
A tomada de decisão continua a ser um bicho de sete cabeças. Para os mais incautos continua a ser complicado perceberem sequer o que é, quanto mais de que forma se expressa. Não importa quantas vezes Zidane explique que o seu futebol estava todo na cabeça. Haverá sempre os incapazes de perceber a complexidade do jogo que nunca lá chegarão.
Num momento em que o jogo é do ponto de vista técnico e físico, cada vez mais equilibrado (longe vão os tempos em que só os grandes clubes treinavam), as tomadas de decisão surgem como um dos traços mais decisivos no jogo moderno.

Cada situação de jogo tem uma forma mais eficiente de ser resolvida. Tal não significa que optando pelo pior caminho, se estará sempre condenado ao insucesso. Tão pouco que, optando bem, se será sempre bem sucedido. Significa somente que, optando bem, está-se sempre mais próximo de ser bem sucedido.
Exemplo simples. Numa situação de 2×1, o portador da bola deve progredir com a bola no pé, no sentido da baliza, soltando a bola, no timing correcto (bem próximo do defesa), para que a bola saia para as costas do defesa. O passe deve ser efectuado para o espaço (e não para o pé do colega, por forma a que este não trave a corrida). Ou seja, de uma situação de 2×1, pretende-se passar para uma de 1×0.
Se em dez situações de 2×1, o portador da bola (no momento inicial, antes do passe), for capaz de as resolver dessa forma, provavelmente a sua equipa fará 8,9 golos, ainda que nenhum marcado por si (uma vez que acabará por fazer o passe para o colega de equipa).
Se na mesma situação, o portador da bola optar por driblar o defesa, e mesmo partindo do princípio que os seus traços individuais são bastante bons, provavelmente, em dez lances, marca 4,5 golos.
Os jogos em que, optando mal, se chega ao golo, são óptimos. Porém, em termos globais, a equipa sai prejudicada. Os 5 golos marcados dão notoriedade aos olhos do comum adepto. Mas, não são o que de melhor poderia ter dado à equipa.
Quem toma as melhores decisões a cada momento, tem a sua equipa, sempre mais próxima do objectivo (marcar, não sofrer, ganhar). Mesmo que não obtenha tanta notoriedade.
A situação descrita é uma situação de finalização, por ser de mais fácil compreensão. Porém, é importante perceber-se que as decisões se aplicam em todas as situações do jogo. Por mais banais que lhe pareçam. É que, para se chegar a uma situação de finalização, há todo um trabalho prévio, tão importante quanto o último momento (que nunca surge, quando a fase que antecede a finalização não é eficiente).
Numa equipa desorganizada, talvez seja interessante ter jogadores que, jogando só para si, sejam capazes de, tempos a tempos, criar algo. Num colectivo que se pretende forte, tal não faz sentido.
Tome por exemplo o lance que culmina com Carrillo a sofrer penalty. Situação de vantagem numérica abismal. Se o portador fosse Messi e não Adrien em 100 jogadas, Carrillo apareceria em 1×0 contra o guarda redes em 100. Adrien toma uma má decisão que impede o seu colega de fazer golo. (A imagem é retirada do blog Futebol Táctico).
Percebe-se o bicho de sete cabeças que é este jogo quando alguém tem a capacidade de perante um lance destes escrever o seguinte:
O futebol é maravilhoso, mas na verdade envolve mesmo o uso da massa cinzenta. E quem não o faz não só não consegue entender o jogo como se expõe ao ridículo.
Engane-se porém se pensa que tudo nas análises que se vão encontrando pela internet são lixo.
Isto é ouro! Diz-se por aí que o Paulo Oliveira não rouba a carteira aos colegas, e como tal o Ronaldo está a um passo de autorizar a sua entrada no grupo…
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