… Mas a minha preocupação não é com o Maldini, nem é com os pais. É o desenvolvimento das crianças que me importa. O que aprendem as crianças quando ganham um jogo por 10-0? Que competências é que eles desenvolvem num jogo tão desnivelado quanto esse? Semana sim, semana sim, o mesmo resultado… E os que perdem pelos mesmos números todas as semanas?
As associações de futebol podiam tomar algumas medidas no sentido de zelar pelos interesses dos jovens jogadores. Dos futuros craques que ali começam. Mas para o fazer, devem perceber que para os jovens evoluírem tem de haver competição. Eles devem ir para o jogo competir. Devem ter dificuldade para conseguir o resultado, porque sem dificuldade não há evolução. Poder-se-ia avaliar um conjunto de normas (como campeonatos de elite, ou redução do número de equipas/jogadores inscritas/os por cada clube), que vão contra os interesses financeiros dos clubes e das associações. Mas há regras que podem ajudar a mudar o jogo sem tocar em tais interesses, se quem pensa e trata do futebol de formação estiver aberto à mudança. Na Noruega existe uma regra no futebol das primeiras etapas de formação, que dita que quando a diferença no marcador é superior a 3 golos (3-0, 4-1, 5-2, etc…) a equipa que ganha passa a jogar com menos um jogador em campo, até se verificar (ou não) novo nivelamento do resultado (diferença de apenas dois golos). Com uma regra simples garantem algumas coisas:
– Garantem um estímulo competitivo mais adequado aos jogadores menos evoluídos;
– Garantem um estímulo competitivo mais adequado aos jogadores mais evoluídos;
– E com a descentralização garantem um contexto mais rico e de maior competitividade para todos os jogadores, e com isso uma maior evolução dos mesmos (que é afinal o objectivo de todos);
Simplesmente genial, não acham?
No futebol de sete onde existe maior probabilidade de se chegar a resultado avultados, pelas dimensões do terreno, seria interessante uma regra deste género, ou não?
PS: Não confunda o catalogar de jogadores (grande qualidade/os que ninguém quer) com um preconceito para os miúdos. Com o dizer de: este chega para isto, aquele nunca vai chegar. Existem, de facto, diferenças técnicas e físicas marcantes que fazem desequilibrar os jogos nestes escalões, sobretudo quando uma equipa tem 15 jogadores de grande nível técnico e físico para a idade. Por aqui, entende-se que essas diferenças se reduzem com o tempo. Por aqui sabe-se que em muitos, muitos, muitos casos os jogadores que estão na frente naquele momento são ultrapassados por alguns que não davam um pontapé na bola até então. Mas causa-nos transtorno e depressão ver tanto talento em fases precoces ir pelo cano, por nada…
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